Qual Maracanã você quer?
Construído para abrigar os jogos da Copa do Mundo de 1950, o Maracanã se transformou em espaço mítico e afetivo, símbolo cultural do Rio de Janeiro e do Brasil. Seu projeto original previa a construção de um estádio público e popular, de estrutura grandiosa como forma de receber o maior número de pessoas, independente da raça e classe social. Cerca de 60 anos depois, a reforma do estádio para a Copa de 2014 é feita com uma perspectiva antagônica a esta: o novo Maracanã diminui sua capacidade a menos da metade, atendendo um processo de elitização que vê os estádios como espaços mais exclusivos e caros, reservados a pessoas de maior poder aquisitivo. A pergunta que ainda pode ser feita é: qual Maracanã você quer?
A segunda versão do dossiê “Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio”, produzido pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa e das Olimpíadas, em parceria com o Observatório das Metrópoles e outras entidades, traz em seu capítulo 4 o relato mais completo sobre a situação atual do Estádio Mário Filho – Maracanã. Em um contexto de preparação para os megaeventos esportivos, no qual o Governo Federal, o Governo Estadual e a Prefeitura do Rio de Janeiro difundem via imprensa a ideia da construção de um legado para a população, o que se verifica no caso do Maracanã é um orçamento faraônico, superior a R$ 1 bilhão, quase 50% acima do custo inicial.
Segundo o dossiê, com os recursos para a tal “reforma” do Maracanã poderiam ser construídos dois estádios como o Soccer City, palco da final da Copa de 2010 na África do Sul; ou quatro Sang-am, estádio de abertura da Copa de 2006, em Seul na Coreia do Sul.
Além da ineficiência no gasto de recursos públicos e da falta de transparência por parte do Governo Estadual do Rio de Janeiro, o que se verifica ainda é a destruição do chamado Complexo do Maracanã – com o Estádio de Atletismo Célio de Barros, o Parque aquático Júlio Delamare, uma escola pública municipal – todos esses equipamentos atendiam a população carioca residente na região da grande Tijuca, além de serem símbolos da cultura esportiva da cidade. O argumento do governo estadual para a demolição desses equipamentos diz respeito à construção de estacionamentos para a modernização do Maracanã. Mais. O projeto do governo é retirar esse caráter de espaço de uso público e, atendendo a interesses de grandes grupos empresarias, transformar o local em um grande centro comercial de entretenimento e turismo.
O edital de privatização elaborado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, com base no estudo elaborado pela empresa IMX, indicou a demolição não apenas dos dois equipamentos esportivos, mas também de uma escola pública municipal e da Aldeia Maracanã, um centro cultural indígena instalado no prédio histórico do antigo Museu do Índio. De janeiro – quando a IMX entrega seu projeto – a outubro de 2012 pode-se afirmar com segurança que o governo já sabia das intenções de demolição no Maracanã, mas em nenhum momento os grupos que se relacionam com estes espaços foram consultados ou informados. Professores, pais de alunos, atletas, indígenas e usuários e pessoas beneficiadas pelos projetos sociais nos espaços esportivos souberam dos planos do governo através da imprensa, quando foi apresentada uma minuta do edital de concessão.
Em todo o caminho de demolição, reconstrução e privatização do complexo do Maracanã, o governo estadual ignorou de forma autoritária as muitas manifestações e tentativas de diálogo por parte de entidades e grupos que se relacionam com suas instalações e que quiseram opinar e contribuir com a formulação de políticas públicas para aquele espaço. Torcedores, atletas, pais de alunos, professores, indígenas, antropólogos, pesquisadores e professores universitários… Cidadãos brasileiros foram impedidos de participar.
Por essa razão, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa e das Olimpíadas abriu a “Consulta Pública Popular do Maracanã” (http://consulta.omaracaenosso.org.br) com o objetivo de dar espaço para a participação de qualquer pessoa, grupo ou entidade que queira debater e documentar suas propostas sobre qual a configuração e o modelo de gestão que seriam mais proveitosos para o Complexo do Maracanã e para a cidade doRio de Janeiro. O projeto se baseia em processos de consulta pública realizados através da internet por governos e instituições no Brasil e em outros países.
O site estará no ar até 15 de junho, data de estreia da seleção brasileira na Copa das Confederações, e traz propostas bases elaboradas pelo Comitê que ficaram abertas para contribuições. Qualquer pessoa pode participar e deixar suas posições sobre o estádio, sobre os equipamentos do complexo ou sobre a sua integração na região. Ao final do período de consulta um relatório vai documentar tudo que foi proposto e debatido, servindo de registro das propostas da sociedade civil que estão caladas pelo governo.
Participar dos debates sobre qual o Maraca que queremos é contribuir para os processos de participação popular no Rio de Janeiro e dar um recado para os governos: democracia se faz assim, fomentando o debate, abrindo canais de participação, ouvindo a população, e integrando suas demandas e propostas nos projetos formulados para os espaços e serviços públicos.
Participe da Consulta Pública. Qual maraca você quer?
Faça aqui o download da segunda versão do dossiê “Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio”.
Para mais informações, acesse o site do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas.