Quais legados os megaventos esportivos estão deixando para o Brasil? E para quem? A Rede INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento do livro “Brasil: os impactos da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016” no qual oferece a análise mais completa sobre o legado efetivo dos grandes eventos esportivos no país: da relação entre os megaeventos e a mercantilização das cidades, passando pelos impactos econômicos, impactos das intervenções no direito à moradia, mobilidade e governança urbana, impactos para o futebol brasileiro; até as leituras temáticas para cada uma das 12 cidades-sede da Copa.
O lançamento do livro “Brasil: os impactos da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016” aconteceu, na quarta-feira (29 de abril), na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e contou com a participação do coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, profº Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro; do coordenador nacional da pesquisa “Metropolização e Megaeventos”, profº Orlando Alves dos Santos Júnior; da representante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, Inalva Mendes Brito; do representante da FINEP, Daniel Soares; e da professora e organizadora do livro “Megaeventos sobre São Paulo”, Clarissa Maria Rosa Gagliardi .
Segundo o profº Luiz Cesar Ribeiro, o livro mostra o esforço da Rede Observatório das Metrópoles de produzir uma pesquisa completa sobre os impactos dos megaeventos no Brasil. “Urbanistas, geógrafos, sociólogos e outros profissionais se dedicaram a investigar cada uma das 12 cidades envolvidas na Copa. Também se propuseram a analisar, no plano nacional, dimensões essenciais da vida metropolitana, tais como a mobilidade, a moradia e as políticas de segurança”, afirma Ribeiro e completa: “As análises apontaram que os megaeventos esportivos fazem parte da adoção de um padrão de governança empreendedorista neoliberal, que promove um novo ciclo de mercantilização em nossas cidades”.
Profº Luiz Cesar Ribeiro
Para Daniel Soares, a FINEP acertou ao financiar uma pesquisa inovadora como essa realizada pelo Observatório das Metrópoles. “Inovadora porque não temos muitas pesquisas sobre a realização de megaeventos esportivos em países periféricos como o Brasil, especialmente em no contexto dos megaeventos que conhecemos hoje e que se reconfigurou a partir da década de 1980. Além disso, inovadora porque acompanha o processo, avalia os impactos e a transformação das cidades brasileiras sob a intervenção dos grandes eventos esportivos”, argumenta. “Acreditamos que o livro que está sendo lançado agora poderá subsidiar atores públicos na tomada de decisões – tanto em âmbito nacional quanto internacional”, afirma Soares.
Daniel Soares, Finep
Durante a sua fala Inalva Mendes Brito destacou o apoio dado pela Rede Observatório das Metrópoles aos movimentos sociais, e a articulação conjunta com o Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro na produção de dados e informações para subsidiar a luta dos ameaçados pelas remoções. “Os Comitês Populares tiveram uma atuação fundamental, pois narraram as violações de direitos humanos durante o processo, ou seja, não é uma fala posterior mas sim de que está inserido nas transformações sociais e históricas. E foi muito importante essa atuação pois está inserida em um momento de recrudescimento da mercantilização da cidade”, afirma Inalva Mendes Brito.
Inalva Mendes Brito, Comitê Popular da Copa
O evento de lançamento do livro contou com pesquisadores dos núcleos de Recife, Cuiabá, Brasília e Manaus, Fortaleza, São Paulo e Porto Alegre, e mais a equipe nacional sediada no Rio de Janeiro.
Equipe Megaeventos do Observatório das Metrópoles
Os megaevento esportivos e a emergência da governança empreendedorista
“Segundo o geógrafo David Harvey, ‘o espetáculo sempre foi uma potente arma política’, mas tal atributo se intensificou nos últimos anos como forma de projeção e controle social na cidade, no contexto da ascensão do modelo de gestão urbana empreendedorista neoliberal”. (Gilmar Mascarenhas, Prefácio Livro Brasil: impactos da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016).
De acordo com o profº Orlando dos Santos Jr., a análise da pesquisa “Metropolização e Megaeventos” confirma neste momento a hipótese inicial do projeto de que associado aos megaeventos estaria em curso – em todo o mundo, como fato global – o que David Harvey chamou de “urbanização do capital” como expressão das novas condições impostas para a circulação do capital crescentemente sobreacumulado e financeirizado.
“O que se verifica é um processo que torna necessário mercantilizar o que antes estava fora do circuito da mercadoria e (re) mercantilizar o que foi colocado sob regime da proteção de instituições sociais por sua importância para a reprodução da vida. A cidade – juntamente com a cultura – é a nova fronteira em vias de desbravamento, explorada como tentativa de solução espaço-temporal dos efeitos da exacerbação da sua estrutural crise de acumulação”, argumenta Orlando.
Nesse sentido, os megaeventos expressam um projeto urbano de renovação e reestruturação da cidade. Ou seja, é impossível falar de megaeventos esportivos sem falar do projeto de cidade, como dois processos inseparáveis.
Segundo Orlando, o projeto urbano de renovação e reestruturação das cidades-sede parecem apontar para três direções não excludentes entre si: (1) no fortalecimento de centralidades já existentes das cidades; (ii) na renovação ou revitalização de centralidades decadentes no interior das cidades-sede; (iii) na criação de novas centralidades, através de grandes investimentos em áreas específicas das cidades-sede.
“Pegando o caso do Rio de Janeiro, percebe-se que as intervenções vinculadas à preparação da cidade para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas vêm ocorrendo prioritariamente em três áreas, a Zona Sul, confirmando o fortalecimento da centralidade que já caracteriza este espaço; a Área Portuária, refletindo o investimento na renovação e revitalização de uma centralidade considerada decadente; e Barra da Tijuca, que expressa a construção de uma nova centralidade”.
O livro Brasil: impactos da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 apresenta 10 proposições que servem de chave de leitura para entender os principais impactos dos megaeventos esportivos no país.
1) Os projetos de intervenção e renovação urbana implementados nas cidades-sede são a expressão de uma nova rodada de mercantilização das cidades;
2) A realização dos megaeventos esportivos está associada à difusão de um novo modelo de governança empreendedorista neoliberal nas cidades-sede;
3) Os processos de neoliberalização potencializados pelos megaeventos esportivos ocorrem de forma diferenciada em cada cidade-sede, tendo em vista a especificidade de cada contexto local;
4) As intervenções vinculadas à preparação para a Copa do Mundo e as Olimpíadas promovem um processo de destruição/criação de instituições, regulações e de centralidades no espaço urbano;
5) A implementação dos projetos de reestruturação urbana vinculados aos megaeventos esportivos encontram diversas barreiras que ensejam diversos conflitos urbanos;
6) Os projetos de renovação e reestruturação urbana vinculados à Copa do Mundo e às Olimpíadas promovem um processo de relocalização dos pobres nas cidades;
7) A Copa do Mundo e as Olimpíadas estão associadas à promoção de novos canais decisórios sem participação social e a adoção de leis de exceção que expressam a subordinação do poder público aos agentes de mercado;
8) A preparação da Copa do Mundo e das Olimpíadas tem servido para difundir um modelo de gestão fundado nas parcerias público-privadas;
9) A Copa do Mundo e as Olimpíadas promovem a reconfiguração do futebol e das práticas esportivas;
10) Megaeventos esportivos têm promovido o empreendedorismo urbano no contexto internacional.
Faça o download do livro “Brasil: impactos da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016” e leia sobre as principais análises sobre o legado dos megaeventos esportivos para o país.