A equipe do LABMOB/UFRJ apresentou dentro do evento VeloCity Rio 2018 — considerada a principal conferência internacional de planejamento sobre mobilidade urbana e bicicleta no mundo — os resultados do estudo a Economia Bicicleta no Brasil. A pesquisa, que conta com a parceria técnica de pesquisadores do Observatório das Metrópoles, fez um levantamento inédito sobre o mercado de bicicletas e os benefícios do seu uso para a sociedade. A exposição do estudo na Conferência VeloCity Rio 2018 foi uma oportunidade de apresentar os dados para os pesquisadores estrangeiros e ampliar o debate em prol do uso dos transportes ativos no Brasil.
A VeloCity é considerada a principal série de conferências internacionais de planejamento sobre mobilidade urbana e bicicleta. Criada pela Federação Europeia de Ciclistas (European Cyclists’ Federation – ECF), tem o objetivo de incentivar o ciclismo como parte do dia a dia no transporte e no lazer.
Dentre os objetivos da VeloCity estão:
— Distribuir conhecimentos de alta qualidade, novas informações sobre ciclismo e planejamento de transporte no nível internacional.
— Cidades com boas políticas de ciclismo mostram os benefícios que estas trazem aos seus cidadãos, empresas e outros através da publicidade gerada pela conferência.
— Incentivar o reconhecimento do ciclismo como um meio de transporte eficiente, saudável e respeitador do meio ambiente e promover o seu maior uso.
— Integração do planejamento do ciclismo nos transportes, planejamento do uso da terra e outros setores políticos relevantes onde o ciclismo desempenha um papel importante.
— Buscar o envolvimento de todas as partes interessadas relevantes.
VELO-CITY NO RIO. Chegando à América do Sul pela primeira vez, a VeloCity 2018 Rio se concentra no tema principal Acesso à Vida, vinculado ao objetivo geral da inclusão do ciclismo. Com base em tópicos de conferências anteriores, como Saúde, Infraestrutura, Tecnologia, Governança e Dados, a VeloCity 2018 Rio explorou a fusão desses discursos através da inclusão do ciclismo.
ECONOMIA DA BICICLETA NO BRASIL
A equipe do LABMOB (PROURB/UFRJ) — composta por Victor Andrade, Luiz Saldanha, Marcela Kanitz, Maisa Barbosa, Erik Rego, Pedro Paulo Bastos e Juciano Martins Rodrigues — apresentou na quarta-feira (13 de junho) os resultados do estudo A Economia da Bicicleta no Brasil no painel “Scientists for Cycling: Economic benefits of cycling: Case studies from Brazil”.
A pesquisa contou com a Coordenação Geral do professor Victor Andrade, do LABMOB/UFRJ; e do professor Juciano Martins Rodrigues, IPPUR/Observatório das Metrópoles. A coordenação executiva ficou a cargo do pesquisador Pedro Paulo Machado Bastos. Já o professor Marcelo Gomes Ribeiro (IPPUR/Observatório das Metrópoles) colaborou como consultor.
De acordo com Juciano Rodrigues, pesquisador do Observatório das Metrópoles e um dos coordenadores do estudo, entre os resultados obtidos, merece destaque o quadro conceitual e metodológico desenvolvido ao logo da pesquisa. Para ele, cada temática incluída para a apreensão do Complexo Econômico da Bicicleta pode constituir em si um tema de pesquisa. Com isso, ainda de acordo com Rodrigues, abre-se uma nova agenda de pesquisa, com várias frentes de investigação. Ele cita o Cicloturismo, que, enquanto atividade econômica, carece de maiores investigações ou até mesmo de um sistema de dados e indicadores que dê conta de sua abrangência e complexidade.
AS DIMENSÕES DA PESQUISA
A pesquisa “Economia da Bicicleta no Brasil” foi desenvolvida a partir da concepção de cinco dimensões analíticas através das quais a Economia da Bicicleta foi observada: (Cadeia Produtiva, Políticas Públicas, Transporte, Atividades Afins e Benefícios) e distribuídos em 22 temáticas associadas a cada um desses grupos.
A dimensão Cadeia Produtiva revelou, entre outros achados, que o Brasil produziu mais de 5 milhões de bicicletas, com receitas de R$ 728.320 milhões, e remuneração de mais de R$ 14 milhões de reais em empregos no setor fabril em 2015, segundo dados do IBGE. Quando analisamos a Economia da Bicicleta pela ótica das trocas comerciais com o exterior, percebe-se que a demanda interna parece ser o principal motor da Economia da Bicicleta no Brasil. Não obstante o pouco dinamismo nessa temática, é de se destacar o valor total de peças e acessórios exportados, que supera o de US$ 1.400 milhões, segundo dados do SECEX/MDIC (2017).
No setor do comércio, por exemplo, houve aumento tanto no número de estabelecimentos quanto no de empregos no ramo atacadista, que gerou cerca de R$ 15 milhões de receita em 2016. Por outro lado, verificou-se estabilidade nesses mesmos indicadores correspondentes ao ramo varejista, em períodos de crise econômica, inclusive. Estimou-se que o Brasil teria aproximadamente 13.783 pessoas empregadas no varejo, com uma massa salarial total de R$ 4.583.908,12. No Aluguel, foram identificados 99 estabelecimentos que prestavam o serviço de aluguel de bicicletas, distribuí- dos em 24 capitais brasileiras, com destaque para Rio de Janeiro e São Paulo.
A dimensão Políticas Públicas indicou a participação econômica da bicicleta em seu tratamento na esfera pública de forma tanto direta como indireta. Estimou-se que o poder público tenha investido R$ 1.200.695.380,00 para a implantação de 3.008,5 km de rotas cicláveis nas 27 capitais, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, que, juntos, representam 45% do total investido no Brasil.
Já os investimentos públicos em parcerias públicas na implantação de Infraestrutura de Estacionamento somam R$ 754.200,00 referentes a 4.075 bicicletários e paraciclos presentes em sete capitais brasileiras – Aracaju, Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
O Sistema Público de Bicicletas Compartilhadas brasileiro, por sua vez, indica que 13 das 27 capitais brasileiras já contam com seus próprios sistemas, com destaque para Nordeste e Sudeste. Ao todo, esses 13 sistemas possuem 906 estações com 7.861 bicicletas disponíveis. Além disso, um dos estudos de caso aponta que uma empresa operadora de 11 sistemas públicos de bicicletas compartilhadas é responsável por 208 empregos e tem receita média anual de R$ 5.800.000,00.
A dimensão Transporte avaliou a participação da bicicleta a partir do modo como é utilizada na esfera doméstica (Uso Pessoal) e na esfera comercial (Ciclologística). A realização de estudo de caso com cinco famílias na região metropolitana do Rio de Janeiro estimou que a economia no orçamento de uma família de classe A que usa a bicicleta como meio de transporte no lugar do Uber, por exemplo, pode chegar a R$ 10.032 ao ano. Também se verificou que R$ 12.831,68 é a economia média no orçamento de uma família em que ao menos um dos membros trocou o carro pela bicicleta. Além disto, 12.072 km é a distância que uma família de classe D, formada por três pessoas, pedala anualmente.
Já a Ciclologística mostrou que o uso da bicicleta apresenta números na faixa dos R$ 3 milhões de faturamento para empresa especializada em bike courier. No caso da área comercial do Bom Retiro, em São Paulo, são feitas 90 entregas de bicicleta e triciclo por hora.
Na dimensão Atividades Afins, verificou-se que em 2016 existiam 55 organizações e coletivos atuando em prol da mobilidade por bicicleta no Brasil, recebendo valor em torno de R$ 5,1 milhões em receitas provenientes de programas de financiamento público e privado. No campo científico, entre 2007 e 2017, foram levantados 124 projetos de pesquisa com a temática “bicicleta”, envolvendo 270 pesquisadores e R$ 3.672.716,00 em financiamentos. No Cicloturismo, apresentamos a operacionalidade do Circuito do Vale Europeu, que conta com 287,1 km de roteiros cicláveis distribuídos em nove municípios do estado de Santa Catarina.
O Cicloempreendorismo abordou os casos de dois empreendimentos perfilados como bike cafés no Rio de Janeiro e em São Paulo, cujos investimentos iniciais variaram de R$ 90.000 a R$ 700.000. Em Eventos Esportivos, apontou-se que o custo total estimado em eventos realizados no Brasil seja da ordem de R$ 17.162.635,00 e o total de 37.555 participantes por ano. Na dimensão Benefícios, aferimos que o uso da bicicleta poderia evitar uma taxa de emissão total de 1.879.488 toneladas de CO2 para automóveis particulares e 17.364.672 para ônibus da frota diesel ao ano. Respectivamente, esses valores correspondem a 0,08 e 0,76% dos 2,278 bilhões de toneladas brutas emitidas no total pelo Brasil e foram contextualizados na temática Clima e Energia. Em Saúde, recorremos a uma revisão bibliográfica para indicar os impactos da utilização da bicicleta na melhoria da saúde pública nacional.
A pesquisa contou com o apoio da Aliança Bike, do Banco Itaú e do Instituto Clima e Sociedade.
Acesse o site da pesquisa “A Economia da Bicicleta no Brasil” e veja os dados completos!
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