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Mobilidade urbana em Brasília: descontinuidade e vazios urbanos

By 28/05/2015janeiro 25th, 2018Artigos Semanais, Publicações

Mobilidade urbana em Brasília: descontinuidade e vazios urbanos

A baixa eficiência do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF na equação “elevadas distâncias + expressiva fragmentação + baixa densidade”, aliada à falta de racionalização das linhas e à ausência de subsídios governamentais, resultam numa das mais elevadas tarifas entre as capitais brasileiras. A análise relativa à mobilidade urbana na metrópole central do Brasil faz parte dos resultados do e-book “Brasília: transformações na ordem urbana.

A análise sobre o tema “Organização social do território e mobilidade urbana” foi produzida pelos pesquisadores Valério Augusto Soares de Medeiros e Ana Paula Borba Gonçalves Barros, que buscaram avaliar a interdependência de fatores que afetam as condições de deslocamento na AMB, considerando os seguintes aspectos: a) a organização social do território; b) as feições de infraestrutura e caracterização de transportes; e c) a forma urbana.

Segundo os autores, os resultados mostraram “uma face cruel da metrópole de Brasília, caracterizada pela dispersão, fragmentação, descontinuidade, colcha de retalhos e vazios urbanos”.

 

A seguir, uma síntese dos principais resultados relativos à mobilidade urbana da população de Brasília:

1) Segregação Socioespacial: A efetivação do modelo de cidades-satélites cristalizou o caráter de dispersão territorial no Distrito Federal e da futura AMB, o que foi acentuado pelo desenvolvimento do padrão dos condomínios fechados.

O Plano Piloto e as cidades adjacentes conformaram soluções espaciais apartadas por grandes vazios, desarticuladas umas das outras e significativamente distantes entre si. Brasília inverte uma premissa recorrente em assentamentos urbanos de que quanto mais próximo do centro, maior a densidade construída e habitacional. Na AMB, e especificamente dentro do Distrito Federal, existem zonas de elevada densidade, enquanto áreas próximas ao Plano Piloto apresentam-se espaçamente ocupadas, ainda que corresponda ao CCS, onde há maior oferta de transportes públicos.

2. Forte Labirintismo: Além da distância e do crescimento populacional, a geometrização dos desenhos dos bairros/cidades, em certa medida inspirados na racionalidade do Plano Piloto, produziu efeitos de forte labirintismo. Aparentemente importavam as experiências formais de desenho, desconsideradas as implicações para aspectos de percepção e deslocamento no espaço.

3. Acessibilidade enquanto um Bem: No Distrito Federal, as RAs de renda mais alta correspondem àquelas próximas ao centro urbano. Para os dados de alguns municípios goianos integrantes da AMB, verifica-se que a RMMD alinha-se aquela do polo inferior para o DF. A tendência se repete para o nível de escolaridade e expressa a polarização de renda e o distanciamento entre grupos sociais em relação à facilidade de acesso ao Centro de Comércio e Serviços (CCS).

4. Polarização de Empregos: Na AMB, há expressiva polarização de empregos, o que reforça o papel do Plano Piloto enquanto CCS na área metropolitana e dentro do próprio DF (44,46% de toda a população do DF trabalha na RA-I).

5. Movimento Pendular e Ociosidade do Sistema de Transporte Público: O movimento pendular para o CCS, associado à elevada concentração de empregos e serviços, implica baixa frequência de viagens que não sejam aquelas entre as zonas residenciais e os centros, principalmente o Plano Piloto. Numa comparação entre cidades brasileiras com população acima de 1 milhão de habitantes, Brasília alcança os valores mais baixos de passageiros por veículos por dia (PVD).

6. Elevado Número de Veículos por Habitante e Tempo Médio de Deslocamento: Em todas as categorias de análise de frota, Brasília isoladamente ou a AMB estão no quadrante superior das variáveis, o que reforça o baixo número de habitantes por veículos: aumenta-se a sobrecarga sobre a infraestrutura existente. Para a AMB, há um grupo de cidades cuja relação de empregos é estreitamente dependente de Brasília e seu correspondente CCS, o que implica deslocamentos mais elevados, nas faixas acima de uma hora. Ao serem analisados os dados referentes ao tempo habitual de deslocamento de mais de uma hora até duas horas, dos 10 municípios brasileiros com maior percentual de população nesta faixa encontram-se 5 municípios goianos da AMB. Os impactos são um movimento pendular significativo, o que demanda um sistema de transporte público eficiente, expressão da dependência destas cidades em relação à Brasília.

7. Dispersão, Descontinuidade, Baixa Conectividade e Baixa Integração: O cenário configuracional da AMB é emblemático devido ao vazio que aparta os assentamentos integrantes da metrópole. As informações sobre compacidade permitem investigar com mais precisão a perspectiva dos cheios e vazios e sua interferência para aspectos de acessibilidade. Ao se analisar a quantidade de linhas por Km2, o aspecto dos vazios em Brasília emerge com robustez. A baixa quantidade de linhas associada à presença dos vazios, o reduzido número médio de conexões e a disposição geral do sistema urbano afetam o que seria o “grau de facilidade de deslocamento”. Neste contexto, a AMB apresenta a segunda pior média (0,266) dentre os sistemas investigados.

8. Forma do Núcleo de Integração e Proeminência Exacerbada de Poucos Eixos Globais: Os eixos mais integrados da AMB correspondem às grandes avenidas que atuam como articuladoras numa perspectiva rodoviarista. Embora positivo em termos de acessibilidade, a sobrevalorização de alguns poucos eixos, ou a forte dependência de poucas vias para a dinâmica urbana, acaba por resultar numa situação sensível uma vez que qualquer interrupção em trechos dessas avenidas acabaria tendo um impacto maior para o deslocamento global do sistema. Embora boa parte dos moradores da AMB identifique o Plano Piloto como centro principal da cidade (devido à concentração de empregos e serviços), os grandes equipamentos urbanos associados às centralidades contemporâneas dispõem-se ao longo da EPIA.

9. Comprometimento da Apreensão da Cidade (Inteligibilidade) e das Relações Globais e Locais (Sinergia): A avaliação dos sistemas quanto à inteligibilidade, para a comparação de 25 capitais brasileiras e da AMB, revela a posição comprometida. É o valor mais baixo, alcançando apenas 0,01%, para uma média nacional de 15%. O desempenho quanto à sinergia é numericamente idêntico. O destaque também ocorre para o DF que, isoladamente, está na segunda pior posição, alcançando apenas 0,05%. A medida demonstra a redução das qualidades globais e locais para os sistemas analisados, o que também se converte em fator negativo para o desempenho de acessibilidade a partir da configuração.

 

Faça o download do e-book “Brasília: transformações na ordem urbana” e veja a análise completa sobre a mobilidade urbana.