No Brasil, entre 2001 e 2014, foram acrescidos à frota um total de 32,3 milhões de automóveis. Apenas nesse último ano, o aumento foi da ordem de pouco mais de 3,2 milhões. Os dados fazem parte do Relatório estado da motorização individual no Brasil – 2015, lançamento do Observatório das Metrópoles. Segundo o pesquisador Juciano Rodrigues, pouca atenção tem sido dada aos custos sociais da dependência do automóvel e da proliferação das motos no país. Além disso, quase não há questionamentos sobre as políticas urbanas orientadas pelo e para o uso do automóvel, que relegam a segundo plano as políticas de transporte público de massa e reduzem quase a zero a implementação de políticas para o transporte não motorizado.
Relatório mostra que automóveis e motos continuam crescendo nas metrópoles
Por Juciano Martins Rodrigues
Em muitas cidades o carro privado tornou-se uma importante e dominante modo de transporte. No Brasil, ocorreu um espetacular crescimento no número de veículos automotores desde o início dos anos 2000. Esse crescimento é generalizado, mas, em termos de volume, continua bastante concentrado nas maiores cidades e regiões metropolitanas.
O crescimento no número de automóveis está intimamente ligado ao aumento de renda ocorrido no país nesses anos, sobretudo após 2003. Além disso, desonerações fiscais impulsionaram as vendas em boa parte do período 2001-2014. Por outro lado, o crescimento da frota de motos está relacionado ao preço, tornando a aquisição desse tipo de veículo uma importante estratégia para o deslocamento diário, tanto em cidades menores quanto nas grandes metrópoles, especialmente em suas periferias.
A vantagens inerentes à utilização dos veículos automotores privados no deslocamento cotidiano em comparação aos transportes coletivos já são bastante conhecidos. Entre elas, a liberdade quase irrestrita dos usuários, a disponibilidade imediata e a possibilidade de viagem porta a porta.
No entanto, pouca atenção tem sido dada aos custos sociais da dependência do automóvel e da proliferação das motos no país. Além disso, quase não há questionamentos sobre as políticas urbanas orientadas pelo e para o uso do automóvel, que relegam a segundo plano as políticas de transporte público de massa e reduzem quase a zero a implementação de políticas para o transporte não motorizado.
Este relatório apresenta os resultados de um levantamento realizado a partir de dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). Os dados correspondem às frotas de automóveis e motos sistematizados desde 2001 e a série histórica compreende os dados de dezembro desse ano a dezembro de 2014.
Crescimento da frota de automóveis
Nas 17 principais regiões metropolitanas estão 37,7% da população e em torno de 47% do PIB brasileiro. Além disso, nelas estão 43,6% de todos os automóveis e 23,3% das motos do país. São, também, nesses espaços que os problemas da mobilidade urbana se manifestam de maneira mais evidente. No conjunto das 17 RM’s o número de automóveis para cada 100 habitantes é de 35,1, enquanto que no país como um todo esse número é de 23,6 automóveis para cada 100 habitantes.
Nesse sentido, qualquer abordagem sobre mobilidade urbana no Brasil deve assumir sua dimensão metropolitana dessa questão, o que significa levar em conta o expressivo aumento da motorização nos últimos anos, sobretudo nas regiões metropolitanas.
Com o objetivo de contribuir para um maior entendimento dos fenômenos relacionados às mudanças na mobilidade urbana no país, O Observatório das Metrópoles está disponibilizando os principais resultados do “Relatório estado da motorização individual no Brasil – 2015”. Este relatório foi elaborado a partir dos dados disponibilizados pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) até dezembro de 2014. O relatório completo será disponibilizado no site do Observatório das Metrópoles no dia 24 de setembro.
No Brasil, entre 2001 e 2014, foram acrescidos à frota um total de 32,3 milhões de automóveis. Apenas nesse último ano, o aumentou foi da ordem de pouco mais de 3,2 milhões.
Já nas 17 principais regiões metropolitanas, no período 2001-2014, o número de automóveis aumentou em 110,6%. Esse percentual corresponde ao acréscimo de mais de 13,9 milhões de automóveis à frota dessas regiões.
Entre elas, o maior crescimento ocorreu na região metropolitana de Manaus, onde a variação percentual foi de 194,6% entre 2001 e 2014; seguida pelas regiões metropolitanas da Grande Vitória (variação de 153,9%), Belo Horizonte (149,8%), Brasília (142,7%).
Observando apenas o ano de 2014, o primeiro lugar em crescimento ficou com Fortaleza, que cresceu 6,7%, seguida por Manaus, onde a frota cresceu 6%. Em todas as outras RM’s o crescimento ficou entre o valor da média do conjunto delas (4,9%) e o crescimento médio anual do país, que foi de 6% nesse ano.
Boa parte dos automóveis que foram adicionados à frota brasileira nos últimos anos está concentrada nas regiões metropolitanas. Dos 3,2 milhões automóveis acrescidos à frota em 2014, aproximadamente 39,7% estavam em regiões metropolitanas. Portanto, considerando o período 2001-2014, o crescimento da frota de automóveis das RM’s foi responsável por 44,4% do crescimento de todo o país. Do crescimento ocorrido apenas em 2014 o número de automóveis acrescidos na frota das RM’s corresponde a 38,6% do crescimento nacional.
Ou seja, o crescimento da frota de automóveis continua muito concentrado nas regiões metropolitanas.
Crescimento da frota de motos
O Brasil terminou 2014 com uma frota de motos superior a 22,8 milhões. Número cinco vezes maior do que o verificado em 2001, quando país tinha pouco mais de 4,5 milhões de motos.
Desses 22,8 milhões, 6,1 milhões estão nas 17 principais regiões metropolitanas.
No período 2001-2014 o número de automóveis nessas regiões variou em 375%. Esse percentual corresponde ao acréscimo de mais de 4,8 milhões de automóveis no período. O crescimento das motos é, portanto, 3 vezes maior do que o registrado para os automóveis no mesmo período.
O maior crescimento ocorreu na região metropolitana de Belém, onde o número de motos passa de 40.515 para 235.702 entre 2001 e 2014. Nessa RM a taxa de motorização por motos passa de 1,4 motos para cada 100 habitantes para 6 motos/100hab. Outra região metropolitana que experimentou altíssimo crescimento foi São Luís, onde o número de motos passou de pouco mais de 12 mil para 115 mil, nesse período.
Apesar do alto crescimento e da forte variação na taxa de motorização, essas regiões metropolitanas ocupam posições intermediária no ranking da motorização por motos. Nesse ranking, Goiânia tem o maior nível de motorização por motos no país. No período 2001-2014, a taxa passou de 6,3 motos/100hab para 18,3 motos/100hab. Aparecem Florianópolis (taxa de 13,7 motos/100hab), Campinas (12,1 motos/100hab) e Fortaleza (10 motos/100hab).
Faça o download do Relatório estado da motorização individual no Brasil – 2015.