A Coordenação Nacional do INCT Observatório das Metrópoles vem por meio desta nota registrar sua profunda tristeza e indignação com o incêndio ocorrido na noite do dia 02 de setembro de 2018 no Museu Nacional, sediado na cidade do Rio de Janeiro. A destruição quase total de seu acervo centenário representa uma perda inestimável para nossa cultura e um dano irreparável para a pesquisa científica do país. Suas coleções de Antropologia, Arqueologia, Etnologia, Mineralogia, Paleontologia e Zoologia, eram fruto de décadas de dedicação de inúmeros pesquisadores e guardavam registros fundamentais de nossa história. Em meio às chamas não se perderam apenas objetos e documentos de um dos maiores museus da América do Sul. A noite do último domingo foi também dolorosa para inúmeros colegas que tinham suas vidas dedicadas ao ensino e pesquisa. Fica registrada aqui nossa solidariedade ao corpo técnico, aos professores, aos alunos, aos funcionários terceirizados, aos colaboradores e todos os demais profissionais que fazem do Museu Nacional um espaço de excelência acadêmica.
Devemos lembrar que o museu abriga também os programas de pós-graduação em Antropologia Social, Arqueologia, Botânica, Linguística, Zoologia e Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era uma instituição dedicada ao ensino público gratuito e de qualidade e como tantas outras em nosso país vinha sofrendo nos últimos anos com contingenciamentos e cortes significativos em seu orçamento. Esse foi o sexto incêndio registrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2011. Em outubro de 2016 o oitavo andar do prédio da reitoria foi inteiramente consumido pelo fogo e até o momento quatro andares seguem interditados. Em agosto de 2017 parte do alojamento estudantil foi pegou fogo e oito quartos foram destruídos. Essa sequência demonstra que não estamos tratando de um caso isolado e sim de um descaso generalizado com o ensino público brasileiro. Foram feitos investimentos importantes por parte do Governo Federal nas décadas de 2000 e 2010 que conseguiram amenizar parte do sucateamento gerado pelas equivocadas políticas econômicas das décadas de 1980 e 1990. Mas ainda seguimos muito aquém do necessário para garantir tanto a universalização do acesso ao ensino superior quanto a democratização do acesso à cultura. Não podemos aceitar que nossas instituições de ensino e pesquisa sigam sem recursos para efetuar reformas em seus prédios históricos e modernizar suas instalações. Não podemos aceitar também que os órgãos de fomentos continuem tendo seus orçamentos cortados e que os editais de apoio à pesquisa se tornem cada vez mais rarefeitos.
As ameaças ao ensino superior gratuito e à pesquisa científica de utilidade pública vêm se tornando recorrentes nos últimos anos acompanhando o obscurantismo que vêm tomando conta de parte do debate político no país. Também os espaços culturais e de memória vêm sofrendo ataques de diversas ordens. Tragédias como a ocorrida no último domingo não podem se repetir e é fundamental para isso que o poder público assuma suas responsabilidades. Educação, ciência, patrimônio, memória e cultura precisam de investimento. Esperamos que a comoção gerada pelo incêndio sirva para mobilizar a sociedade brasileira na luta por mais recursos para essas áreas.
O Museu Nacional segue vivo enquanto instituição e sua importância para a história do país jamais será apagada. Sabemos que o recomeço não será fácil. Mas ele é possível. Expressamos aqui nosso desejo para que tudo ocorra com maior celeridade e com um compromisso efetivo por parte dos responsáveis.