isbn | 9788565679756
Somos todas Marginalis
Há exatamente um ano, outubro de 2016, eu estava acessando o tema da minha monografia da pós-graduação que fiz na Faculdade Angel Vianna em Corpo, Educação e Diferenças: a dança achada na rua, das pessoas invisibilizadas e cotidianamente estigmatizadas. Mais, o meu encontro com essas gentes dançantes. E o lugar seria a querida roda de samba d’O Samba Brilha, expressão de um movimento de resistência política e cultural na Cinelândia, região do Centro do Rio de Janeiro. Este enfoque pulsava no meu corpo de dançarina popular, que (re)existe dançando. Corpo que transpirava a democracia recém golpeada deste país e o fervor das semanas que antecederam o segundo turno da última eleição para prefeito do Rio, com a disputa entre dois projetos de cidade antagônicos. Um período sufocante: as inúmeras violações de direitos em decorrência dos megaeventos esportivos reverberando nos nossos corpos; alarmante crise financeira do estado do Rio de Janeiro, com salários atrasados dos servidores e sem repasses para os serviços públicos essenciais; perverso retrocesso de direitos fundamentais assegurados na Constituição de 1988; desenfreado processo de privatizações; intensificação da criminalização dos movimentos sociais; violenta repressão às manifestações populares… E a brecha de esperança vinha, mais uma vez, dos nossos múltiplos e diversos corpos políticos ocupando, marchando, gritando, se aglutinando. Dançando nossas lutas e existências. Constituir esta dança coletiva que ocupa as ruas, em comunhão de afetos e movimentos criativos, é, numa alegria transbordante, me perceber plenamente como um ser histórico, que se constitui e se move através das diferentes gentes, e perceber que nos apropriando de nossos corpos e dos espaços públicos vamos imprimindo outros sentidos, afetações, narrativas e usos da cidade. A generalizada e imobilizante sensação de medo e vulnerabilidade é enfraquecida. Vamos, pontualmente, transformando e reinventando a cidade. O fôlego para seguir adiante e lutar por nossos direitos se renova.
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