Espaço urbano e financeirização
A Revista Civitas, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-RS, divulga a sua nova edição (v. 17, n.1) com o dossiê “Finanças e Sociedade”. A proposta da publicação é abordar o fenômeno da financeirização mundial a partir do campo das Ciências Sociais — mais especificamente da Antropologia e da Sociologia Econômica, discutindo questões como as relações de diversos países e o Fundo Monetário Internacional (FMI); fenômeno da monetarização das políticas públicas e da financeirização do acesso à moradia; entre outros.
Segundo os organizadores, os trabalhos apresentados na edição (v.17, n.1) tornam patente a importância da análise do contexto social para que se possa identificar os atores, os interesses, as lógicas, as ideologias e moralidades envolvidos ou mesmo forjados no desenrolar dos processos de caráter financeiro para que eles sejam efetivamente compreendidos.
O dossiê “Finanças e Sociedade” apresenta alguns cenários de análise. No primeiro deles, por exemplo, os artigos tratam do fenômeno da financeirização como efeito de processos múltiplos e heterogêneos. Esses artigos levam a perceber a diversidade de níveis e de atores envolvidos (agências internacionais, estados nacionais, instituições financeiras, coletivos sociais) em dinâmicas claramente pautadas por relações de poder. A diversidade de interesses, de lógicas de ação, e a capacidade de agência desses atores deixam em aberto a determinação do ritmo dos processos e a configuração de seus resultados.
Já o segundo cenário para a análise da financeirização são as dinâmicas monetárias e as práticas de consumo cotidiano vivenciadas pelos grupos populares. Os artigos que seguiram nessa direção nos levam a perceber a complexidade das situações que articulam fluxos financeiros de amplitude global e políticas de âmbito nacional aos circuitos econômicos locais e a dinâmicas domésticas. Também nos fazem compreender como cosmovisões, moralidades e formas de contabilidade específicas são capazes de produzir configurações muito particulares deste fenômeno.
Por fim, o terceiro cenário sobre o qual os pesquisadores se debruçaram para o estudo do fenômeno da financeirização é o próprio mercado de capitais. A análise dos imaginários, das ideologias, das moralidades que legitimam o funcionamento das instituições financeiras e que pautam as práticas de profissionais e investidores são os temas dessa terceira frente.
Complementando os textos contidos no dossiê, tem-se a resenha do livro de Raquel Rolnik, intitulado “Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças”, elaborada por Moisés Kopper. Esta resenha coloca em contato com um trabalho muito denso e fartamente documentado cujo tema está diretamente implicado com as questões levantadas pelos demais artigos que compõem esse número da Civitas. Trata-se do processo de financeirização do acesso à moradia em países como Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Croácia, África do Sul, Cazaquistão, Ruanda, Indonésia, entre outros. A autora demonstra como os mercados financeiros substituíram ou encompassaram as políticas públicas de habitação, regulando a alocação da moradia e redesenhando a arquitetura das cidades, num processo que se deu com a cumplicidade do estado e dos cidadãos “em via de se tornarem consumidores”.
Acesse, no link a seguir, a nova edição da Revista Civitas.