Organizado pelo Grupo Direitos Urbanos, o primeiro Ocupe Estelita reuniu, no dia 15 de abril, jornalistas, produtores culturais e fez o grupo de “ativistas de sofá” rapidamente passar dos 5.000 integrantes no Facebook. Um dia inteiro de ocupação no até então árido e muitas vezes esquecido Cais José Estelita, em Recife. Depois disso, foram mais três atos no mesmo local e uma sessão no histórico Cine São Luiz. Texto de Eduardo Amorim e ensaio de Leonardo Cisneiros.
Ocupe Estelita
Por Eduardo Amorim
As manifestações foram organizadas pelo grupo Direitos Urbanos. Formado por sociólogos, filósofos, jornalistas, arquitetos, artistas, alguns com formação acadêmica. Eles se organizaram na internet, onde essa gente de diversas áreas e formações começou a esboçar uma necessidade de discutir os problemas criados pelo crescimento desordenado de Pernambuco e do Brasil.
Muitos já tinham travado longas discussões quando vieram finalmente a se encontrar, em audiência pública realizada para discutir um megaprojeto imobiliário, no último dia 22 de março. O Novo Recife é ideia da construtora Moura Dubeux. Um paredão de 13 prédios, alguns deles na faixa dos 40 andares, formando uma barreira na visão de quem olha da Zona Sul para o Centro da cidade.
A avenida liga a Zona Sul ao Centro do Recife. Geograficamente, faz parte do bairro de São José, mas está afastado por um viaduto do burburinho das lojas que marcam o tradicional bairro de onde sai o Galo da Madrugada. E também de dois grandes edifícios construídos após controversa aquisição de terreno pela mesma Moura Dubeux. Naquela primeira ocupação, os ciclistas foram os primeiros a chegar e naturalmente criaram um bicicletário com vista para a Bacia do Pina. A artista plástica Clara Moreira trouxe uma plaquinha pintada de vermelho para lembrar as Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis). Teve gente que aproveitou para protestar contra a omissão do poder público: Prefeitura covarde, dizia uma faixa.
Não faltou quem chegasse de barco ao Cais José Estelita. E as crianças se juntaram aos artistas para colorir as paredes manchadas dos antigos armazéns da área portuária. Algumas pessoas vestiram até fantasia para protestar contra a cultura dos carros e exigir que o poder público se posicione em relação à utilização dos 10 hectares do terreno.
O prefeito João da Costa, no dia seguinte, fez questão de antecipar a avaliação da sua gestão e dizer através de manchete do Jornal do Commercio que o projeto seria aprovado. As fotos do professor e doutorando Leonardo Cisneiros mostram o modo divertido de protestar dos recifenses contra a surdez. Mas são também prova de que essa gente tão acadêmica quer chamar para a discussão os trabalhadores, estudantes, artistas e as crianças. Direitos Urbanos para a cidade que não para e só cresce.
Para ver o ensaio de Leonardo Cisneiros, acesse a edição n. 09 da revista eletrônica e-metropolis aqui.