Este artigo da Revista Cadernos Metrópole nº 40 tem como objetivo analisar a relação entre metrópole e região na Amazônia brasileira. Segundo o pesquisador Tiago Veloso dos Santos, as metrópoles que se formaram são produto, condição e meio de um movimento de diferenciação, que pode ser exemplificado através das diferenciações entre as duas principais aglomerações da região: Belém e Manaus. Considerando elementos da estrutura intraurbana dessas metrópoles, o trabalho busca mostrar a importância e o significado dessas formações em face de processos diferenciados de produção do espaço regional.
O artigo “Metropolização e diferenciações regionais: estruturas intraurbanas e dinâmicas metropolitanas em Belém e Manaus” é um dos destaques do dossiê especial “Metropolização e diferenciações regionais” da Revista Cadernos Metrópole nº 40.
Abstract
This article aims to analyze the relationship between metropolis and region in the Brazilian Amazon. Such metropolization process, however, does not reveal a possible particularity at the macro-regional level. The configuration of an economic borderline that spreads in an unbalanced and differentiated way in the Amazon inland is also responsible for the formation of distinct regional metropolitan structures. The metropolises that have been formed there are the product, condition and means of a movement of differentiation that can be exemplified by the differences between the two major agglomerations of the region: Belém and Manaus. Considering elements of the intra-urban structure of these metropolises, the aim is to show the importance and meaning of these formations in view of differentiated processes of production of the space in the region.
INTRODUÇÃO
Por Tiago Veloso dos Santos
Em tempos recentes, com o advento do meio técnico-científico informacional (Santos, 2004), a existência e a expansão das cidades metropolitanas em âmbito global têm gerado uma série de pesquisas sobre esse fenômeno. Em um mundo no qual a importância de centros urbanos dinâmicos e interligados parece ser cada vez mais uma forma de acesso a integração, torna-se importante diferenciar que tipo de transformação pode ser atribuído ao avanço da mundialização e quais, em contraponto, são consequências de lógicas particulares das dinâmicas internas de cada metrópole.
Fenômeno crescente no Brasil, a realidade metropolitana está expressa de forma variada por todo o território nacional, o que inclui a região amazônica. A configuração da metropolização regional, no caso amazônico, é consequência de aspectos da mundialização, da internacionalização da economia brasileira e das políticas de integração e desenvolvimento para a região, particularmente pós-1950. Os impactos territoriais desse processo se desdobram em duas manifestações correlatas: no plano intraurbano, constituem metrópoles com estruturas complexas; no plano regional, em torno das relações das aglomerações com a região.
Dentre as particularidades regionais observadas, uma delas reside justamente na existência de um processo de metropolização que está, por um lado, relacionado às redes de relações que mantêm a Amazônia, de forma variada, ligada às forças econômicas globais, o que seria um princípio geral orientador da metropolização regional. Cabe, portanto, dentro dessa perspectiva recordar as reflexões de Becker (2001), para quem essa constituição urbana tem a ver com a formação de uma economia de fronteira na região, daí a autora analisar a formação de cidades na Amazônia, a partir da necessidade de construção de uma rede urbana regional, que é locus de atuação das instituições responsáveis por executar o projeto de integração.
Assim, as repercussões desse processo de metropolização no espaço regional amazônico advêm da necessidade de expansão, em direção à fronteira, da necessidade de novos padrões de acumulação de capital e da necessidade de formação do mercado de trabalho regional, mas diz respeito, também, ao movimento geral de complexificação urbana pelo qual passam a sociedade e o território brasileiro.
A metropolização regional está, portanto, associada a um padrão de passagem da urbanização da sociedade e do território (Santos e Silveira, 2001) para uma tendência à metropolização do espaço (Lencioni, 2006 e 2008). É a partir dessa interpretação que se apresenta o quadro geral dos centros metropolitanos amazônicos, tais como pensamos Belém e Manaus.
Por outro lado, pensando para além do adensamento urbano em perspectiva regional e suas repercussões, se os processos socioespaciais de metropolização regional mostram-se como uma tendência reveladora da urbanização amazônica, isso não quer dizer que tais processos tenham configurações espaciais homogêneas.Ao contrário, a região tem aglomerados metropolitanos que apresentam características diversas, seja quanto ao tipo de dinâmica econômico-espacial que potencializa e intensifica o processo de metropolização, seja quanto a uma determinada paisagem produzida como expressão de processos mais profundos.
A constituição desses aglomerados metropolitanos regionais tem-se tornado significativa, acompanhando o desenvolvimento de uma rede urbana complexa (Corrêa, 1987) e um processo de metropolização regional que é intensificado no último quartel do século XX. Levando-se em consideração a importância dos dados oficiais, destaca-se que, no censo de 2010, 72% da população amazônica estava localizada em núcleos urbanos. Embora possa ser avaliada segundo graus diversos de carência e precariedade quanto à existência de serviços básicos e da própria urbanização, há de considerá-la enquanto constituinte de um modelo de urbanização voltado para a região. Particularmente, os contrastes observados e identificados tendem a reforçar distintos padrões de metrópole, ainda que em uma mesma formação regional, reproduzindo o desigual processo de metropolização no Brasil.
Leia o artigo completo na edição nº 40 da Revista Cadernos Metrópole.