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Crédito: ONU/Reprodução

Qual é o diferencial de renda entre brancos e negros dentro de uma mesma região metropolitana? Qual situação coloca o indivíduo em maior desvantagem: a cor da pele ou o local de residência? Neste artigo Leonardo S. Silveira e Jerônimo Muniz comparam os salários de brancos e negros no centro e na periferia de seis RMs utilizando diferentes recortes geográficos.

O artigo “Variações intra e intermetropolitanas da desigualdade de renda racial”, de Leonardo Souza Silveira e Jerônimo Oliveira Muniz, é um dos destaques da Revista Cadernos Metrópole nº 31.

 

Abstract

What is the income gap between blacks and whites within the same metropolitan region? What variable puts individuals in greatest disadvantage: skin color or place of residence? Should mitigating policies against inequality be global or local? To answer these questions we compare the wages of blacks and whites living in the center and in the periphery of six Brazilian metropolitan regions. Results from the PNAD (2008) show that the impact of skin color on wages is larger than that of the geographic location within the city. We also show that there is substantial spatial heterogeneity in income differentials by race.

 

Introdução

Por Leonardo Souza Silveira e Jerônimo Oliveira Muniz

Desigualdade e segregação raciais são temas que dialogam entre si. Os diferenciais raciais de renda e de acesso a ocupações de maior prestígio segmentam o mercado de trabalho a partir de características adquiridas ao longo do ciclo de vida – tais como escolaridade, experiência, idade (Becker, 1962), valores morais e redes de influência, vulgarmente denominadas capital social (Bourdieu, 1986), e também características atribuídas por terceiros – tais como a raça, gênero, beleza, saúde, inteligência, riqueza, origem e etnia (Piore, 2008). Esses atributos individuais, por serem socialmente percebidos, dependem das reações de ambientes específicas a essas características para exercerem seus efeitos diretos e indiretos e definir como ocorrerá o acesso de determinados grupos às posições no mercado de trabalho e à respectiva geração de renda.

Características atribuídas são, portanto, sensíveis à resposta do ambiente no qual se encontram. A localização residencial desses grupos e a forma como se agrupam e se distribuem no espaço servem então como uma variável indutora e reprodutora de desigualdades. A segmentação influencia não só o acesso a serviços públicos, ao capital social e às oportunidades de escolarização e emprego, mas também afeta a atribuição de características sociais (como raça ou cor da pele) vinculadas ao tamanho e dinâmica das desigualdades.

Neste artigo, exploramos a associação entre segregação residencial e desigualdade racial, cientes de que a raça de cada indivíduo não causa nenhum tipo de diferença, mas está atrelada a mecanismos causadores dos diferenciais entre brancos e negros. Os negros, por exemplo, concentram-se em zonas de pobreza intrinsicamente favoráveis à reprodução de desigualdades. A detecção da concentração e variabilidade espaciais da desigualdade racial, entretanto, não a torna menos penosa para aqueles que a sofrem, mas contribui para a mensuração mais precisa dos mecanismos envolvidos. Sistematizamos o uso da variável núcleo/periferia de maneira gradual e fragmentada, trabalhando com subamostras diferentes para os modelos estatísticos utilizados, por região metropolitana e por grupos raciais (brancos e negros). A intenção é ilustrar a variabilidade das desigualdades raciais entre o núcleo e a periferia, já que é esta dicotomização que fragmenta um espaço tão heterogêneo como as regiões metropolitanas brasileiras.

Investigamos, portanto, a associação entre a localização intra metropolitana e os diferenciais de rendimentos entre brancos e negros, atentando-nos à especificidade contextual de cada região metropolitana. As seguintes perguntas, em particular, norteiam esta pesquisa: a segregação residencial aumenta ou ameniza as desigualdades? Quão díspares são os diferenciais raciais de rendimento entre as regiões metropolitanas? Sabemos que, em média, brancos ganham mais que negros mesmo depois de controlarmos por heterogeneidades observáveis e atributos produtivos, mas quais o tamanho e a variabilidade desse diferencial quando comparamos áreas metropolitanas do Brasil? Os diferenciais raciais são, em geral, mais homogêneos nas periferias que nos núcleos metropolitanos?

Os resultados mostram a variabilidade da desigualdade racial tanto do ponto de vista intra – núcleo e periferia – quanto inter-metropolitano, além de mostrarem onde e quanto as segmentações raciais e espaciais estão atreladas à variabilidade do diferencial de rendimentos entre brancos e não brancos.

O artigo está dividido em quatro partes, além dessa introdução e uma conclusão. Na primeira, são abordados os estudos acerca das desigualdades raciais no Brasil e estudos que evidenciam os impactos de se viver em diferentes locais das grandes metrópoles: há diferenças nas oportunidades de vida, emprego, participação, escolaridade, entre outros, para quem vive em regiões mais ou menos centrais das metrópoles brasileiras?

Com isso buscamos afinidades entre esses dois escopos teóricos, compreendendo-os como diferentes dimensões de desigualdades sociais. Na segunda parte, apresentamos os três modelos estatísticos utilizados. Por meio desses, fazemos uma análise didático-comparativa sobre como a escolha de modelos de regressão podem vir a afetar a mensuração das desigualdades entre grupos raciais intra e intermetropolitanos. A terceira parte discute os resultados obtidos e tece considerações sobre as incertezas geográficas e metodológicas envolvidas na mensuração de desigualdades raciais. A quarta parte, por fim, aponta as contribuições do artigo para a área de estudo sobre desigualdade racial, considerando a segmentação e a segregação residenciais.

 

Leia o artigo completo “Variações intra e intermetropolitanas da desigualdade de renda racial” na Revista Cadernos Metrópole nº 31.