isbn | 9786501130798
O mutirão habitacional autogerido: trabalho coletivo em canteiro e transformações sociais
O acesso à moradia pelas classes mais desfavorecidas da população brasileira sempre precisou ser resolvido a partir da mobilização dos esforços, dos recursos e do trabalho da própria população. O processo produtivo baseado na autoconstrução marcou de forma importante a produção e a expansão das grandes cidades sendo responsável pela formação de favelas e periferias que caracterizam nossas metrópoles.
O processo de autoprodução dos bairros populares foi estudado por vários autores, destacando-se a problematização crítica desenvolvida por Francisco de Oliveira e Lúcio Kowarick. Estes autores identificaram como, no processo de autoprodução dos seus locais de moradia, a força de trabalho passava a assumir parcela significativa dos seus custos de reprodução, que eram, portanto, excluídos dos cálculos dos empresários. O processo de acumulação capitalista no Brasil se caracterizava assim pela ampliação das margens de lucro através de um sobretrabalho para a produção da moradia, não incluído nos cálculos dos salários, processo denominado por Kowarick como de espoliação urbana.
A autoconstrução se caracteriza, de maneira geral, pela utilização de conhecimentos básicos de construção que sempre foram de domínio das classes populares, seja por reproduzirem técnicas tradicionais de
construção, seja pela mais ampla disseminação de outras técnicas, como o concreto armado. Nesse sentido, a manutenção de “atraso” relativo nas tecnologias de construção, fortemente dependentes de mão de obra, permitiu que essas técnicas fossem apreendidas pela população e utilizadas diretamente ou através da contratação de profissionais de baixa qualificação (pedreiros) nos processos de autoconstrução.
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