Skip to main content

Revista Sociologias: 100 anos com Durkheim

No ano em que se completa o centenário do desaparecimento de Émile Durkheim, a Revista Sociologias, em sua edição número 44, propõe um resgate do pensamento do sociólogo francês. O dossiê “Cem anos sem Durkheim. Cem anos com Durkheim” busca dar conta de existência de três distintas leituras da sua obra por parte de seus analistas e seguidores e, ao mesmo tempo, sondar a persistência de suas teorias no campo atual das ciências sociais e as possibilidades de atualização do pensamento durkheimiano no contexto das sociedades contemporâneas.

A Rede INCT Observatório das Metrópoles divulga o trabalho da Revista Sociologias, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS, por valorizar trabalhos que reflitam e apontem novos caminhos para as pesquisas na área das Ciências Sociais no país.

A seguir o Editorial da Revista Sociologias nº 44, assinado por Maíra Baumgarten, Jalcione Almeida e Cinara Rosenfield.

EDITORIAL – REVISTA SOCIOLOGIAS

Os tempos atuais descortinam sociedades encurraladas entre fundamentalismos. De um lado, o fundamentalismo de mercado a sub- meter todos os aspectos da vida humana à lógica imediatista e desigual da mercadoria; a priorizar o superficial e o aparente; a cultivar o efêmero, distraindo o olhar das essências recônditas; a perverter e apropriar-se dos inconformismos, sob rótulos da alternatividade consumista; a apoderar-se de bens públicos, fabricar doenças e medicalizar a existência; a naturalizar as violências por meio de produtos culturais; a desfigurar a democracia; a solapar a ética e empresariar a fé.

De outro lado, os fundamentalismos religiosos, em guerra ferrenha contra a secularização da vida e a liberdade de credo, tratam de amordaçar o pensamento crítico; tirar proveito das perplexidades diante de desigualdades abissais e da esquizofrenia de um mundo que endeusa o ter e confisca as oportunidades; e tratam de vender a salvação eterna ao custo de renúncias terrenas a direitos conquistados a duras penas, tudo em nome da manutenção dos poderes patriarcais ainda e sempre dominantes.

As novas formas assumidas pelo “sagrado” estão a exigir o escrutínio dos cientistas sociais. Nessa busca de entender as mudanças no pensamento mágico e os novos fatores que impactam essa faceta da humanidade, oportuna é a retomada de clássicos da sociologia.

No ano em que se completa o centenário do desaparecimento de Émile Durkheim, Sociologias, em sua edição número 44, propõe um resgate do pensamento do sociólogo francês na perspectiva de alguns expoentes das ciências sociais e, particular- mente, dos estudos durkheimianos.

O dossiê Cem anos sem Durkheim. Cem anos com Durkheim, coordenado por Raquel Weiss, Rafael Faraco Benthien e Clarissa Eckert Baeta Neves, busca dar conta de existência de três distintas leituras da obra de Durkheim por parte de seus analistas e seguidores e, ao mesmo tempo, sondar a persistência de suas teorias no campo atual das ciências sociais e as possibilidades de atualização do pensamento durkheimiano no contexto das sociedades contemporâneas. Ainda que transitando por toda sua obra, reunindo autores de Brasil, Canadá, Estados Unidos e França, o dossiê enfatiza As Formas Elementares da Vida Religiosa, último livro publicado em vida por Durkheim, e que serviu de objeto a diferentes análi-ses da trajetória teórica desse que é considerado um dos pais fundadores da Sociologia.


seção Artigos dessa edição abre com o trabalho de María Candelária Sgró Ruata sobre os debates que se estabeleceram no Congresso argentino, quando da votação do projeto de reforma do Código Civil, em 2010, o qual contemplou o reconhecimento de direitos iguais de matrimônio para casais do mesmo sexo. Em sua pesquisa, Sgró Ruata foca os discursos de oposição a essa reforma, buscando identificar neles os sentidos vinculados à dimensão religiosa ao justificar a oposição. A partir disso, discute o papel desempenhado pela religião no que ela denomina um público fuerte.

No segundo artigo dessa seção, Elaine de Azevedo apresenta uma ampla revisão teórico- -conceitual das interfaces entre alimentação, sociedade e cultura na contemporaneidade. Por intermédio de uma análise interdisciplinar de estudos sobre alimentação, a autora identifica cinco grandes eixos temáticos em que se podem enquadrar tais estudos, mas alerta para a frequente imbricação entre vários deles e para a necessidade de estudos empíricos, de caráter interdisciplinar, que possam legitimar essa categorização.

No terceiro artigo, Maria Luiza de Santana Lombas apresenta uma análise sobre a mobilidade internacional acadêmica, através de um estudo sobre trajetórias de pesquisadores e pesquisadoras brasileiras entre os anos de 1996 e 2007. Lombas demonstra que a mobilidade internacional contribui para enriquecer a ciência brasileira, ao oportunizar vínculos entre pesquisadores no país e instituições de excelência em pesquisa no exterior, e que não tem um impacto de brain drain, posto que a grande maioria dos que saem para estágios no exterior retornam ao país e aqui permanecem por largo tempo pesquisando, principalmente, em instituições universitárias.

Marco Bettine, no quarto artigo dessa seção, refaz o caminho teórico trilhado por Jürgen Habermas na construção de sua Teoria da Ação Comunicativa (TAC). Para isso, o autor estabelece um diálogo entre as considerações do próprio Habermas, na argumentação que fundamenta a TAC, e a literatura secundária que analisa a teoria.

A seção Interfaces traz a contribuição de João Márcio Mendes Pereira, com uma análise, ao mesmo tempo sucinta e abrangente, da trajetória da agenda política do Banco Mundial (BM) entre 1980 e 2014, focada nos condicionantes de ajuste estrutural, especialmente no continente latino-americano. A análise evidencia o caráter crescentemente politizado, abarcador e intrusivo das prescrições do BM e traz elementos ricos para a compreensão dos enlaces societais dessas intervenções com a evolução do contexto sociopolítico na América Latina.

No segundo artigo dessa seção, Felipe Rangel de Souza Machado e Camila Furlanetti Borges analisam a questão da participação na formulação e controle social das políticas do Sistema Único de Saúde (SUS), sob a ótica da implantação das ouvidorias e das características assumidas por estas no estado do Rio de Janeiro.

Na seção Resenhas, Bernardo Caprara apresenta e discute a obra de Thomas Picketti, O capital no século XXI (Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014) que examina a questão da persistência da desigualdade econômica nas sociedades contemporâneas. Para além de discutir a obra, Caprara busca propor uma agenda para a Sociologia atual, voltada a identificar “a gênese e a legitimação da reprodução das desigualdades de oportunidades no nosso tempo”.

Esperamos com esse número retomar o debate teórico e sua característica de representação da realidade, propiciando frutíferas discussões sobre a sociedade contemporânea e suas muitas possibilidades futuras.

Acesse no link a seguir a nova edição da Revista Sociologias.