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Resultado da tese de doutorado de Igor Pouchain Matela, pesquisador do Núcleo Rio de Janeiro do INCT Observatório das Metrópoles, o livro “Padrões de produção do espaço na longa duração do capitalismo” busca ampliar os horizontes sobre a interação entre capitalismo e espaço, oferecendo novas ferramentas analíticas para os estudos no campo. “O trabalho é uma tentativa de apontar uma metodologia, uma forma de entender os padrões de produção do espaço na longa duração, na esperança de oferecer uma pequena contribuição para a compreensão do mundo tão complexo em que vivemos”, pontua Matela.

A obra tem por objetivo construir um quadro teórico que forneça uma interpretação abrangente dos processos e dinâmicas espaciais a partir de um enfoque sistêmico, integrando as estruturas sociais e as ações contingenciais. Além disso, esclarece a relação entre os espaços centrais e periféricos e as transformações históricas de dependência. A base teórica do trabalho é sustentada pelas contribuições do economista Giovanni Arrighi, com a teoria dos ciclos sistêmicos de acumulação, e do geógrafo David Harvey, que abordam os ajustes espaço-temporais no processo de acumulação capitalista. Enquanto Arrighi descreve o capitalismo histórico como um ciclo de alternância entre expansão material e financeira, Harvey destaca a produção do espaço como uma peça central dessa dinâmica.

Matela argumenta que cada fase do capitalismo histórico apresenta um padrão único de produção do espaço, moldado por dinâmicas hierárquicas e assimétricas. Ele aplica seu referencial ao caso brasileiro, demonstrando como essas ideias podem ser utilizadas para compreender a realidade histórico-concreta do país. O livro foi editorado pela Letra Capital, e está disponível para download na Biblioteca Digital do site do INCT Observatório das Metrópoles.

Perspectivas para o Brasil

Quais as perspectivas para as transformações estruturais do capitalismo, as mudanças nas formas de dependência e nos padrões de produção do espaço no Brasil? Conforme o que Matela expõe no livro, não há no horizonte forças políticas que apontem para uma ruptura com o rentismo-extrativismo. Portanto, segundo ele, a tendência imediata é de aprofundamento dos atuais processos de desindustrialização, reprimarização e reperiferização do país.

“Esses são os processos mais fundamentais. Além disso, nos marcos da dependência rentista-neoextrativista, novos e velhos mecanismos de extração tendem a se expandir e se desenvolver – como, por exemplo, os baseados em economias de plataforma – assim como a continuidade e avanço da financeirização e da mercantilização, das práticas neoliberais de governo etc.”, afirma o autor.

Autor faz parte do grupo de estudos “Metrópole, Estado e Capital”

Desde 2015, Igor Pouchain Matela é integrante do grupo de estudos “Metrópole, Estado e Capital”, idealizado pelo coordenador nacional do INCT Observatório das Metrópoles, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro. Matela explica que, a princípio, o objetivo do grupo era aprofundar a compreensão acerca das relações entre as transformações mais recentes da acumulação capitalista e o processo de financeirização.

“Com o tempo, nossa preocupação foi se voltando com mais intensidade para a compreensão da realidade social e espacial brasileira no contexto das transformações sistêmicas do capitalismo. Assim, fomos nos aproximando cada vez mais das discussões relacionadas à inserção do Brasil no sistema mundial, os fundamentos de nossa posição periférica e dependente. Para isso, recorremos tanto às leituras e às releituras atuais sobre a dependência, às teorias do sistema-mundo, assim como à economia política internacional”, discorre Matela.

O grupo realiza publicações de artigos e de livros (alguns frutos das teses de seus integrantes), assim como organiza seminários e espaços de diálogo. Dentre as publicações, é destaque a coletânea “As metrópoles e o capitalismo financeirizado”, com sua primeira edição em 2020.

Sumário do livro “Padrões de produção do espaço na longa duração do capitalismo”:

  • Introdução
  • A acumulação de capital e a produção capitalista do espaço
    • 2.1 Primeiro recorte: superacumulação e desvalorização no processo de produção de mercadorias
    • 2.2 Segundo Recorte: deslocamentos temporais
      • 2.2.1 Investimentos de longo prazo e a formação de capital fixo
      • 2.2.2 Desenvolvimento do sistema de crédito: a ascensão das finanças
      • 2.2.3 A produção do ambiente construído
    • 2.3 Terceiro recorte: deslocamentos espaciais
      • 2.3.1 Desenvolvimento geográfico desigual e a formação de “coerências estruturadas”
      • 2.3.2 Alianças de classe de base territorial, lógicas capitalista e territorial de poder
      • 2.3.3 Ajuste espacial, imperialismo e crise global
      • 2.3.4 Acumulação por despossessão
  • Os ciclos sistêmicos de acumulação
    • 3.1 Sociedade mercantil, capitalismo e a recorrência das altas finanças em Braudel
    • 3.2 A formalização dos ciclos sistêmicos de acumulação
    • 3.3 As expansões materiais
      • 3.3.1 Da cooperação à competição
      • 3.3.2 Regimes de acumulação e vias de desenvolvimento
      • 3.3.3 A contradição entre os meios e os fins da acumulação de capital
    • 3.4 As expansões financeiras
      • 3.4.1 Mudança dos agentes líderes para as altas finanças
      • 3.4.2 Condições de oferta e de demanda do capital circulante
      • 3.4.3 Redistribuições de valor nas expansões financeiras
      • 3.4.4 Investimentos na terra e a formação das classes rentistas
      • 3.4.5 Restauração da riqueza e do poder para as classes capitalistas
      • 3.4.6 A emergência de um novo regime de acumulação
      • 3.4.7 Caos sistêmico e transição hegemônica
    • 3.5 Ciclos sistêmicos de acumulação como estágios na história do capitalismo
      • 3.5.1 Aumento da complexidade e tamanho dos agentes e estruturas organizacionais
      • 3.5.2 Padrões de recorrência e evolução determinados pela história e pela geografia
  • Padrões de produção do espaço no sistema mundial capitalista
    • 4.1 Recapitulação e síntese: ajustes espaço-temporais nas fases de expansão material e financeira
    • 4.2 Os padrões de produção do espaço nas expansões materiais e financeiras
  • A produção do espaço na periferia do sistema mundial: apontamentos sobre o caso brasileiro
    • 5.1 A estrutura centro-periferia do sistema mundial capitalista
    • 5.2 As formas históricas das relações de dependência
    • 5.3 Padrões de produção do espaço no Brasil no longo século XX
      • 5.3.1 Padrão de produção do espaço e forma de dependência na expansão financeira do ciclo britânico
      • 5.3.2 Padrão de produção do espaço e formas de dependência na expansão material do ciclo estadunidense
      • 5.3.3 Padrão de produção do espaço e formas de dependência na expansão financeira do ciclo estadunidense
  • Conclusão
  • Referências

Acesse o livro em: observatoriodasmetropoles.net.br/padroes-de-producao-do-espaco-na-longa-duracao-do-capitalismo