A discussão conceitual de metropolização e metrópole na nova economia capitalista é apresentada no artigo “Metropolização, aglomerações urbano-industriais e desenvolvimento regional no sul do Brasil”, de Paulo Roberto Rodrigues Soares, apontando sua importância para o desenvolvimento regional no caso específico do Rio Grande do Sul. O autor afirma que a economia industrial mais dinâmica desse estado “tem na metrópole o seu suporte para inserção em um mercado global, ao mesmo tempo que a presença dessas aglomerações no interior do estado contribui para o crescimento do terciário superior na metrópole”.
O artigo do professor Paulo Roberto Soares integra o dossiê “Mobilidade Espacial” da edição nº 41 da Revista Cadernos Metrópole.
Abstract
The article deals with the relations between metropolization, urban agglomerations and regional development. Based on an analysis of the contemporary trends of metropolization, we aim to understand how the movement of productive spatial restructuring reflects on concentrated urban spaces, especially metropolitan areas and urban agglomerations. We highlight that both concepts are understood as spatial forms, beyond their institutional definition. From this analysis, we also aim to understand how spaces in the process of or linked to metropolization can, with the articulation of regional stakeholders, promote regional development policies, including their connection with the global economy.
INTRODUÇÃO
Por Paulo Roberto Soares
No século XXI, o reposicionamento da economia capitalista global, através da continuidade e da ampliação de inúmeros e diversos processos de reestruturação produtiva e espacial, está provocando a emergência de novas aglomerações produtivas, bem como a refuncionalização de aglomerações produtivas tradicionais, especialmente aquelas surgidas durante o período fordista de desenvolvimento, na segunda meta- de do século XX.
Veltz, em seu clássico trabalho Mundialização, cidades e territórios (1999, p. 9), apontou o que ele considerou os três grandes processos da economia mundial no final do século XX: (1) a mundialização e a globalização da economia; (2) a transformação dos modos de organização e funcionamento das empresas e da produção; e (3) a concentração territorial crescente da economia nas metrópoles acopla- da ao crescimento das desigualdades territoriais em todas as escalas.
Desde as décadas finais do século XX, as principais atividades econômicas urbanas, a indústria e os serviços, experimentam novas localizações a partir da generalização, seletiva no território, das condições gerais de produção e da revolução das novas tecnologias de comunicação e informação e da logística, que permitem uma nova autonomia espacial para as unidades produtivas e uma verdadeira transformação em termos de padrões espaciais de localização das atividades de produção, armazenamento de bens, distribuição e consumo.
Essa revolução atinge sobretudo o território das metrópoles, regiões metropolitanas1 e aglomerações urbano-industriais – espaços tradicionais de concentração das atividades econômicas na economia capitalista fordista –, as quais enfrentam processos desiguais de reestruturação espacial. Desses processos mais gerais, derivam outros, como a desvalorização e a revalorização dos seus espaços produtivos tradicionais e o rearranjo intraurbano das atividades industriais, comerciais e de serviços.
A reestruturação, que se manifesta empiricamente na presença de amplos espaços relegados nas metrópoles, é considerada por muitos como reflexo de uma “crise” desses espaços e da economia metropolitana, já que os mesmos perdem muitos postos de emprego, especialmente no setor secundário.
Para nós, esta é uma visão parcial da realidade, pois consideramos essa “crise” como mais um efeito do processo mais amplo de reestruturação do capital, com a extensão da sua fase de reprodução mundializada e financeirizada, a qual inaugura um novo padrão espacial de localização das atividades, que finalmente beneficia as metrópoles com a concentração de funções terciárias, especialmente do terciário superior (também chamado de setor quaternário), isto é, atividades de gestão e comando da economia e do território.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo é debater os impactos da reestruturação espacial do capitalismo mundializado nas metrópoles, regiões metropolitanas e aglomerações urbano-industriais, bem como analisar os desdobramentos dessa reestruturação no desenvolvimento produtivo das aglomerações, sobretudo das aglomerações urbanas localizadas nas adjacências de espaços metropolitanos e que, por isso, percebem os rebati- mentos do processo de desconcentração da economia metropolitana.
Para nossa análise, partimos de uma discussão do que é a metropolização e a me- trópole na contemporaneidade e de como a nova economia capitalista produz e utiliza-se do espaço metropolitano como suporte de acumulação. A seguir, discutimos o papel e o lugar das aglomerações urbano-industriais no processo de reestruturação espacial do capitalismo, ressaltando a importância desses espaços para o processo de acumulação, especial- mente como nova base da economia industrial, mas também com a concentração dos serviços. Finalmente discutiremos qual o papel dessas aglomerações no desenvolvimento regional, considerando seus limites e possibilidades em uma economia mundializada e financeirizada.
Leia o artigo completo na edição nº 41 da Revista Cadernos Metrópole.