Quanto tempo as pessoas que residem nas metrópoles levam para chegar aos locais de trabalho ou para retornarem às suas casas diariamente? Talvez tenhamos essa resposta na ponta da língua, basta pensar em nossos próprios casos, ou fazermos um levantamento com pessoas conhecidas. Não são raros os relatos sobre o martírio que é enfrentar as longas distâncias, os engarrafamentos e as constantes panes do sistema público de transporte nas grandes cidades.
Tragédia Cotidiana na Metrópole: o crescente tempo de deslocamento das pessoas
Juciano Martins Rodrigues
Pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles – IPPUR/UFRJ e
Doutorando em Urbanismo – PROURB/UFRJ
Pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles – IPPUR/UFRJ e
Doutorando em Urbanismo – PROURB/UFRJ
Quanto tempo as pessoas que residem nas metrópoles levam para chegar aos locais de trabalho ou para retornarem às suas casas diariamente? Talvez tenhamos essa resposta na ponta da língua, basta pensar em nossos próprios casos, ou fazermos um levantamento com pessoas conhecidas. Não são raros os relatos sobre o martírio que é enfrentar as longas distâncias, os engarrafamentos e as constantes panes do sistema público de transporte nas grandes cidades. Uma verdadeira via-crúcis. Ao mesmo tempo, sem pesquisas e levantamentos sistemáticos torna-se difícil traçar um panorama geral sobre os deslocamentos realizados cotidianamente pela população.
As chamadas pesquisas origem-destino constituem um dos principais instrumentos para orientar o planejamento do transporte e do tráfego nas cidades. No Brasil, porém, elas são escassas e intermitentes. Não são todas as grandes cidades que as realizam e, em outras, se encontram defasadas frente ao crescimento acelerado, principalmente de suas periferias. A última pesquisa do tipo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, ocorreu em 2003. Notícias dão conta que apenas São Paulo, Recife e Natal realizaram esse tipo de pesquisa recentemente. Poder-se ia até alegar que uma periodicidade tolerável seria o intervalo de 10 anos, a mesma do censo do IBGE. Porém, não há nenhuma garantia que ocorrerá novamente outra pesquisa nos próximos anos. E sabemos todos qual é a situação do transporte público nas grandes cidades, principalmente no Rio de Janeiro, e o quanto tem piorado desde 2003.
Hoje sabemos, por exemplo, que a periferia das grandes metrópoles tem crescido mais do que suas áreas centrais. Por outro lado, torna-se difícil acreditar que agências reguladoras e empresas de transporte levem isso em consideração. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (PNAD), nas 10 regiões metropolitanas pesquisadas, tem aumentado o número de pessoas que passam mais tempo no trajeto casa-trabalho. Ao compararmos o percentual de pessoas que demoravam mais de 1 hora para se deslocarem diariamente de suas casas até seu local de trabalho, ou vice-versa, entre 2001 e 2008, percebemos que ocorreu um aumento em quase todas as metrópoles. Apenas em Curitiba este percentual diminuiu; em todas as outras houve aumento, e o maior deles é de 5,8 pontos percentuais, o qual ocorreu em Salvador. Nas duas maiores metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento foi de 3,7 e 4,1 pontos percentuais, respectivamente.
Surpreendentemente, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro é onde existe um maior percentual de pessoas que levam mais de 1 hora no trajeto casa-trabalho, mais que São Paulo, inclusive. Vale lembrar que a maior das metrópoles brasileiras tem cerca de 19,4 milhões de habitantes, enquanto a metrópole fluminense tem uma população em torno de 11,8 milhões de pessoas.
Isto pode ser efeito direto do descasamento entre os locais de moradia e trabalho das pessoas, situação denominada pelos americanos de spatial mismatch. No entanto, a maioria das cidades brasileiras mantém estruturas de distribuição dos locais de moradia e trabalho bem parecidas. Não seria aceitável, portanto, acreditar que esse é o maior e único motivo que explique a grande diferença entre elas. Em boa parte essa disparidade pode ser explicada também pelo tamanho, ou seja, pela escala de metropolização. Não existe, porém, uma relação direta entre o tamanho da metrópole e esse indicador. Curitiba, por exemplo, é maior que Brasília e Belém. Entretanto, na metrópole paranaense, demora-se menos para ir ao trabalho do que nestas outras duas, como no caso de São Paulo em relação ao Rio de Janeiro. As condições de acessibilidade existentes em cada uma dessas regiões metropolitanas, que envolve a rede viária, os tipos de modal existentes, assim como a qualidade do serviço público oferecido, também devem ser consideradas.
Isto pode ser efeito direto do descasamento entre os locais de moradia e trabalho das pessoas, situação denominada pelos americanos de spatial mismatch. No entanto, a maioria das cidades brasileiras mantém estruturas de distribuição dos locais de moradia e trabalho bem parecidas. Não seria aceitável, portanto, acreditar que esse é o maior e único motivo que explique a grande diferença entre elas. Em boa parte essa disparidade pode ser explicada também pelo tamanho, ou seja, pela escala de metropolização. Não existe, porém, uma relação direta entre o tamanho da metrópole e esse indicador. Curitiba, por exemplo, é maior que Brasília e Belém. Entretanto, na metrópole paranaense, demora-se menos para ir ao trabalho do que nestas outras duas, como no caso de São Paulo em relação ao Rio de Janeiro. As condições de acessibilidade existentes em cada uma dessas regiões metropolitanas, que envolve a rede viária, os tipos de modal existentes, assim como a qualidade do serviço público oferecido, também devem ser consideradas.
Vale destacar, por fim, que é importante a diferença entre elas, principalmente quando olhamos para cidades como Curitiba, que, entre todas, foi a única onde houve uma diminuição do percentual de pessoas que levam mais tempo no trajeto casa-trabalho, entre 2001 e 2008. O mais importante e preocupante é saber que nos últimos anos, na maioria das grandes metrópoles brasileiras, um maior número de pessoas leva mais tempo em seus deslocamentos diários. Por esse e outros motivos a questão da mobilidade é fundamental para dimensões do viver na metrópole, tais como: acesso ao mercado de trabalho, à educação, ao consumo e principalmente elementos que compõem o que se denomina qualidade de vida.
Última atualização em Seg, 31 de Janeiro de 2011 10:07