A polis sem política | por Camila Lobino
Em “The post-political city”, Erik Swyngedouw dedica atenção aos sentidos atribuídos às noções “cidade” e “política” e seus rebatimentos sobre as políticas urbanas contemporâneas. O autor não as operacionaliza apenas como categorias profundamente associadas na tradição ocidental, mas também enquanto “realidades” mergulhadas na complexidade dos contextos atuais.
A interpretação de Swyngedouw se desenvolve sob a luz da leitura de David Harvey e seu entendimento sobre a “reestruturação produtiva”, aliada à noção presente em Foucault de “conduta da conduta” e, principalmente, do entendimento da “democracia pós-consensual” de Jacques Rancèire.
É através dos marcos do capitalismo tardio e suas incidências sobre as políticas urbanas que Swyngedouw anuncia a morte da dimensão política da cidade e, ao mesmo tempo, a crescente vivacidade da dimensão da cidade criativa, flexível e arrojada que se movimenta estrategicamente conforme as demandas das redes de empresas transnacionais, as alocações dos fluxos dos capitais internacionais, a reestruturação do mercado de trabalho. As redefinições de ordem simbólica e material orquestradas pelas políticas neoliberais têm suas exigências respondidas pelas novas agendas de políticas para as cidades. E estas refletem as preocupações com a regulamentação, competitividade, o empreendedorismo e o crescimento econômico, em detrimento das políticas de redistribuição urbana.