A Rede INCT Observatório das Metrópoles divulga a carta pública “A UERJ e o Futuro do Rio de Janeiro”, assinada pelos professores Ruy Garcia Marques e Maria Georgina Muniz Washington, reitor e vice-reitora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. O documento denuncia o sucateamento da universidade por parte do Governo do Estado, com corte de verbas e repasse financeiro. A UERJ é um dos maiores patrimônios do Rio: é a 11ª colocada entre as 195 universidades brasileiras, segundo o ranking da Times Higher Education (2016), e a 20ª entre todas as universidades da América Latina; são cerca de 35 mil alunos na graduação, e mais de 4 mil em cursos de mestrado e doutorado. São também da UERJ unidades de saúde, como o Hospital Universitário Pedro Ernesto, um dos melhores hospitais do Rio, com mais de 500 leitos, 10.000 internações/ano e mais de 180.000 consultas ambulatoriais ano. Por tudo isso, a UERJ deve continuar aberta, forçar o seu fechamento é não pensar no futuro do Rio e do país.
Em meio à crise, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) adiou pela quinta vez a volta às aulas em comunicado no dia 13 de fevereiro (segunda-feira). Após uma reunião interna, a universidade afirmou que suspenderá o início das atividades até que a pauta da comunidade acadêmica seja atendida pelo governo do estado.
A comunidade acadêmica afirma que são condições básicas para a normalização dos serviços na universidade um calendário de repasses de verbas para a manutenção em geral, com previsão de repasse de cota financeira mensal; um plano de regularização dos pagamentos às empresas terceirizadas (manutenção, infraestrutura, limpeza, segurança, lixo e Restaurante Universitário); e calendário de pagamento de salários, incluindo o décimo terceiro e de bolsas estudantis e demais modalidades.
Segundo nota Asduerj – Associação dos Docentes da UERJ, a situação do financiamento da UERJ se agravou nos dois últimos anos, sendo que atualmente há atrasos sistemáticos no pagamento de bolsas aos estudantes, e “e não se pode desprezar que a UERJ foi a primeira instituição a contar com o sistema de quotas, que hoje abrange mais de 40% dos alunos dessa instituição), o único restaurante universitário encontra-se fechado e não há passe-livre para o transporte”, aponta o texto.
Já em relação aos professores, a Asduerj afirma que os chamados trabalhadores “de carreira” e concursados, cujos contratos com o Estado são estáveis, também vêm enfrentando condições de trabalho cada vez mais precarizadas e desestimuladoras. “Para os professores, o último reajuste linear ocorreu em 2001 (Lei nº 3.649 de 20 de setembro de 2001). A partir dessa data, inúmeros movimentos organizados tiveram curso, incluindo três greves (2006, 2008 e 2012); todavia, tudo o que esses movimentos conseguiram foram algumas mudanças nas carreiras dos dois segmentos (docentes e técnicos), que acabaram conduzindo à quebra da isonomia, à fragmentação entre os trabalhadores, pondo dificuldades adicionais para a unificação de suas lutas”.
No dia 14 de fevereiro de 2017 (terça-feira) foi realizado o evento Ato Viva UERJ, com a participação de políticos, artistas, professores e comunidade acadêmica em apoio a luta da universidade. Veja a seguir vídeos de apoio ao movimento UERJ Resiste.
A seguir a Carta “A UERJ e o futuro do Rio de Janeiro”, assinada pelos professores Ruy Garcia Marques e Maria Georgina Muniz Washington
A Uerj e o Futuro do Rio de Janeiro
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ao longo das suas mais de seis décadas de existência, cresceu e firmou-se como uma das principais universidades do País. Atualmente, é a 11ª colocada em qualidade entre as 195 universidades brasileiras, segundo o ranking da Times Higher Education de 2016, e a 20ª entre todas as universidades da América Latina.
Quando se considera o item “inserção de seus alunos no mercado de trabalho”, a Uerj ocupa o 8º lugar e, no item “produção científica”, ela é a 9ª, segundo o ranking das universidades brasileiras da Folha de São Paulo.
São cerca de 35 mil alunos em seus cursos de graduação, nas modalidades presencial e de ensino a distância, mais de 4 mil em cursos de mestrado e doutorado, cerca de 2 mil em cursos de especialização e 1,1 mil nos ensinos fundamental e médio (Instituto de Aplicação – CAp-Uerj). Além do Campus Maracanã, dispõe-se em 13 unidades externas, constituindo seis campi regionais espalhados pelo Estado do Rio de Janeiro, colaborando com seu desenvolvimento regional.
São também da Uerj unidades de saúde, como o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), a Policlínica Piquet Carneiro (PPC) e a Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI), esta última um importante projeto de extensão, com várias premiações internacionais.
O HUPE é um dos maiores e melhores hospitais do Rio, com mais de 500 leitos, 10.000 internações/ano e mais de 180.000 consultas ambulatoriais especializadas/ano. A PPC é responsável por mais de 200.000 consultas/ano e cerca de 8.000 cirurgias ambulatoriais/ano.
Fica clara, portanto, a importância da Uerj no cenário educacional de nosso Estado, bem como seu impacto positivo para a nossa economia, preparando recursos humanos muito qualificados para as áreas da indústria, da tecnologia, do comércio, da educação, da saúde e da pesquisa avançada. Um sem-número de nossos alunos tornam-se inovadores e empreendedores, gerando empregos e riquezas para o Rio de Janeiro.
Todos sabemos que a criação de novas indústrias no Rio de Janeiro é um ambicioso projeto de nossos governantes. Como elas poderão se instalar e continuar a oferecer empregos, sem a geração da mão de obra necessária? Como produzirão renda, sem a capacidade instalada laboratorial necessária para gerar inovação? Como produziremos riqueza, sem o conhecimento?
Não há progresso sem educação! São senhores do tempo aqueles que elegem a educação como prioridade, ninguém mais duvida disso.
Foram tempos difíceis aqueles em que a educação não era considerada um direito. Árduos tempos em que se tenta a efetivação do direito à educação em todos os níveis.
Há anos, um enorme esforço tem sido exigido por nossa sociedade nesse sentido. O esforço de um batalhão de operários da educação, em todos os níveis, tem sido recompensado por instituições educacionais mais pujantes para abraçar os ideais de uma sociedade justa e fraterna.
Entretanto, a Uerj está sendo sucateada, numa absoluta falta de visão estratégica por parte dos governantes do nosso Estado, a quem incumbe o financiamento de uma universidade pública e inclusiva como a nossa.
Desprezar o ensino superior, a pós-graduação e a pesquisa é apostar na miséria, na violência e num futuro sem perspectivas positivas.
Forçar o fechamento da Uerj é não pensar no futuro de nosso estado e de nosso país.
A Uerj e o Estado são perenes, os governantes não.
Ruy Garcia Marques – Reitor
Maria Georgina Muniz Washington – Vice-reitora
Com o apoio de ex-reitores da Uerj: Ivo Barbieri, Hésio Cordeiro, Antonio Celso Alves Pereira, Nilcea Freire, Nival Nunes de Almeida, Ricardo Vieiralves de Castro
Leia também:
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Última modificação em 16-02-2017 13:31:18