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Autoritarismo, conflitos intergeracionais, experiência urbana, interseções entre raça e gênero, megarregião, migração, urbanização e zoneamento ambiental – esses são os temas em relevo da edição nº 22 da Revista e-metropolis. O artigo de capa Urbanização difusa e a constituição de megarregiões. O caso de São Paulo-Rio de Janeiro, de Sandra Lencioni, aponta que a economia petrolífera reforçará essa megarregião, constituindo-se como mais um elemento integrante do desenvolvimento geográfico desigual brasileiro.

Sandra Lencioni é professora titular do Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Segundo Lencioni, mudanças na urbanização contemporânea e a constituição de regiões urbanas de grandes dimensões motivam a discussão do artigo, que discute a metropolização do espaço como uma nova fase da urbanização e se utiliza da ideia de nebulosa urbana para expressar a urbanização dispersa. A análise enfatiza que a dispersão urbana não é infinita e que a chave para se compreender os limites da dispersão reside na questão da integração. Utiliza o conceito de megarregião para examinar a constituição da mais importante região urbana do hemisfério sul: Rio de Janeiro-São Paulo, que tende a se amalgamar, ainda mais, face à economia do petróleo, em especial, devido à exploração do pré-sal.

Faça o download da edição nº 22 da Revista e-metropolis e leia a íntegra do artigo Urbanização difusa e a constituição de megarregiões. O caso de São Paulo-Rio de Janeiro.

A seguir a Introdução do artigo de Sandra Lencioni.

INTRODUÇÃO

Mudanças na urbanização contemporânea têm levado a interpretações diversas e mencioná-las seria repetir muito do que tem sido dito por vários autores em diferentes disciplinas. Também não é nossa intenção elaborar, aqui, uma sistematização das várias abordagens, uma vez que todas elas, de diversas maneiras, expressam a compreensão de que estamos vi- vendo uma nova fase da urbanização em que ocorre a dissolução da cidade, como aglomeração concentrada. Esta ideia síntese é gradualmente menos exceção, constituindo-se no anúncio de um devir: o de uma sociedade urbana sem cidades, conforme disseram Borja & Castells (1997).

Dois autores constituíram referências fundamentais e pioneiras nessa discussão: Léfebvre (1970) e Gottmann (1961). O primeiro, hoje em dia bastante mencionado, fala em implosão-explosão da cidade, como resultado, ao mesmo tempo, de concentração e de dispersão de atividades, de pessoas e de riqueza, entre outros elementos. Para Léfebvre, esse momento de implosão e explosão da cidade revela uma zona crítica constituída de maneira diacrônica, ou seja, tecida ao longo da história e que está relacionada à emergência de uma sociedade urbana que nasce da industrialização e a sucede. Quase uma década anterior, Gottmann, atualmente pouco referido, havia falado que o que estava ocorrendo na costa leste dos Estados Unidos era expressão de um estágio superior de desenvolvimento metropolitano. Desenvolvia-se ali uma região urbana com fusão de metrópoles, que ele denominou de megalópole.

Explosão e implosão da cidade e a constituição de uma nova forma urbana, a megalópole, anunciavam, naqueles idos, que caminhávamos em direção a um outro tempo. Proclamavam que estávamos vivendo um momento de descontinuidade, de ruptura do que havíamos herdamos do passado. Aquele devir, o momento de vir a ser, anunciado por Léfebvre em 1970, realiza-se atualmente de forma plena e se mostra cristalino. Estrutura-se a urbanização contemporânea de outra maneira e a forma que ela assume, bastante difusa, tem a potencialidade de ser estruturante, tanto quanto a dinâmica do capital financeiro que se mostra com a capacidade de também o ser. Não porque a dispersão urbana e o capital financeiro não existissem anteriormente, mas porque no bojo dos movimentos de ambos, agora estabelecem-se relações que são estruturantes colocando esses elementos — dispersão e finanças — como hegemônicos sobre as demais formas do urbano e do capital.

O momento atual expressa, assim, uma nova fase da história da urbanização na qual emerge com força o processo de metropolização do espaço, discussão apresentada no primeiro item deste texto. Em seguida, a exposição apresenta a ideia de uma nebulosa urbana, uma expressão metafórica, para discutir, mesmo que de forma breve, a posição precursora de alguns autores diante deste fenômeno urbano que se anunciava em meados do século XX. Na terceira parte do texto, discute-se a dispersão urbana e a ideia de coesão na dispersão. Na última parte fazemos algumas considerações sobre o conceito de megarregião e exemplificamos com o caso de Rio de Janeiro-São Paulo, como expressão da urbanização contemporânea no Brasil.

Faça o download da edição nº 22 da Revista e-metropolis.

Última modificação em 05-11-2015 18:06:05