O Núcleo Salvador do INCT Observatório das Metrópoles acaba de finalizar o livro “Transformações na Ordem Urbana da Região Metropolitana de Salvador”. A publicação, que será lançada no segundo semestre de 2014, aponta que a expansão da metrópole baiana tem sido em direção às bordas e ao periurbano; assim como vive o esvaziamento, decadência e gentrificação de antigas áreas centrais; além do colapso da mobilidade urbana e difusão de novos padrões habitacionais.
O projeto “Transformações na Ordem Urbana das Metrópoles Brasileiras (1980-2010)” representa para o Observatório das Metrópoles a última etapa do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). O objetivo é oferecer a análise mais completa sobre a evolução urbana brasileira, servindo assim de subsídio para a elaboração de políticas públicas nas grandes cidades e para o debate sobre o papel metropolitano no desenvolvimento nacional. Nesta etapa do projeto, os núcleos regionais estão finalizando seus livros e enviando para o Comitê Gestor fazer a leitura final.
A previsão é de que no segundo semestre de 2014 e em 2015 o Observatório das Metrópoles faça os lançamentos dos 15 livros com a análise sobre as transformações urbanas das principais regiões metropolitanas do Brasil.
Segundo Inaiá Maria Moreira de Carvalho, coordenadora do Núcleo Salvador do Observatório das Metrópoles, a produção do livro “Transformações na Ordem Urbana da Região Metropolitana de Salvador” contou com o trabalho da equipe regional e mais pesquisadores convidados de outras instituições de ensino. Do Núcleo participaram, além de Inaiá Carvalho, os pesquisadores Gilberto Corso Pereira (Faculdade de Arquitetura/UFBA) e Cláudia Monteiro Fernandes.
Já os convidados foram: Ângela Maria Carvalho Borges (PUC Salvador); Barbara-Christine Nentwig Silva (UFBA); José Ribeiro Soares Guimarães especialista da Organização Internacional do Trabalho (OIT); Juan Pedro Moreno Delgado, professor do departamento de Transportes e do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana da Universidade Federal da Bahia; Maina Pirajá Silva, integrante da equipe do Projeto PRONEX- FAPESB/CNPq sobre a Região Metropolitana de Salvador; Sylvio Bandeira de Mello e Silva (UFBA). “Montamos uma equipe muito qualificada para a produção do livro. E apesar do desafio transdiciplinar, foi uma satisfação pra mim coordenar e trabalhar com essas pessoas. Acho que alcançamos um bom resultado com um conjunto de análises bem abrangentes sobre a metrópole baiana”, explica Inaiá Carvalho e completa:
“Temos uma boa expectativa com a difusão do livro Transformações da Ordem Urbana de Salvador, que deve ser lançado no segundo semestre de 2014. Quando lançamos a série ‘Como Anda Salvador’ tivemos muita procura, e vimos atores governamentais utilizando as informações produzidas pelo núcleo para pensar políticas públicas. Antes mesmo do Observatório das Metrópoles preparar a 2ª edição do Como Anda, fizemos a nossa pela EDUFBA. Esperamos que este segundo livro também seja bem recebido pelo público”, afirma.
Metrópole de Salvador: pobre, periférica e marginal
A professora Inaiá Moreira de Carvalho antecipa alguns dos resultados que serão apresentados no livro sobre a Salvador. Em relação, por exemplo, à estrutura produtiva e ao panorama ocupacional, a metrópole baiana continua pobre, segregada, com uma inserção periférica no quesito força de trabalho no país.
“É verdade que, a partir de 2004, o emprego tem crescido, com um avanço em termos de sua formalização. As taxas de desemprego caíram, o peso dos ocupados por conta própria e dos trabalhadores sem carteira assinada recuou, a remuneração dos trabalhadores experimentou certa recuperação, e a proporção de moradores pobres e indigentes também se reduziu. Mas, ainda assim, as referidas taxas ainda representam quase o dobro da média nacional, elevando-se ainda mais fora do núcleo metropolitano e entre as mulheres, os negros, os jovens e aqueles menos escolarizados”, argumenta Inaiá e completa:
“A maioria dos ocupados se encontra vinculado a atividades que não se destacam pela geração de postos de qualidade, como o comércio, os serviços tradicionais e a construção civil. A metrópole de Salvador se mantém como um espaço de baixas remunerações, com 70,9% dos trabalhadores percebendo até dois e apenas 10% acima de cinco salários mínimos. A precariedade ocupacional se mantém bastante expressiva na região, assim como os níveis de pobreza e de indigência da população”.
Já em relação à estrutura urbana, segundo o professor Gilberto Corso Pereira, a RM de Salvador vem sendo afetada, nos últimos anos, por mudanças que têm se mostrado comuns às grandes metrópoles e a outras cidades do Brasil e da América Latina. Entre essas mudanças, destacam-se: uma expansão para as bordas e para o periurbano, assim como o esvaziamento, a decadência ou a gentrificação de antigas áreas centrais; a edificação de equipamentos de grande impacto na estruturação do espaço urbano; e a difusão de novos padrões habitacionais e inversões imobiliárias destinadas aos grupos de alta e média renda, com a proliferação de condomínios verticais ou horizontais fechados, que ampliam a autossegregação dos ricos, a fragmentação e as desigualdades urbanas, assim como revelam uma afirmação crescente da lógica do capital na produção e reprodução das cidades.
“No seu conjunto, as mudanças e os processos vêm reproduzindo e reforçando os padrões de segregação e segmentação e as desigualdades que se conformaram historicamente na metrópole de Salvador”, explica Gilberto Corso e acrescenta:
“Vemos que a produção capitalista e empresarial da habitação é segmentada em termos sociais e espaciais, orientando-se, basicamente, para as camadas de maior renda. Dos antigos bairros de classe alta e média, comuns nas grandes cidades brasileiras, passou-se à produção atual de megacondomínios verticais e horizontais, com seus aparatos de separação e distanciamento, os quais, além de propiciar uma homogeneidade social, impedem a porosidade urbana e asseguram que qualquer mistura social só poderá acontecer fora de suas fronteiras”, explica.
Nesse sentido, as formas recentes de produção da moradia e do espaço urbano em Salvador mostram uma ampliação da fragmentação socioespacial da metrópole, agora se expressando na forma de enclaves de diversas naturezas que caracterizam o atual espaço construído.
Outro destaque do livro é o tema da mobilidade urbana. O capítulo VII “Organização Social do Território e Mobilidade Urbana” aponta que a metrópole de Salvador vive um colapso de mobilidade. “Os tempos de viagem estão se tornando cada vez maiores para quem transita em Salvador; isso acontece porque as políticas de transporte e mobilidade se voltam para o veículo individual e não para os pedestres e para o transporte público”, argumenta.
Segundo ainda Corso, a precária mobilidade urbana de Salvador penaliza todos os moradores, mas o faz especialmente para aqueles mais pobres e residentes em áreas periféricas, pois, enquanto os domicílios que são ponto de partida das viagens se dispersam espacialmente, a distribuição dos serviços e das oportunidades de trabalho está cada vez mais concentrada.