O ensaio da edição nº 11 da Revista e-metropolis debate uma questão sempre muito presente nas diferentes regiões do mundo: a devastação provocada, seja nas cidades, seja na área rural, por desastres naturais. No caso, a tragédia advinda pela passagem do furacão Sandy, na costa leste dos Estados Unidos, em outubro de 2012. Por meio de um conjunto de imagens, Ariel Agai nos leva a refletir sobre a capacidade humana de se solidarizar com o outro e servi-lo; e, por outro lado, sobre a inabilidade e o despreparo dos governos no processo de ajuda emergencial.
Essa reflexão de Ariel Agai se estende ainda pelos seis vídeos compilados pelo autor para retratar a realidade das famílias e o desamparo legal e assistencial em que se encontram quando a tragédia acaba e é preciso recomeçar. Essa reflexão, embora parta de uma situação específica ocorrida nos Estados Unidos, é importante e muito pertinente também para a realidade brasileira, tendo em vista os desastres frequentes causados por chuvas em todo o país.
Para ver o ensaio completo “Para além do físico, sobreviventes: furacão Sandy, resposta emergencial e a necessidade por mudanças criativas sistêmicas”, acesse a versão completa da edição nº 11 da Revista e-metropolis aqui.
DEPOIMENTO | Ariel Agai
Acredito que uma das mais valiosas características do ser humano é a motivação empática para assistir aos seus semelhantes. Eu vejo essa característica renovada sistematicamente, e de forma mais destacada durante crises, ou super-momentos: interrupções abruptas no cotidiano; tempos de exacerbada fragilidade vividos em massa.
Como morador de Greenwich Village na cidade de Nova Iorque, não busquei abrigo do estresse e sentimentos de desespero que as pessoas que acompanharam o desastre do World Trade Center à distancia sentiram. Junto aos inúmeras pessoas da região, eu estive fisicamente lá, pronto para ajudar, liberto do peso da imaginação.
Recentemente, e de maneira similar ao onze de setembro, o furacão Sandy teve implicações pessoais únicas, já que fui criado em Staten Island, uma das áreas mais atingidas. Como voluntário, com um machado em uma mão e uma câmera de Iphone na outra, me vi no que eu pensei ser das últimas fases de um processo de ajuda humanitária: limpeza e disseminação de informação.
Mesmo que nossos esforços tenham parecido importantes e restaurativos para minha cidade natal, me dei conta quase imediatamente, que tinha algo critico faltando em nossos esforços, ou inalcançável, dada a escala da tragédia: nossa inabilidade de oferecer aos sobreviventes uma estratégia para a reconstrução de suas vidas apos nossa saída.
Durante essa experiência pude acompanhar o pesadelo das famílias desabrigadas ao navegar totalmente despreparadas por burocracias lentas e ineficazes, os mesmos sistemas que desafiam nossas paciências mesmo nas melhores circunstancias. Os sobreviventes com os quais trabalhei buscavam respostas dos governos local, estadual e federal, com freqüência sem sucesso. Enquanto as políticas das seguradoras afundavam, acabei direcionando meus esforços da demolição e captura de imagens de maneira mais ampla, para assistência as famílias e fundraising. Os voluntários, como eu, passamos a fazer o trabalho que profissionais do direito, finanças e psicologia deveriam estar provendo desde que o Sandy se abateu sobre o território. Isso não era nossa especialidade, mas era evidente que mesmo os mais óbvios conselhos de como proceder eram bem vindos enquanto as pessoas recomeçavam do zero após uma devastação sem solução à vista. Quanto mais me inseria na história, mais claro ficava: os sobreviventes precisavam o que qualquer família com recursos a sua disposição faria, aquilo que as empresas seguradoras e agências governamentais nunca operam sem: representação pessoal-legal.
De maneira muito simples, desde o dia 30 de outubro de 2012 até o momento, a maior parte das famílias afetadas ainda não têm orientação ou assistência profissional mesmo para a questão mais básica: “o que devo fazer agora?” Sem dúvida, devíamos nos perguntar: os sistemas de administração de crise dos governos federal e local têm conseguido fazer seu trabalho com as ferramentas ao seu dispor, eles estão provendo suporte adequado para as vitimas da devastação? Enquanto vítimas são forçadas a disputar por recursos limitados, recursos que podem mudar vidas em nosso mundo interconectado, cada vez mais rápido, estamos usando essas vias de informação para melhorar nossa habilidade?
Com base em minha experiência, posso concluir que, se a principal responsabilidade de uma nação desenvolvida é proteger seus cidadãos, trazê-los das margens de maneira mais rápida e com o menor sofrimento possível, o sistema atual de assistência dos Estados Unidos pede desesperadamente por uma mudança de paradigma.
Atualmente, com os avanços em tecnologias acessíveis, como centrais de comunicação móveis, torres para celulares em miniatura, quiosques pré-fabricados, geradores de energia (inclusive estações de energia renováveis), scanners, smartfones, e laptops; e devido a comunicabilidade de pessoas interessadas através de internet e outras plataformas móveis, podemos, sem hesitação, desenhar um novo plano no jogo de como administrar a resposta imediata em momentos de crise, ambos da perspectiva sistêmica quanto da base, como fica evidente a partir da experiência ganha pelos que têm inovado nesse campo (ver os links abaixo). Ironicamente, temos que desmascarar essas questões com as mesmas ferramentas e tecnologias que poderíamos estar usando para resolvê-las.
Eu realmente acredito que uma das mais valiosas características do ser humano é a motivação empática para assistir a nossos semelhantes. De alguma forma, o poder indescritível da Mãe Natureza nos dá uma oportunidade de encontrar paz no outro durante a neblina dos super-momentos. Existe beleza nesse desconhecido, eles nos demanda viver no presente; inevitavelmente preenche o vazio deixado pela crise e nos dá chance de renovação. Não podemos substituir as perdas materiais, e certamente perda de pessoas que amamos ou amigos, mas podemos aprender dos grupos e indivíduos que estão à frente no re-desenho o modelo e devemos assumir a responsabilidade de aprender dessas experiências para oferecermos ao próximo grupo de sobreviventes um chance para que eles possam verdadeiramente reconstruir suas vidas com dignidade.
Última modificação em 20-02-2013