Skip to main content

Bicicletada em São Paulo

O LABMOB (PROURB/UFRJ), a ONG Transporte Ativo e o INCT Observatório das Metrópoles promovem o lançamento do livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil” — uma coletânea de artigos que analisa a motivação e outras variáveis sobre o hábito de andar de bicicleta em 10 das mais importantes cidades do país. A publicação é um desdobramento da pesquisa inédita “Perfil do Ciclista Brasileiro” (2015) — primeira pesquisa brasileira sobre o perfil dos ciclistas urbanos com abrangência nacional e que vem preencher importantes lacunas onde até então havia escasso conhecimento sobre os usuários e o uso da bicicleta como transporte urbano no Brasil. O lançamento dessa coletânea representa mais um passo para a construção da primeira rede nacional de pesquisa sobre mobilidade ativa do país.

O lançamento do livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil” aconteceu no Studio X, no Rio de Janeiro, no dia 22 de novembro, reunindo os pesquisadores de várias partes do país que contribuíram com a publicação. Segundo Victor Andrade, professor do PROURB/UFRJ e coordenador do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB), a publicação oferece análises e reflexões sobre os últimos dois anos da pesquisa sobre mobilidade ativa no país, com foco na produção do levantamento Perfil do Ciclista Brasileiro; além de servir para o reconhecimento de um grupo de pesquisadores interessados na área da mobilidade por bicicleta. “Esse lançamento representa também mais uma etapa importante para a consolidação do nosso objetivo maior que é a estruturação de uma rede nacional de pesquisadores voltados para o uso da bicicleta no Brasil”, aponta e completa:

“Houve um salto qualitativo do primeiro levantamento, que tinha um caráter mais descritivo, para este momento que é mais analítico intracidade. Temos agora capítulos que abordam o uso da bicicleta em 10 cidades brasileiras e seus motivadores, sendo que cada pesquisador escolheu uma lente como recorte de análise. Por exemplo, para São Paulo temos um artigo que aborda a questão do uso da bicicleta e a questão do gênero; já para Niterói, os pesquisadores utilizaram o viés do turismo; temos também um recorte voltado para a saúde etc. Enfim, a publicação é rica em olhares sobre a mobilidade ativa por bicicleta, traz a experiência de muitos pesquisadores e as várias relações com os territórios urbanos nos quais vivem e investigam”, argumenta Victor Andrade.


Pesquisadores da Rede INCT Observatório das Metrópoles contribuíram na construção da metodologia da pesquisa e coleta de dados, como também com artigos de análise sobre o uso da bicicleta nas cidades brasileiras. O pesquisador Juciano Martins Rodrigues (IPPUR/UFRJ) é um dos organizadores da publicação e assina o artigo sobre o uso da bicicleta no Rio de Janeiro. Segundo ele, o livro apresenta uma abordagem interpretativa, com a tentativa de relacionar o perfil, a motivação e outras variáveis. “Além das variáveis que fazem parte da pesquisa (características socioeconômicas e demográficas, por exemplo), buscamos saber em que medida o uso do da bicicleta como meio de transporte se relaciona a outros elementos explicativos no contexto de cada cidade, tais como: as diretrizes da política urbana, a política cicloviária, a infraestrutura disponível as características geográficas e socioespaciais”, aponta.

PERFIL DO CICLISTA BRASILEIRO

A “Pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro” é o primeiro levantamento em escala nacional sobre o perfil do ciclista e suas motivações. A pesquisa foi realizada durante os meses de julho e agosto de 2015 e envolveu a participação de mais de 100 pesquisadores.


A pesquisa teve como inspiração o projeto intitulado Bikeability – maior pesquisa já desenvolvida na Escandinávia sobre dados demográficos dos ciclistas e suas motivações e comportamentos de locomoção. As estratégias de coleta e análise dos dados também tiveram como principal referência esse projeto, que, ao longo de quatro anos, levantou o perfil do ciclista dinamarquês e buscou melhor compreender quais são as principais motivações para utilizar o modal cicloviário nos deslocamentos intra-urbanos.

Para a realização da pesquisa a ONG Transporte Ativo foi a principal mediadora e mobilizadora junto às outras noves organizações da sociedade civil que colaboraram diretamente com a pesquisa, seja através da coordenação em cada local, seja na elaboração do questionário, coleta de dados e tabulação. Estiveram envolvidas as seguintes organizações: Ciclo Urbano (Aracaju), BH em Ciclo (Belo Horizonte), Rodas da Paz (Brasília), Pedala Manaus (Manaus), Mobilidade Niterói (Niterói), Mobicidade (Porto Alegre), Ameciclo (Recife), Bike Anjo (Salvador) e Ciclocidade (São Paulo).

“Vale destacar que a realização da pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro e, agora, a elaboração deste livro se valem do protagonismo desempenhado por estas organizações, seja nas discussões, seja nas mobilizações que pleiteiam outro modelo de cidade através da promoção da bicicleta como meio de transporte. Ou seja, ele é resultado da energia de centenas de ciclistas que estão todos os dias nas ruas para irem trabalhar, estudar, encontrar os amigos ou fazer compras, mas que agora se reuniram de forma sistemática para saber quem são e o que pensam”, aponta Zé Lobo, coordenador da Transporte Ativo.

Para Deniele Hoppe, gerente de Transportes Ativos do ITDP, o livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil” vem para preencher uma lacuna de dados e análises sobre a área no país. “O Brasil, quando o assunto é mobilidade ativa, é ainda muito pautado pelas pesquisas internacionais, já que existem poucas investigações por aqui. Essa iniciativa da ONG Transporte Ativo, LABMOB e parceiros, é fundamental para o debate público sobre o tema, para o convencimento dos gestores públicos sobre a importância do uso da bicicleta como um dos modais de transporte nas cidades brasileiras. Em suma, a publicação servirá para o debate o subsídio de políticas públicas sobre o mobilidade ativa. É um resultado muito importante”, defende.

MOBILIDADE POR BICICLETA NO BRASIL — APRESENTAÇÃO

O livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil” abre com um texto sobre Belo Horizonte, no qual Carlos Edward Campos, Guilherme Tampieri e Marcelo Cintra do Amaral buscam entender, a partir dos dados da pesquisa nacional, os comportamentos, motivações, desejos e perspectivas de quem pedala na capital de Minas Gerais. Entre os apontamentos do artigo, destaca-se a predominância de ciclistas homens, com baixo nível de escolaridade e rendas inferiores à três salários mínimos. Outra indicação interessante é que os ciclistas dessa cidade começaram a pedalar mais recentemente que a média brasileira, em busca de rapidez e praticidade.

No segundo texto desta coletânea, Renata Florentino e Jonas Bertucci analisam os dados da pesquisa em Brasília, com foco no perfil, nas motivações, nas demandas, no comportamento e na avaliação feita pelas pessoas que adotam a bicicleta como meio de transporte sobre o trânsito. Para além de uma percepção do comportamento do ciclista do ponto de vista individual, chamam a atenção para a necessidade de se compreender a dinâmica social e coletiva em que está inserido.

No capítulo que trata da análise da capital do estado do Amazonas, Leonardo Aragão e Geraldo Alves de Souza apontam algumas peculiaridades sobre o uso da bicicleta em Manaus. Por exemplo, um maior uso como transporte quando comparado ao perfil nacional, destacando o fato da cidade ter na produção de bicicletas, um percentual considerável de sua atividade industrial. Dentre as conclusões, sabe-se que o ciclista manauara em sua maioria utiliza a bicicleta há mais de cinco anos, gasta mais tempo nos deslocamentos e utiliza de seis a sete dias por semana, embora o tema da mobilidade cicloviária ainda seja um tema secundário nas políticas urbanas dessa cidade.

No artigo intitulado “Mobilidade cicloviária: a convergência entre o urbano e o turístico“, Juliana de Castro, Luiz Saldanha e Fatima Edra analisam a relação entre bicicleta, mobilidade e turismo na cidade de Niterói, contextualizando a partir dos dados da pesquisa nacional sobre o perfil do ciclista. Tendo também como foco o deslocamento de lazer, os autores apontam a relevância do planejamento integrado das políticas públicas que utilizem a bicicleta beneficiando tanto a população local quanto os visitantes da cidade.

No texto sobre a capital gaúcha – Porto Alegre – Laura Machado, Felipe Prolo e Cristiano dos Santos analisam e contextualizam os dados da pesquisa “Perfil do Ciclista Brasileiro” a partir da convergência dos olhares distintos de cada autor de acordo com suas formações que envolvem a Arquitetura, Antropologia e Direito. Os autores se debruçam sobre os resultados da pesquisa tendo como pano de fundo a discussão da relação entre ativismo e políticas públicas voltadas para o uso da bicicleta. Por fim, concluem destacando os desafios para pedalar em Porto Alegre e indicando a importância do papel do ativismo para a promoção do uso da bicicleta.

Mariana Oliveira da Silveira e Maria Leonor Alves Maia utilizam os dados da pesquisa nacional do perfil do ciclista brasileiro relacionando-os com outras duas pesquisas realizadas na cidade do Recife para traçar um panorama sobre o ciclista da capital de Pernambuco. Entre divergências e convergências encontradas nas três pesquisas, inferem que a infraestrutura cicloviária foi a variável de maior destaque, sendo considerada como empecilho ao uso frequente da bicicleta entre os não ciclistas e os ciclistas. No artigo, afirmam que o aumento do número de ciclistas do Recife será consequência de políticas públicas voltadas ao incentivo do uso da bicicleta, com ampliação da infraestrutura cicloviária, educação do transito e aumento da segurança pública.

Em artigo sobre a cidade do Rio de Janeiro, Victor Andrade, Juciano Rodrigues e Filipe Marino, analisam o perfil, as características dos deslocamentos e as motivações do usuário de bicicleta no contexto das condições urbanas da cidade. Destacam que perfil do ciclista carioca tende a ser mais popular, com forte presença de trabalhadores e de pessoas com menor renda e escolaridade. Os problemas, por sua vez, estão concentrados na deficiência da infraestrutura cicloviária, embora não inibam por completo o uso da bicicleta como meio de transporte na cidade.

Sobre a mesma cidade, Rodrigo R. de Mattos, Alziro Neto e Raul Bueno, discutem a importância do conhecimento produzido no âmbito da pesquisa “Perfil do Ciclista Brasileiro” à luz da história urbana do Rio de Janeiro.  No artigo “A colaboração dos ciclistas para a construção da territorialidade” ressaltam como o impacto da mudança de paradigma de transporte sobre a forma e uso da cidade foi profundo, gerando limitações para o uso da rua e, portanto, para o ato de caminhar e pedalar.

Em Salvador, Maria das Graças Pereira analisou as motivações e critérios de decisão para o uso da bicicleta, vantagens e impedimentos à intensificação do uso, ampliando o conhecimento sobre o usuário da bicicleta na capital baiana. Além disso, a análise foi contextualizada e complementada através da utilização de outras importantes fontes nacionais e regionais, que juntas corroboram a necessária inflexão nas políticas públicas para que as mesmas considerem a ressignificação da bicicleta como meio de transporte efetivo.

A maior metrópole da América Latina é alvo da análise em dois textos. No primeiro deles, intitulado “Migração modal: por que estamos perdendo ciclistas diariamente”, Daniel Guth, parte de uma contextualização histórica da bicicleta e da mobilidade urbana no Brasil a partir de marcos legais, do mercado e do acesso à bicicleta para tratar do exemplo concreto da cidade de São Paulo. Nessa perspectiva, entre outros aspectos, Guth chama a atenção para a necessidade de se solucionar a falta de respeito dos condutores de veículos motorizados e a falta de segurança no trânsito. Por fim, destaca o imperativo enfrentamento de barreiras físicas e simbólicas originadas da dominação da motorização no país e na cidade de São Paulo.

No segundo texto sobre São Paulo, Letícia Lemos, Marina Harkort e Paula Santoro, analisam os dados da pesquisa “Perfil do Ciclista Brasileiro” a partir da perspectiva de gênero. Buscam, assim, olhar para a mobilidade feminina por bicicleta com vistas a discutir as hipóteses sobre as razões para as diferenças e semelhanças entre os padrões de mobilidade feminino e masculino. No artigo “Mulheres de Bicicleta: como pedalam as mulheres em São Paulo” mostra – entre outras constatações importantes – que mulheres parecem ser adeptas mais recentes da bicicleta, o que sugere que elas tenham sido mais influenciadas pelas recentes políticas de inclusão da bicicleta em São Paulo.

Faça o download do livro “Mobilidade por Bicicleta no Brasil”.