No artigo Risco associado a movimento de massa no Morro Boa Vista (Vila Velha/ES): da caracterização do território à necessidade de políticas públicas, destaque da Revista Cadernos Metrópole nº 42, os pesquisadores Teresa Cristina da Silva Rosa, Marcelo Sathler, Mirian Costa, Marcos Barreto de Mendonça, Caterine Reginensi e Ricardo Matos de Souza fazem uma discussão abrangente sobre um desastre, com os fatores intervenientes e um conjunto de processos associados, evidenciando as dificuldades do poder público em oferecer respostas efetivas em situações agudas. Também mostram como as decorrências dos desastres permanecem ao longo do tempo.
O trabalho busca compreender o processo de vulnerabilização de uma comunidade situada no Morro Boa Vista (MBV, Vila Velha, ES) numa perspectiva interdisciplinar, utilizando-se de questionário para levantar aspectos da percepção do risco, de entrevistas para resgatar a história da ocupação, de registros fotográficos e de análise da geologia local.
Segundo os autores, evidencia-se uma ocupação influenciada por forças políticas que impeliram a população ao local, iniciada nos anos 1960, subsequente ao êxodo rural concomitante à industrialização do Espírito Santo. “Em janeiro de 2016, por ausência ou omissão do poder público, um desastre no local em função de rolamento de rochas desvelou esse processo e a condição de subcidadania dos seus moradores, evidenciando a urgência de medidas de redução de risco de desastres”, aponta a pesquisa.
O artigo Risco associado a movimento de massa no Morro Boa Vista (Vila Velha/ES): da caracterização do território à necessidade de políticas públicas integra o Dossiê “Desastres Urbanos”, da edição nº 42 da Revista Cadernos Metrópole.
INTRODUÇÃO
A proposta deste artigo é de compreender o processo de vulnerabilização de uma comunidade situada na encosta do Morro Boa Vista, buscando discutir possíveis fatores contribuintes para o risco, incluindo aspectos da percepção de risco. Pressupõe, assim, que a vulnerabilização é multifatorial e que o risco evolui em função de alterações no ambiente (Gamboa, 2008; Douglas e Wildavsky, 2012). Para tal, procura-se o conhecimento de diferentes disciplinas no sentido de melhor compreender esse cenário de vulnerabilização no recorte de redução de riscos de desastres (RDD).
Além disso, os estudos de percepção de risco focam os julgamentos das pessoas quando arguidas sobre a caracterização e avaliação das ameaças às quais estão relacionadas, possibilitando, assim, entender e prever suas relações e atitudes diante delas, de modo melhorar a comunicação sobre os riscos entre os diferentes atores sociais (Slovic, 1987). Isso significa assumir que a dimensão social e cultural é inerente à percepção de risco (Douglas e Wildavsky, 2012).
Assim, compreende-se que essa abordagem implica trazer para a discussão o processo de urbanização da referida região, numa perspectiva histórica, além de evidenciar as condições geológicas locais e de entender o processo de formação da cidadania de seus habitantes em tais circunstâncias.
Procura-se, portanto, combinar simultaneamente a abordagem dos aspectos físicos com a dos aspectos sociais, posto que o risco de desastre emerge de uma complexa relação entre os sistemas humano e natural (Malamud e Petley, 2009).
Como forma de atingir os objetivos acima, optou-se por realizar os seguintes procedimentos metodológicos: 1) observação em campo por equipe multidisciplinar logo após o evento; 2) aplicação de questionário semiestruturado a 18 moradores de famílias distintas impactadas, direta ou indiretamente, pelo rola- mento das rochas.
Esse questionário, composto de 15 perguntas, levantou as condições e o uso dos imóveis e buscou atentar para aspectos da percepção de risco; 3) levantamento do histórico de formação da comunidade através de entrevistas não estruturadas com os moradores mais antigos do MBV, cujas histórias de vida confundem-se com a história da ocupação da área; e 4) levantamento de dados sobre a geologia e tectônica regionais em busca de fatores capazes de terem contribuído com o desastre.
O presente trabalho está organizado em quatro partes. Primeiro, descrevem-se o desastre e a relação do poder público com essa situação. Em seguida, apresenta-se uma análise dos fatores geológicos que, possivelmente, es- tão relacionados ao evento. Na terceira parte, contextualizam-se a comunidade em questão e a percepção da população quanto ao risco. Na quarta parte, discorre-se sobre a história da formação da comunidade e do processo de construção do risco. Finalmente, discute-se sobre o não reconhecimento dessa população e o seu necessário empoderamento, inclusive de acesso aos direitos estabelecidos constitucionalmente e sobre como o poder público poderia desenvolver políticas públicas voltadas para o direito fundamental à moradia, enquanto direito social.
O artigo completo está disponível no site da Revista Cadernos Metrópole.