No dia 17 de dezembro de 2010, Michel Souza dos Santos e Francisca Melo viram suas casas no bairro da Restinga, no Recreio dos Bandeirantes, serem destruídas pelos tratores da Prefeitura do Rio de Janeiro em questão de minutos. Passados dois anos da remoção forçada, eles ainda vivem o trauma da violação dos seus direitos, reforçado pela sensação de injustiça a partir de indenizações irrisórias ou, simplesmente, o esquecimento por parte do poder público. O caso desses dois personagens faz parte do vídeo “O Legado Somos Nós: A história de Francisca”, produzido pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas.
“Nós lutamos contra a remoção e parece que servimos de exemplo para as outras comunidades não brigarem por seus direitos. Não me arrependo, faria tudo de novo, mas agora estamos nessa situação”, disse Michel, que é um dos cerca de 20 moradores que não recebeu nenhum centavo da Prefeitura do Rio de Janeiro. Sem ter para onde ir, ele morou de favor, de aluguel, e agora está construindo uma casa em Pilares.
“Antes morava num lugar tranquilo, agora estou perto do morro e é tiroteio direto. Não pego o BRT porque não dá, vem lotado, e acabo demorando duas horas pra ir e mais duas pra voltar”, completou. Além da casa, Michel tinha uma oficina na Restinga há 12 anos. Apesar de continuar trabalhando no local para manter seus clientes, agora está numa loja alugada.
Já Francisca, com a ajuda de parentes, está refazendo a sua vida na comunidade do Fontela. “O Secretário de Habitação (na época Jorge Bittar) falava que a gente já saía encaminhado para um trabalho, o que não aconteceu de maneira nenhuma. Nós saímos de lá sem nada. Então é falho isso, é uma grande falha falarem que as pessoas estão sendo remanejadas dentro dos seus direitos, negativo”, enfatizou Francisca.
Casos como o de Michel e Francisca estão sendo tratados na Comissão de Moradores Atingidos pela Transoeste, grupo que tem se reunido para dar visibilidade às violações de direitos que aconteceram na região, exigir reparações adequadas aos danos causados e fortalecer a luta de comunidades vizinhas. “Muitas questões ainda não foram resolvidas e os moradores estão numa situação pior do que antes. A experiência que a gente passou com relação à Transoeste pode ser útil, pode ajudar nos desafios que estão postos a outras comunidades”, disse Alexandre Mendes, que na época era Defensor Público e atendeu com a equipe do Núcleo de Terras e Habitação as comunidades do Recreio.
Assim como a Restinga, Vila Recreio II e Vila Harmonia também sofreram ofensivas no período e já não existem mais. O motivo seria a construção do BRT Transoeste, mas hoje grande parte dos terrenos estão desocupados ou tendo outros usos, o que tem sido questionado pelos atingidos. Nada foi feito no local da Vila Recreio II e a Vila Harmonia se transformou em estacionamento para máquinas da Prefeitura. Já a área removida da Restinga deu espaço a três novas pistas para carros, não para o BRT. “Queremos justiça, mostrar que eles estavam errados, para que isso não volte a acontecer nunca mais”, finalizou Michel.
Veja o vídeo “O Legado Somos Nós: A história de Francisca” abaixo.
Texto produzido com a colaboração do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas.
Última modificação em 09-01-2013 21:42:16