Vera Chaia¹
Rosemary Segurado²
No dia 30 de outubro ocorreu o 2º turno das Eleições 2022. Em São Paulo, os candidatos que disputaram o cargo de governador foram Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores). Lembremos que Tarcísio foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para concorrer para o governo de São Paulo, visando ocupar a política do estado mais populoso e mais rico do país. Ele estava residindo somente há seis meses na capital paulista e teve que estudar as características e os problemas de nosso estado.
As suas declarações e perguntas no último debate transmitido pela Rede Globo, no dia 27 de outubro, foram ensaiadas e decoradas, buscando mostrar conhecimento do estado. Além disso, teceu críticas às gestões do PT, assumindo, portanto, um braço da eleição presidencial. Fernando Haddad já havia sido Ministro da Educação nas gestões de Lula e Dilma Rousseff (2005 a 2012) e prefeito da capital paulista (2013 a 2016). No debate, apresentou pleno conhecimento do estado de São Paulo, além de um programa de governo consistente, viável e, mais importante, capaz de estabelecer políticas públicas em áreas fundamentais, como educação, saúde e habitação.
Ao final da apuração no domingo, Tarcísio obteve 55,27% dos votos válidos e Haddad ficou com 44,73%.
Em quais regiões Tarcísio ganhou mais votos?
Tarcísio venceu na maioria das cidades do interior, de tradição conservadora e antipetista. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), terá a maioria: 63 das 94 cadeiras. O expressivo número de deputados que compõe a base de apoio do governador eleito pode garantir margem considerável para a aprovação de projetos importantes que sinalizam mudanças do desenho institucional, principalmente se levar à frente alguns projetos de privatização de empresas públicas, como, por exemplo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Apesar da votação expressiva de Tarcísio no interior do estado, Haddad venceu na capital e em várias cidades da região metropolitana. Lula, candidato à presidência, acompanhou o resultado de Haddad e também venceu na capital. Significa dizer que, apesar da derrota de Haddad, o PT obteve a melhor votação da sua história no estado e, certamente, aproveitará esse capital político obtido nas urnas para estruturar a oposição, tentando bloquear projetos que não estão de acordo com o programa de governo apresentado na campanha, além de trabalhar para articular as eleições municipais de 2024, buscando recuperar o expressivo número de prefeituras que o partido tinha antes do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, que praticamente eliminou o partido das prefeituras paulistas.
Um fator importante será a relação e o espaço que o grupo bolsonarista terá na composição do secretariado, principalmente muitos quadros políticos que atuam no primeiro e segundo escalão de Bolsonaro podem vir a participar do governo, porém ainda não está claro o tipo de influência que terão no governo estadual.
Podemos levantar que o grande problema que envolve o vencedor, é a falta de conhecimento de São Paulo e a ausência de referências em seu programa de governo à parte cultural, educacional e científica. As universidades estaduais paulistas, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Estadual Paulista (UNESP), com a atuação importante da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), como agência financiadora de projetos científicos em todas as áreas de conhecimento, não foram lembradas e é com grande preocupação que defendemos a preservação de sua excelência e autonomia.
Também podemos lembrar que as instituições culturais como a Pinacoteca, Museu Afro, Orquestra Sinfônica de São Paulo, Sala São Paulo, Fábricas de Cultura, Teatro Sérgio Cardoso, TV Cultura, dentre outras instituições, são uma referência nacional e internacional, merecendo respeito e autonomia gerencial. Na área científica, destacamos a própria Sabesp, o Butantan, as Reservas Ambientais da Mata Atlântica, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), instituições e áreas reconhecidas como de excelência e que não foram citadas por Tarcísio, com exceção da Sabesp, órgão previsto a ser privatizado pela sua gestão.
¹ Pesquisadora do Núcleo São Paulo do Observatório das Metrópoles.
² Pesquisadora do Núcleo São Paulo do Observatório das Metrópoles.