“Assim como não há dados oficiais precisos sobre as remoções no país, em Curitiba o poder público também se nega a informar com exatidão as áreas e o número de famílias que pretende remover de suas casas. A estimativa é que cerca de 2.000 a 2.500 famílias deverão ser removidas”. A afirmação é de Fernanda Keiko Ikuta, pesquisadora do Observatório das Metrópoles que investiga, há mais de dez anos, o problema da moradia. Em seu último trabalho “Moradia popular na cidade-modelo em tempos de Copa”, ela mapeia a cidade de Curitiba e mostra como as pessoas serão afetadas pelos preparativos para a Copa do Mundo de 2014.
A pesquisadora Fernanda Keiko Ikuta divulgou os resultados da pesquisa sobre as remoções em Curitiba em entrevista para a Agência Pública – Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo. O trabalho faz parte de um estágio de pós-doutorado na Universidade Federal do Paraná, vinculado ao Grupo de Estudos sobre Dinâmicas Metropolitanas (GEDiMe) e ao Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles (IPPUR-UFRJ/FASE), e vem consolidar e atualizar os conhecimentos e atuação sobre a luta pela moradia popular. O enfoque, no caso, é no processo de expansão do capital no urbano e seu projeto de cidade no contexto dos megaeventos a partir da análise da dinâmica da moradia popular em Curitiba durante as ações preparatórias para a Copa de 2014.
Na prática, a proposta da pesquisa é identificar os processos de remoção e reassentamento habitacional, verificando os casos de violação do direito à moradia, os processos de ampliação da segregação urbana e da desigualdade socioespacial e eventuais reações contrárias aos impactos das intervenções em curso.
“É importante esclarecer que entendemos que a população de baixa renda, historicamente, tem sofrido com as desigualdades e a espoliação urbana, mas, nas últimas décadas, a expansão do capital no urbano e, de forma geral, o desenvolvimento com suas diversas práticas e discursos, têm incrementado a pobreza urbana, a desigualdade e o surgimento de novas formas de exclusão sócio-espacial. A apropriação da cidade por interesses empresariais implementada via ‘grandes projetos de desenvolvimento urbano’ é o eixo estrutural da expansão do capital que tem se dado por meio da difusão do planejamento estratégico, um modelo neoliberal de gestão empresarial da cidade, possível graças a ampla coalizão de interesses do poder público (nas esferas federal, estadual e municipal) e de empresas privadas. Neste contexto, a realização de megaeventos esportivos, que vem ganhando cada vez mais espaço na agenda urbana das metrópoles contemporâneas como um grande projeto de desenvolvimento urbano, é uma das expressões das mutações do capital para a exploração de novas fronteiras até então não incorporadas em sua lógica. A partir desses pressupostos, a pesquisa em Curitiba se baseia em investigar um dos aspectos da desigualdade sócio-espacial resultante da expansão do capital no urbano hoje: mapear as intervenções e conflitos na Região Metropolitana de Curitiba relacionadas à dinâmica da moradia popular em curso neste momento de preparação para a Copa de 2014”, explica Fernanda Ikuta.
Acesse a entrevista completa sobre moradia popular e remoções em Curitiba no site da Agência Pública.
Reportagem publicada pela Agência Pública