A Editora UFRJ promove o lançamento, no dia 4 de abril, do livro “A sociologia urbana de Robert Park”, organizado por Lícia do Prado Valladares. Esta é a primeira publicação em português sobre um dos maiores sociólogos americanos do início do século XX, considerado o “pai” da sociologia urbana. Entre os temas abordados no livro estão a cidade como laboratório social e espaço para investigação do comportamento humano; a migração humana e o homem marginal; a organização industrial e moral das cidades; a divisão do trabalho; e o papel de instituições — questões a que Park se dedicou em seus estudos sobre as cidades.
A seleção de textos privilegia as reflexões de Robert Park (1864-1944) acerca das questões urbanas que o afetavam diretamente, como pessoa, como jornalista e como pesquisador e inclui seu único texto sobre o Brasil, comentário de um estudo realizado por Donald Pierson na Bahia sobre relações raciais, em 1937.
“A sociologia urbana de Robert Park”, livro organizado por Licia do Prado Valladares, com tradução de Wanda Brant, será lançado pela Editora UFRJ no dia 4 de abril, na Livraria da Travessa de Ipanema, Rua Visconde de Pirajá, 572, às 19h.
Licia do Prado Valladares é doutora em Sociologia e professora emérita da Universidade de Lille, na França. É autora de vários livros, dentre os quais ‘Passa-se uma casa” (Zahar Editores), “Pensando as favelas do Rio de Janeiro” (Relume Dumará) e “A invenção da favela” (Editora FGV).
QUEM FOI ROBERT PARK?
De acordo com o texto introdutório assinado por Licia do Prado Valladares, Roberto Park pode ser considerado um dos maiores sociólogos americanos do início do século XX. Nascido em 1864, no interior da Pensilvânia, passou a infância e a adolescência em Red Wing. Formado pela Universidade de Michigan, onde foi aluno do filósofo pragmatista John Dewey, exerceu a profissão de jornalista até 1914. Somente aos 50 anos, foi admitido na Universidade de Chicago como assistente, tornando-se, nove anos mais tarde, em 1923, professor titular.
Como jornalista, Robert Park trabalhou em cidades como Denver, Detroit, Chicago e Nova York. Atuou na Congo Reform Association (escrevendo artigos contra o tirano Leopoldo II, da Bélgica) e também no Tuskegee Institute, situado no Alabama, com Booker T. Washington, importante líder negro, do qual foi assistente. Serviu-se dessa experiência como jornalista e da vivência com Booker T. Washington para o seu trabalho de docente na Universidade de Chicago.
Foi, sobretudo, o professor que marcou toda uma geração. Insistia em conhecer seus alunos pessoalmente, desvendando a origem social e os interesses de cada um para então definir junto com eles as questões de pesquisa. Mantinha um seminário no qual os alunos de pós-graduação apresentavam o andamento de suas pesquisas, e procurava saber o que cada um tinha feito, que problemas enfrentavam, etc.
Dizia aos alunos que sujassem as calças, sentando-se nas soleiras das casas para conversar. Aconselhava-os a frequentar todas as áreas da cidade, tanto as “boas” quanto as “más”, como as áreas de prostituição e as regiões de migrantes. A cidade de Chicago tornou-se para Park um grande laboratório de estudos sobre o homem urbano e o seu hábitat natural. Pretendia captar, em toda a complexidade, as relações que os cidadãos entretêm com o meio material e humano em permanente transformação. Enfim, treinava os alunos, propondo que os métodos de observação usados no campo por antropólogos fossem empregados na investigação dos costumes, crenças, práticas sociais e concepções gerais de vida.
Mais conhecido como sociólogo empírico, era na realidade (segundo ele mesmo) um teórico “na medida em que via a sua principal contribuição no desenvolvimento de um conjunto de conceitos que permitiriam uma classificação sistemática para a análise de dados sociais”.
Além de professor, foi também grande articulador, tecendo uma importante rede de relações. Presidiu, em 1925, a American Sociological Association, criada desde 1905. Foi membro ativo do American Journal of Sociology, em que publicava regularmente artigos e resenhas. Colaborou como consultor em várias fundações e instituições de financiamento de pesquisa. Recomendou sociólogos de valor para ocuparem posições no mundo acadêmico e mantinha correspondência com pessoas que conhecera em suas múltiplas viagens.
Foi, sobretudo, um grande e curioso viajante: começou pela Europa, onde morou em Berlim, Estrasburgo e Heidelberg. Depois, visitou vários países: Inglaterra, Itália, Hungria, Polônia, Alemanha e Dinamarca. Esteve em Honolulu e no Havaí. A partir de 1929, escolheu o Oriente como seu destino: passou três meses na China ensinando em Pequim e conheceu o Japão, as Filipinas, a Indonésia e a Índia. Visitou também a África do Leste e a África do Sul. Numa dessas viagens, em 1934, passou ainda pela América do Sul, sempre acompanhado da esposa Clara Kalil Park. Esteve então no Rio de Janeiro. Em 1937, passou quase dois meses em Salvador, onde foi supervisionar o trabalho de campo da tese de Donald Pierson, seu aluno em Chicago.
Aposentou-se pela Universidade de Chicago em 1933, quando então seguiu para a Universidade negra de Fisk, no Tennessee, cujo Departamento de Sociologia era dirigido por seu ex-aluno Charles Johnson. Voltou ao tema das relações raciais. Morreu no Tennessee, em 1944, aos 80 anos.
Sumário
Agradecimentos 9
Introdução
ROBERT E. PARK, UMA AUTOBIOGRAFIA
História de vida
A SOCIOLOGIA URBANA E A ESCOLA DE CHICAGO
A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano
INTRODUÇÃO A LIVROS DE ALUNOS DE CHICAGO: ALGUNS EXEMPLOS
Apresentação do livro The ghetto,
de Louis Wirth 83
Introdução a The Gold Coast and the slum,
de Harvey W. Zorbaugh
A CIDADE COMO LABORATÓRIO
A cidade como laboratório social
O HOMEM MARGINAL
A migração humana e o homem marginal
ROBERT PARK E O BRANCOS E PRETOS NA BAHIA: ESTUDO DE CONTATO RACIAL
Introdução a Brancos e pretos na Bahia