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Entre agosto e novembro de 2024, mais de 250 pesquisadores percorreram as ruas de 18 cidades brasileiras para entrevistar pessoas que utilizam a bicicleta no dia a dia. Além de características sociodemográficas, a 4ª edição da Pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro levantou dados sobre a frequência de uso, as motivações por trás da escolha desse meio de transporte, o tempo gasto nos principais trajetos e a integração com outros modos. Como grande novidade em relação às edições anteriores, foi incluída, para as mulheres, uma pergunta específica sobre experiências de importunação ou assédio enquanto pedalavam.

As entrevistas foram realizadas com pessoas de 12 anos ou mais que estavam pedalando, empurrando ou estacionando a bicicleta durante os dias úteis da semana. Os resultados permitem compreender os hábitos, dificuldades, razões e estímulos para o uso da bicicleta, mesmo em cenários onde as condições para sua circulação são bastante desfavoráveis.

A pesquisa foi coordenada nacionalmente pela ONG Transporte Ativo e contou com o envolvimento de diversas organizações não governamentais, coletivos ativistas, universidades e prefeituras. Para Zé Lobo, coordenador nacional da pesquisa, a 4ª edição confirma a importância dos dados coletados como subsídio imprescindível para gestores públicos, pesquisadores e outros atores envolvidos na defesa da bicicleta.

Juciano Rodrigues, pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles e um dos coordenadores técnicos do levantamento, acrescenta que a pesquisa também contribui para a produção de conhecimento sobre a bicicleta no âmbito acadêmico, despertando a atenção para esse tema e sua relação com o planejamento dos transportes e as políticas urbanas em cada cidade.

Para Andréa Porto Sales, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e uma das coordenadoras do levantamento em João Pessoa, a pesquisa representa um marco crucial para a compreensão e o planejamento da mobilidade urbana sustentável na cidade. Segundo ela, que também é pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles, ao preencher uma lacuna significativa na ausência de dados específicos sobre o uso da bicicleta como meio de transporte, essa investigação oferece um panorama valioso para direcionar políticas públicas e investimentos em infraestrutura cicloviária.

Na maior parte das cidades pesquisadas, o principal motivo apontado para a escolha da bicicleta como meio de transporte é a rapidez e a praticidade. Em Fortaleza, por exemplo, essa é a motivação para 60% das pessoas entrevistadas. Segundo Juciano Rodrigues, esse dado pode ser entendido também como um indicador da maneira como a bicicleta se insere no sistema de mobilidade: “A bicicleta é uma opção para melhorar o acesso às oportunidades da cidade diante de um trânsito cada vez mais caótico, dominado por automóveis, e de um transporte público pouco eficiente e caro.”

O maior uso da bicicleta, por sua vez, depende de infraestruturas adequadas. Na maioria das cidades, esse é o principal estímulo para o aumento do uso da bicicleta. Tanto em cidades menores, como Araucária, no Paraná, onde mais de 62% dos entrevistados disseram que utilizariam mais a bicicleta se encontrassem mais infraestrutura adequada, quanto em grandes cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde esse fator foi apontado por 47,7% e 52,8% das pessoas, respectivamente. Para a professora da UFPB, o fomento à pesquisa e o investimento em infraestrutura constituem pilares essenciais para transformar a bicicleta em uma alternativa de transporte viável e segura para todos os cidadãos.

Sobre a pergunta feita às mulheres sobre importunação ou assédio, os resultados variam consideravelmente entre as cidades. Os menores percentuais foram registrados em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro (16,9%), e em Salvador (25,4%). Por outro lado, a parcela de mulheres que relataram já ter sofrido algum tipo de assédio ou importunação foi mais alta em São Paulo, com 65,7%, e em Belém, onde o percentual chegou a 67,7%. Em João Pessoa, esse percentual alcançou 40% das mulheres entrevistadas que utilizam a bicicleta como meio de transporte. Esse resultado, segundo Andrea Porto, sublinha a urgência de medidas que garantam a segurança e o respeito às mulheres no espaço público.

Os resultados completos da 4ª edição da Pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro estão disponíveis em: transporteativo.org.br