Protesto contra remoções em Fortaleza Crédito: Agência Pulsar
Expressão da lógica de expropriações para o processo de valorização do capital, as remoções que ocorreram em Fortaleza por conta da Copa do Mundo são objeto de análise do artigo de Anna Barbosa, “Produção do espaço e remoções: Copa do Mundo 2014 em Fortaleza”, que nos mostra ainda como os atingidos pelas expropriações, em geral pessoas de nível socioeconômico mais baixo, têm se organizado na busca por garantir seu direito à cidade.
O artigo “Produção do espaço e remoções: Copa do Mundo 2014 em Fortaleza”, é um dos destaques da edição nº 18 da Revista eletrônica e-metropolis.
Abstract
The residential mobility is a common process in the cities. The organization of the urban space is a relevant cause of this phenomenon. In this moment that cities are preparing for World Cup in Brazil, urban projects are directed to the cities, configuring a new urban espacial organization. Then, the purpose of this paper is try to understand how the actions associated with the World Cup in Fortaleza city can motivate the residential mobility, in special the influences on the more poor people, that lives in the areas destinated by government to the projects. The city is growing by urban projects with the purpose of improvement in infrastructure in certain parts of the territory, contributing to the property market and the turism. Then, the State remove families from them houses, majority of poor classes, to build the large projects. These families fight for right to the city, performing resistance moviments.
INTRODUÇÃO
As pessoas deslocam-se de um lugar para outro por diferentes motivos e em diferentes escalas. Esta mobilidade pode estar relacionada ao trabalho, a conflitos, a catástrofes naturais ou mesmo a questões particulares de cada indivíduo. A mobilidade residencial é um tipo de mobilidade comum nas cidades, que é analisada na escala intraurbana. Ela está diretamente ligada à habitação na cidade, à apropriação e à produção desigual do solo urbano pelos sujeitos que compõem o espaço e às relações de trabalho. Em Fortaleza, bem como em outras cidades brasileiras, a mobilidade residencial, em parte, deve-se a dinâmica de acumulação capitalista, que interfere na organização espacial da cidade.
Atualmente, a capital cearense tem apresentado uma intensificação no processo de produção espacial, cuja razão relaciona-se ao megaevento Copa do Mundo 2014. Fortaleza é uma das 12 subsedes brasileiras que sediarão o megaevento. Assim, a cidade vem passando por uma série de transformações espaciais, que vão desde a instalação de infraestrutura urbana, à construção de grandes equipamentos que se materializam em diferentes porções da cidade.
A forma como as cidades são produzidas e organizadas, revelam uma realidade contraditória, cuja segregação socioespacial é uma marca dessa dinâmica. O espaço, enquanto mercadoria, restringe cada vez mais o acesso de todos a determinadas áreas da cidade. As paisagens urbanas mostram cidades diferentes em um mesmo espaço, mas que se conectam e se complementam. Tem-se, deste modo, uma apropriação diferenciada do espaço urbano, por parte da sociedade, e que resulta, entre vários fatos, na mobilidade residencial.
Em Fortaleza, as áreas que mais recebem investimentos para obras da Copa do Mundo são aquelas voltadas para o turismo e para o uso da classe média e alta, área já concentradora de infraestrutura urbana e equipamentos. Assim, os novos equipamentos que se instalam favorecerão ainda mais sua valorização, bem como promoverão a expulsão, direta ou indireta, de muitas famílias. Parte destas está sendo forçada a se desligar dos seus atuais locais de residência, em especial as mais pobres, para dar lugar aos novos equipamentos que se instalam, impulsionando a mobilidade dessa população na cidade.
Deste modo, o objetivo deste artigo é analisar o processo de produção espacial que vem ocorrendo em Fortaleza, inserido no contexto da Copa do Mundo, que promove valorização do solo e expulsão de populações pobres das áreas que abrigarão os projetos urbanos. A relevância deste tema está em analisar como a nova dinâmica imobiliária, proporcionada pela concentração de infraestruturas e equipamentos, pode afetar (ou não) o direito à cidade de parte da camada pobre da população de Fortaleza, que possui um histórico de resistência e de permanência em áreas centrais da cidade e de grande interesse do capital imobiliário.
Acesse a edição nº 18 da Revista e-metropolis.
Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 06-11-2014 16:26:48