A nova edição da Revista eletrônica e-metropolis traz como destaque o artigo “A hinterlândia, urbanizada?”, do professor Neil Brenner que propõe uma nova perspectiva crítica a respeito da chamada “Era Urbana” ao problematizar os conceitos e teorias que regem o conhecimento sobre os fenômenos da urbanização. Brenner afirma que existem na atualidade certos fenômenos de urbanização que estão invisíveis ao paradigma científico hegemônico. Como exemplo, ele fala da hinterlândia como representante de um conjunto de paisagens e territórios que, mesmo não dispondo de uma “imagem urbana”, são espaços fundamentais à reprodução das cidades.
A revista eletrônica e-metropolis é uma publicação trimestral que tem como objetivo principal suscitar o debate e incentivar a divulgação de trabalhos, ensaios, resenhas, resultados parciais de pesquisas e propostas teórico-metodológicas relacionados à dinâmica da vida urbana contemporânea e áreas afins.
É direcionada a alunos de pós-graduação de forma a priorizar trabalhos que garantam o caráter multidisciplinar e que proporcionem um meio democrático e ágil de acesso ao conhecimento, estimulando a discussão sobre os múltiplos aspectos na vida nas grandes cidades.
EDIÇÃO 25
EDITORIAL
Apresentamos a nossos leitores a nova edição da Revista e-metropolis, na qual estamos trazendo temas que remetem a aspectos bastante atuais das metrópoles brasileiras. Começamos com nosso artigo de capa, A hinterlândia, urbanizada?, no qual o professor de Teoria Urbana da Harvard University, Neil Brenner, traz uma nova perspectiva crítica a respeito da chamada “Era Urbana” ao novamente problematizar os conceitos e as teorias que regem o nosso conhecimento sobre os fenômenos de urbanização. Em um primeiro momento, Brenner problematiza a metodologia de mensuração urbana utilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que anunciou em seu relatório que mais de 50% da população mundial já estaria vivendo em meios urbanos desde 2008.
O autor levanta dúvidas acerca do que é designado como “zona urbana” para cada país e, diretamente, para seus respectivos contextos demográficos, culturais e sociais, indicando, portanto, que esses dados mereceriam análise mais qualitativa. Além disso, o autor também cita que existem na atualidade certos fenômenos de urbanização que estão invisíveis ao paradigma científico hegemônico. Como exemplo, ele fala da hinterlândia como representante de um conjunto de paisagens e territórios que, mesmo não dispondo de uma “imagem urbana”, são espaços fundamentais à reprodução das cidades. Por ser uma grande abastecedora de recursos naturais às necessidades urbanas de produção, a hinterlândia também é um espaço urbanizado, mas que não recebe atenção.
No artigo Rio de Janeiro: Impactos territoriais e o ajuste espacial na cidade olímpica, Orlando Santos Junior e Patrícia Novaes argumentam que o contexto da preparação da cidade do Rio de Janeiro para receber dois megaeventos esportivos, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, levou a profundas reestruturações urbanas da cidade e do seu padrão de governança, que caminharam em direção ao que pode ser caracterizada de uma urbanização neoliberal. Neste contexto, os autores discutem como a reconfiguração urbana de alguns espaços da cidade podem apontar para processos de gentrificação e para o aprofundamento das desigualdades socioespaciais.
Em seguida o texto Hierarquia, policentrismo e complexidade em sistemas urbanos, de Carlos Gonçalves, trata de como a discussão sobre a configuração dos sistemas urbanos mantém centralidade nos estudos regionais e urbanos. O autor propõe, nessa perspectiva, as possibilidades de se integrar analiticamente as noções de hierarquia, de rede, de policentrismo e de complexidade na compreensão dos sistemas urbanos.
Finalizando, temos o artigo Reassentamento involuntário em projetos de saneamento em Belém do Pará. O texto de José Julio Ferreira Lima e de Monique Bentes Machado Sardo Leão analisa alguns episódios de remoção e reassentamento decorrentes de grandes projetos de saneamento que foram realizados pelo poder público na cidade de Belém ao longo das últimas décadas. Os autores apresentam alguns pontos críticos dessas intervenções e questionam as soluções que vem sendo adotadas e as diretrizes dessas ações, em grande parte orientadas pelos modelos difundidos por organismos internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Abordando temas diversos, as questões levantadas pelos autores permanecem totalmente pertinentes às discussões atuais a respeito das metrópoles, e aos questionamentos que vêm sido insistentemente levantados a respeito de que tipo de cidade queremos e a quem ela deve atender em suas reformulações, sua espacialidade, seu planejamento e sua política.
Na entrevista desta edição, Erick Omena de Melo entrevista Marie Huchzermeyer, professora da Escola de Planejamento e Arquitetura na Universidade Witswatersrand, em Joanesburgo. Huchzermeyer tem desenvolvido um estudo sobre a relação da produção intelectual de Henri Lefebvre com a noção do “direito à cidade” na perspectiva das regiões semi-periféricas e seus movimentos sociais urbanos. Ao discorrer sobre os resultados desta pesquisa, a professora traça um quadro comparativo da questão do direito à cidade em seu país natal, a África do Sul, e no Brasil, além de explicar o seu interesse pela relação entre Lefebvre e o contexto latino-americano como produto de uma tentativa de leitura das cidades a partir da periferia.
A seção especial apresenta alguns resultados do curso de extensão “As cidades e a produção de subjetividades”, desenvolvido pelos estudantes do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (UFRJ), uma reflexão coletiva sobre os processos de segregação socioespacial em curso e sobre a experiência sensível dos corpos na cidade.
Por fim, em nosso ensaio fotográfico, apresentamos o trabalho de Fabiano Gozzo, que nos mostra um outro olhar sobre a Estação Brás do Metrô de São Paulo. “O olhar passageiro” de Gozzo acompanha “a poética urbana” do labirinto de cimento e ferro da estação.
Acesse a edição nº 25 no site da Revista e-metropolis.