Uma ocupação de 26 andares desmoronou, no centro de São Paulo, acendendo um alerta vermelho. Em meio aos destroços do incêndio, a crise habitacional paulistana ficou exposta. Centenas de famílias perderam tudo no desabamento da Torre de Vidro. Mas, para muitas delas, não era a primeira mudança forçada.
É o caso de Deise, que passou a acampar no Largo do Paissandu. A barraca de camping, instalada em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e à antiga morada incendiada, é mais um lar improvisado. Sete anos atrás, ela sofreu outra mudança indesejada, quando um incêndio destruiu a casa onde morava na Favela do Moinho. Passou a morar numa ocupação na Avenida Rio Branco, em Campos Elíseos, mas em abril deste ano foi expulsa de casa pelo governo do Estado, para que o quarteirão onde morava com centenas de outras famílias pudesse dar lugar a um hospital. Viveu na Torre de Vidro por apenas duas semanas, até tudo virar cinzas.
A Rede INCT Observatório das Metrópoles divulga o texto “Refugiados urbanos: as vítimas do desastre habitacional paulistano”, assinado pelo pesquisador Felipe Villela e publicado originalmente no site do Observatório das Remoções de São Paulo.
Após a tragédia ocorrida no dia 1º de maio em São Paulo, o que se viu foi uma a enxurrada de discursos muitas vezes rasos sobre os processos de ocupação, análises simplistas sobre as lutas dos movimentos sociais por moradia digna. Para confrontar esses discursos, o INCT Observatório das Metrópoles está divulgando textos de seus pesquisadores e de parceiros que possam descrever, com mais precisão e complexidade, a realidade de quem luta por moradia no país.
O Observatório de Remoções é um grupo de pesquisa-ação da FAU/USP e da UFABC que tem por objetivo monitorar e desenvolver ações colaborativas com territórios ameaçados de remoções que desrespeitam as condições de moradia digna nos municípios de São Paulo e do ABC.
Segundo Felipe Vilela, no texto “Refugiados urbanos: as vítimas do desastre habitacional paulistano”, a soma de tantos descasos contribuiu para a crise habitacional que explodiu no debate público com o incêndio na Torre de Vidro. “A tragédia lança luz sobre a condição de permanente transitoriedade de quem circula por ocupações, cortiços, pensões e favelas na cidade de São Paulo e no mundo, como Raquel Rolnik mostrou no livro ‘Guerra dos Lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças’. Para essa população, remoção é apenas o que fica entre uma moradia precária e outra”, escreve o pesquisador.
Leia o texto completo “Refugiados urbanos: as vítimas do desastre habitacional paulistano” no site do Observatório das Remoções de São Paulo.
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