Observatório disponibiliza livro “Turismo e Imobiliário nas Metrópoles”
O INCT Observatório das Metrópoles disponibiliza em formato eletrônico o livro “Turismo e Imobiliário nas Metrópoles”. O livro analisa o processo de metropolização na Região Nordeste do Brasil desencadeado na apropriação do território pelo turismo e pela vilegiatura, ambos articulados ao setor imobiliário na produção e comercialização de empreendimentos na zona costeira das regiões metropolitanas de Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. Organizado por Eustógio Dantas, Ângela Ferreira e Maria do Livramento Clementino, a publicação é referência no debate sobre as transformações territoriais a partir dos interesses turísticos associados ao imobiliário.
O livro Turismo e Imobiliário nas Metrópoles analisa a articulação do turismo com o imobiliário. Seu desdobramento socioespacial na metrópole motivou o desenvolvimento de estudo comparativo entre as regiões metropolitanas nordestinas onde o fenômeno se mostra mais dinâmico: regiões metropolitanas de Fortaleza, Natal, Recife e Salvador. Organizado por Eustógio Dantas, Angela Ferreira e Maria do Livramento Clementino, o livro evidencia uma dinâmica de ordenamento do território paralela à zona de praia e baseada em vultosos investimentos motivados pelo interesse turístico associado ao imobiliário. Consiste em um ensaio realizado por um conjunto de pesquisadores preocupados em lidar com o tema contemporâneo.
Nele evidencia-se o fenômeno de metropolização desencadeado por apropriação do território pelo turismo e pela vilegiatura, ambos articulados ao setor imobiliário na produção e na comercialização de empreendimentos no Nordeste. A estrutura em rede do Observatório das Metrópoles, potencializada em escala regional com a participação direta dos núcleos de Fortaleza, Natal e Recife e indireta de Salvador, coordenados respectivamente pelos pesquisadores Eustógio Dantas, Angela Ferreira, Ângela Souza e Gilberto Corso, garantiu construção de procedimentos metodológicos voltados à compreensão do processo imobiliário e turístico no litoral nordestino.
Exigiu sistematização e coleta de dados quantitativos e qualitativos suficientes ao estabelecimento de estudo mais abrangente, na perspectiva regional e, concomitantemente específica, ao destacar cada uma das metrópoles. Assim, o desvelamento tanto dos processos físico-territoriais quanto a discussão das estratégias e agentes envolvidos, permitirão a formulação de novas questões de pesquisa, novas sinalizações às políticas públicas territoriais, contribuindo, dessa forma, para alimentar a continuidade dos estudos sobre o impacto das atividades do imobiliário-turístico na base metropolitana (expandida) no nordeste brasileiro.
Acesse o link a seguir para o download do livro “Turismo e Imobiliário nas Metrópoles”.
INTRODUÇÃO
Eustógio Dantas
Ângela Ferreira
Maria do Livramento Clementino
A indicação de imagem positiva da Região Nordeste do Brasil a partir do final dos anos 1980, associada à possibilidade de exploração turística das paisagens litorâneas tropicais, induz políticas de desenvolvimento econômico cujos desdobramentos se dão, grosso modo, na estruturação das metrópoles nordestinas, cujos desdobramentos levaram a reestruturações no mercado imobiliário, na economia de serviços e na ênfase de políticas territoriais voltadas para uma maior competitividade urbana, com as demais metrópoles nordestinas.
Nasce, dessa forma, a metáfora da Cidade do Sol, a destoar de quadro preexistente, no qual a atividade turística era pouco dinâmica e não devidamente contemplada nas políticas de desenvolvimento econômico. Em conformidade com citada valorização, as metrópoles litorâneas nordestinas transformaram-se em pontos de recepção e de distribuição do fluxo turístico, colocando os espaços litorâneos de todos os municípios sob a dependência direta das capitais e sem a dependência direta do polo metropolitano, relativizando a importância das sedes municipais que compõe a Região institucionalizada. Efetiva-se uma dominação paralela à zona de praia, baseada em vultosos investimentos motivados pelo interesse turístico associado ao imobiliário. Nessa perspectiva, o espaço litorâneo se transforma em mercadoria nobre, justificando modificações socioespaciais a implicar na ocupação do território por novos atores e na expulsão gradativa dos habitantes tradicionais cujo poder de mobilização é reduzido ou inexistente.
Tal articulação do turismo com o imobiliário, e seu desdobramento socioespacial na metrópole, motivou desenvolvimento de estudo comparativo entre as regiões metropolitanas nordestinas onde o fenômeno se mostra mais dinâmico: Regiões Metropolitanas de Fortaleza, Natal, Recife e Salvador.
“Turismo e Imobiliário nas Metrópoles”, consiste em um ensaio realizado por um conjunto de pesquisadores preocupados em lidar com um tema contemporâneo. Algo que não se esgota na presente obra, posto se tratar de um fenômeno recente cuja discussão apenas se inicia no Nordeste brasileiro. A obra estrutura-se em três partes: “Parte I – Turismo no Nordeste Brasileiro”, “Parte II – Configuração Espacial e Modificações no Território Metropolitano”, “Parte III – Imobiliário Turístico e Investimentos Privados”.
Na primeira parte, trabalha-se com, de um lado, a caracterização do turismo no Nordeste e, de outro, a análise das estratégias e dos programas de desenvolvimento do turismo implementadas, a partir dos anos 1990, nas regiões litorâneas do Ceará, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e da Bahia e seus desdobramentos na reestruturação da rede urbana regional e do padrão de ocupação do solo urbano, com ênfase nas metrópoles. Nesses termos, as capitais metropolitanas nordestinas adquirem nova feição diante da trama tecida pela gestão urbana, a lidar cotidianamente com conflitos que resvalam na lógica da valorização usurária do território. Percebe-se que as gestões estaduais e municipais primam pelo investimento em obras viárias e equipamentos urbanos de grande porte. Objetivam, grosso modo, a “modernização” do espaço litorâneo no sentido de permitir maior atratividade para os visitantes e empreendedores, dado que acaba por alimentar um processo de especulação imobiliária e agravar as desigualdades sociais.
Na segunda parte, reflete-se sobre o fenômeno da vilegiatura marítima, prática social com interface na apropriação da zona de praia e responsável pelos primeiros movimentos de ocupação e valorização dos espaços litorâneos nordestinos. Efetivada na Região a partir dos primeiros decênios do século XX, passa por grandes transformações nos últimos tempos, com conseqüência na implementação e no fortalecimento de vetores de expansão delineadores do processo de metropolização, iniciado no Nordeste nos anos 1970. Ao trabalhar com dados do IBGE (1991 e 2000) sobre as residências secundárias (residências de uso ocasional), constrói-se leitura indicadora de novo padrão de ocupação das zonas de praia dos Estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e da Bahia: de natureza urbana, predominantemente metropolitano e responsável pelo espalhamento do tecido urbano metropolitano. Nele contamos com a colaboração de Alexandre Queiroz Pereira e Andrea Panizza, pesquisadores associados ao Núcleo Fortaleza do Observatório das Metrópoles.
Na terceira parte, analisa-se o capital imobiliário, indutor da formação e consolidação de modalidade de produção espacial recente, intitulada pelo mercado de “turismo imobiliário”. Tal modalidade articula padrões de empreendimentos imobiliários tradicionais a modernos: empreendimentos imobiliários (residencial de uso ocasional) associados a novos equipamentos (hotéis, flats, shoppings, restaurantes), localizados anteriormente no polo principal da região metropolitana (capital) e dispersos atualmente em pontos específicos da zona litorânea metropolitana. A flexibilidade de capitais desse setor dá-se na capacidade de adaptação às novas estratégias de captação de recursos (sobremaneira no estrangeiro) e às formas alternativas de divulgação promocional. Na sua construção contamos com a colaboração do pesquisador do Observatório das Metrópoles, Alexssandro Ferreira Cardoso da Silva.
Uma economia sinergética que permite diversificar o uso de espaços litorâneos por intermédio da articulação entre a indústria de construção civil e o ramo hoteleiro, por exemplo. Desse modo, o desenvolvimento da atividade turística e da vilegiatura no Nordeste contribuem na geração da nova lógica de urbanização na zona costeira, além de acirrar os processos de segregação no espaço das metrópoles. A estratégia do mercado, ao agir nesse segmento litorâneo, revela uma atuação sinergética entre as práticas do turismo em associação com o imobiliário (formal e de alta qualidade) por meio da solvência de problemas comuns na utilização do espaço/destino turístico, isto é, a sazonalidade e o alto custo de produção dos produtos imobiliários e turísticos (condhotéis, resorts, etc.).
O capital envolvido nessa transformação possui origem nacional e estrangeira, adaptada a uma competitividade nacional e internacional, expondo as pontes de integração com uma expansão das atividades globais do turismo e seu impacto regional. Dessa associação, do investimento direto do capital estrangeiro (nas metrópoles nordestinas) e da estratégia de comercialização e marketing, fortalece-se o imobiliário-turístico como um mecanismo de atuação baseado na valorização do espaço, na captação de novas fontes de financiamento (privado) e na apropriação da paisagem, como elemento de agregação de valor ao destino litorâneo.
Efeitos inovadores, de 2002 em diante, possuem forte impacto na estruturação regional por meio da formação de novos projetos urbanísticos em áreas até então pouco ocupadas.
Em relação à configuração espacial, podemos dizer que estamos diante de um processo de inserção fragmentar e fragmentador do território das metrópoles nordestinas, contribuindo para a formação de “enclaves”. Esse processo configura uma estrutura urbana que denota forte tendência de crescimento da segregação residencial, resultado da aquisição de imóveis das áreas mais valorizadas por investidores locais e estrangeiros que “expulsam” a população pobre para áreas antigas e menos valorizadas.
Com o presente percurso analítico-expositivo, evidencia-se o fenômeno de metropolização desencadeado por apropriação do território pelo turismo e pela vilegiatura, ambos articulados ao setor imobiliário na produção e na comercialização de empreendimentos no Nordeste.
Última modificação em 23-10-2013 22:36:53