A representação social dominante que vê na favela o território da pobreza por excelência é o objeto deste artigo. Silke Kapp e Margarete Maria de Araújo Silva questionam a hipótese de que o incremento do acesso das populações moradoras de favelas a serviços e bens de consumo modernos constituiria uma mobilidade social rumo à classe média. E argumentam que é mais plausível e faz mais jus aos setores destituídos da sociedade brasileira conceber as mudanças recentes nesses territórios urbanos como expansão da “nova classe trabalhadora” ou dos chamados “batalhadores”.
O artigo “Quem mora nas favelas?”, de autoria de Silke Kapp e Margarete Maria de Araújo Silva, ambas professoras da Escola de Arquitetura da UFMG, discute a representação social dominante que vê na favela o território da pobreza por excelência – dogma sistematicamente combatido pela socióloga Lícia Valladares. Embora admitindo a relevância dessa abordagem, este trabalho procura rediscuti-la à luz da análise de estrutura de classes sociais proposta por Jessé Souza e José Alcides Figueiredo Santos.
Segundo Kapp e Araújo Silva, o espaço é um dos mais importantes “recursos produtores de valor” que classes e grupos privilegiados precisam controlar para manterem seus privilégios. Não que ele gere valor no sentido clássico do valor-trabalho; a terra não é um bem produzido. Mas o espaço gera valor nas formas econômicas de renda da terra, renda fundiária e sobrelucro de localização, na forma socioespacial de poder estratégico (inclusive de polícia) e em inúmeras formas simbólicas.
Para além dos agentes imediatos, é a totalidade social a produtora das representações e ações que reservam a uma parcela da população determinados papéis e lhe interdita, por violência econômica, moral ou mesmo física, o acesso a determinados espaços. Favelas e outras áreas ambiental, jurídica ou socialmente frágeis, tais como os loteamentos periféricos ou conjuntos habitacionais, não surgiram porque seus moradores tenham se retirado deliberadamente da cidade formal e bem provida de infraestrutura urbana; eles surgiram e continuam surgindo por processos de “despossessão” (Harvey, 2011), renovados a cada novo ciclo político, sendo o último deles paradoxalmente caracterizado pela participação popular.
As pessoas que ocupam essas áreas, sejam elas denominadas favelas ou não, sofrem desvantagens “sistemáticas e relevantes”, decorrentes também de sua situação espacial, ainda que tenham conseguido mitigar parte dessas desvantagens ao longo do tempo.
Para ler o artigo completo “Quem mora nas favelas?”, acesse a edição nº 09 da revista eletrônica e-metropolis aqui.