Construção do trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo: desmatamento na Serra da Cantareira.
Nesta edição de junho de 2015, a revista e-metropolis apresenta o artigo da professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Economia da USP, Elizabeth Borelli, sobre a perspectiva socioambiental do traçado do eixo Norte do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo.
Com o objetivo de contribuir com o entendimento do processo de intervenções urbanas voltadas à implantação de vias expressas e complexos viários, a autora trabalha com os conceitos de vulnerabilidade social, desigualdade ambiental e transformações urbanas para analisar esse grande projeto urbano na metrópole paulista.
O Rodoanel de São Paulo foi idealizado em 1998 e vem sendo implantado em quatro etapas desde 2002. O último trecho a ser entregue, ao norte da metrópole, tem inauguração prevista para 2017 e cortará parte da Serra da Cantareira, considerada uma das maiores florestas urbanas nativas do mundo. O Rodoanel tem como ideia principal desviar parte do tráfego de cargas e passageiros para fora do núcleo metropolitano.
Na visão de Borelli, muito embora a área escolhida para implementação do trecho Norte seja o de menor impacto ambiental, ao sul da Serra da Canteira, com menor movimentação de terra e área desmatada, por outro, a autora pontua que tal escolha, mesmo assim, oferece grande impacto social por tratar-se de uma zona de transição entre áreas urbanas e outras de importância ambiental, que já sofrem com a expansão urbana irregular:
O trecho Norte do Rodoanel Metropolitano de São Paulo contará com sete túneis e mais de vinte viadutos, passando pelos municípios de São Paulo, Guarulhos e Arujá. […] Para sua implantação, será necessária a remoção de cerca de 4.200 edificações, incluindo moradias irregulares, comércios e equipamentos. Os projetos não garantem a permanência dessas comunidades na região (p.41).
Associado ao perfil de megaprojetos urbanos característico dos princípios neoliberalistas de governança, o Rodoanel Metropolitano de São Paulo possui importantes limitações que acentuam o processo de reprodução da segregação socioespacial da metrópole, como por exemplo, a instituição de pedágios, a proibição ao trânsito de coletivos urbanos e o seu desenho “fechado”, cujo acesso só se dá em pontos específicos de interconexão com outras rodovias.
Nesse sentido, Elizabeth Borelli elucida o cenário de transformações e impactos socioambientais do traçado Norte do Rodoanel Metropolitano paulista, alertando que o projeto resvala mais em uma proposta de se fomentar a imagem da cidade-espetáculo, alimentada por grandes e modernosas intervenções urbanas, do que em uma proposta efetiva de maior redução das desigualdades socioambientais na metrópole.
*por Pedro Paulo Bastos – pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles (Rio de Janeiro)
Acesse a página da revista e-metropolis e leia o artigo “O trecho norte do Rodoanel Metropolitano de São Paulo: um olhar socioambiental sobre a espetacularização urbana”, de Elizabeth Borelli, na íntegra: http://emetropolis.net