Ao longo de dois meses, o projeto #LivesOM produziu reflexões sobre os impactos da conjuntura pandêmica sobre as metrópoles brasileiras. Foram quase vinte transmissões ao vivo promovidas pelos núcleos regionais da rede através do nosso canal no Youtube. Confira os registros das lives dessa semana!
Na quinta-feira (23), o Núcleo Curitiba promoveu a live “Mobilidade urbana e políticas públicas de emergência pós-pandemia“. A transmissão teve a participação do professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, Lucas Cestaro; professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR e pesquisadora do Núcleo Curitiba, Maria Carolina Maziviero e da pesquisadora do Núcleo Curitiba, Débora Follador. O principal intuito do debate foi refletir sobre as possibilidades de construção, revisão e proposição de políticas públicas, adotando como abordagem o enfoque da mobilidade urbana.
“Estamos tratando do período a partir do aparecimento do novo coronavírus, levando em consideração que estamos olhando o mundo aonde a COVID-19 é uma nova realidade, um novo problema a ser enfrentado e, a partir dele, surgem novas demandas. Com isso, vamos discutir a mobilidade urbana e essas políticas públicas de emergência nesse contexto pós-pandemia”, observou o professor Lucas Cestaro. Conforme a pesquisadora Débora Follador, a política nacional de mobilidade urbana coloca como prioridade o transporte público coletivo e os modais ativos. “Precisamos entender como coordenar, de um lado essa demanda de mercado econômica e de movimentação e recuperação, com a questão da mobilidade urbana sustentável, que visa uma apropriação mais democrática de espaço e uma priorização de transportes que sempre são colocadas de lado”, ressalta.
Para a professora Maria Carolina Maziviero, é preciso defender a ideia de políticas públicas ou de um fazer que seja mais voltado à prática e à experimentação, para permitir aberturas com uma maior agilidade na resposta do poder público. “Isso proporcionaria outros caminhos de investigação e outros modos de associativismo e gerenciamento de estruturas. É necessário que as políticas públicas consigam atender situações emergenciais, que sejam entrelaçadas com as práticas em curso, sobretudo, com as tecnologias participativas populares que vêm sendo construídas em territórios populares, portanto, trazendo um fortalecimento do governo local, do necessário enraizamento dessas ações públicas, no sentido de estarem mais próximas das ações urgentes”, pontua a professora. Segundo ela, é importante tentar passar de uma política reivindicatória para uma ação direta, na tentativa de uma reorganização de novos arranjos entre sociedade, poder público e instituições. “É um ajuste para que essa cooperação seja possível e para que a gente consiga ter uma resposta mais rápida e objetiva, direta e mais articulada às demandas locais, a partir da própria mediação com quem está diretamente em campo, seja na política de mobilidade, moradia ou urbanização desses territórios”, finaliza Maria Carolina.
Confira o registro:
Já na terça-feira (28), aconteceu a live “A crise política no Brasil, relações intergovernamentais e o enfrentamento à pandemia em Salvador“. A transmissão contou com a participação do professor do Departamento de Ciência Política da UFBA e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades, Paulo Fábio Dantas Neto e da professora do Departamento de Ciência Política da UFBA, pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades e do Observatório das Metrópoles Núcleo Salvador, Carla Galvão Pereira, com moderação do professor do Departamento de Sociologia da UFBA e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades e do Observatório das Metrópoles Núcleo Salvador, Rafael de Aguiar Arantes.
Segundo o professor Paulo Fábio, tendo em conta o rigor e as circunstâncias trágicas envolvidas neste atual contexto de crise sanitária, econômica e política, respostas são necessárias e colocam no centro da questão o problema do governo. “O Brasil está assistindo a uma experiência que pode ser de um lado paradoxal, mas é principalmente pedagógica. É inacreditável, a princípio, que neste exato momento a democracia está ameaçada por um presidente da República que é descomprometido e adversário dela, mas que exatamente neste momento estejamos conseguindo produzir no Brasil instrumentos de enfrentamento da crise que podem nos colocar não no caminho da solução, mas no caminho de um mitigamento importante dos seus efeitos”, acredita.
O professor relata uma expectativa muito grande de que seja possível prosseguir e conseguir afastar do caminho os riscos de desvio que estão, por exemplo, no fato de a universidade estar na cena pública, em um confronto judicial com autoridades sanitárias estadual, federal e municipal. “Do ponto de vista dessa questão política mais geral, esta é uma situação que exige uma urgente providência, no sentido de ser tirada do caminho, pois é um conflito que não interessa. O padrão de relacionamento precisa ser um padrão cooperativo, nem o padrão hierárquico, nem o padrão da concorrência e conflito”, pontuou o professor Paulo Fábio. Conforme a professora Carla Galvão, o que a experiência da COVID-19 traz é que, pelo menos momentaneamente, esta competição intergovernamental não tem mais sido a máxima dessa relação.
“O padrão das relações intergovernamentais entre a Prefeitura de Salvador e Governo do Estado nesta pandemia tem sido um padrão de cooperação”, aponta. De acordo com a professora, o estado da Bahia teve o primeiro caso de COVID-19 em 6 de março, nove dias depois do primeiro caso no Brasil e, logo em meados de março, o Governo do Estado e o prefeito de Salvador se reuniram em conjunto com seus secretários de saúde para a declaração da situação de emergência sanitária e para definirem ações conjuntas. “Os dois gestores sempre destacaram a importância do esforço conjunto, acima de qualquer diferença partidária, como algo fundamental para preservar vidas. Não sabemos até quando essas ações vão continuar existindo, mas no caso da pandemia este é um exemplo emblemático. É importante destacar que temos aprendido que a construção de pactos e acordos é possível, viável e, considerada a complexidade demográfica, econômica, social e política de Salvador, ela é extremamente necessária”, ressalta Carla Galvão.
Confira o registro:
Já última live do projeto #LivesOM ocorreu na quinta-feira, 30, e abordou o tema “A Região Metropolitana de Belém (RMB): precariedade, território e COVID-19“. A transmissão contou com a participação do professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFP)A e coordenador do Núcleo Belém, Juliano Pamplona Ximenes Ponte; professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e vice-coordenador do Núcleo Belém, José Júlio Ferreira Lima; professora na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e pesquisadora do Núcleo Belém, Ana Cláudia Duarte Cardoso e do professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA e pesquisador do Núcleo Belém, Raul da Silva Ventura Neto.
Esta foi a segunda live do Núcleo Belém dentro do projeto articulado pelo Observatório. O objetivo foi debater sobre as condições urbanísticas, infraestruturais, habitacionais e socioambientais da Região Metropolitana de Belém (RMB), relacionando-as com a pandemia de COVID-19 e sua potencialização dada pela notória precariedade e pobreza de seu território. Na oportunidade, o professor José Júlio Lima discorreu sobre mobilidade urbana, contágio e desigualdade na RMB. “O tema da mobilidade está sendo tratado tanto nos circuitos acadêmicos, como também nas discussões sobre como se dará o processo de retomada de atividades econômicas e educacionais”, ressaltou.
Conforme Lima, o BRT de Belém opera em caráter experimental desde 2019 e, no mês de março, houve a suspensão e paralisação das atividades das linhas que operavam provisoriamente. “Como desdobramentos e possíveis propostas, no sentido de incompletude no sistema de BRT, a utilização efetiva dos veículos ainda não é anunciada. Passam o período de lockdown e de pandemia e não teremos, ainda, perspectiva de que aquilo que poderia ser medida para contornar essas necessidades que a própria situação do vírus coloca, pudessem ser utilizadas no enfrentamento do problema de mobilidade metropolitana”, pontuou o professor.
Para o pesquisador Raul Ventura Neto, há de se pensar que a capilaridade do SUS no interior não é algo a se desconsiderar. “A capilaridade vai ser fundamental na disseminação da vacina e fundamental também para um grande programa de testagem, que era o que o governo federal deveria ter feito no início da pandemia, porque poderia contar com as Unidades Básicas de Saúde (UBS) no interior, por exemplo. Então, o esforço no sentido de aplicação da rede não deve ser temporário e deve dar conta de considerar a situação das epidemias futuras e da pandemia de COVID-19 na epidemiologia do estado e em como o estado irá se proteger nos próximos anos, considerando as diferenças territoriais”, observou Neto.
Segundo a professora Ana Cardoso, a situação está longe de ser estabilizada, porque é possível que tenhamos dez vezes mais casos do que os registros oficiais informam. “Este cenário deixa para a gente uma sensação de que se encontrou um modo de destruir pessoas, que são aquelas que atrapalham os interesses econômicos e, apesar de tudo isso, a sociedade ainda não consegue escolher novos caminhos. É preciso pensar no quanto essa tensão que existe na Amazônia pode colocar em risco a vida de todos nós, além da vida de quem sempre resistiu e enfrentou esse processo. O urbano já extrapolou há muito tempo as cidades. Todo o mundo quer ter saneamento, quer ter mobilidade e Internet de qualidade. As cidades estão sendo criminosamente estendidas por sobre as terras que foram ocupadas por populações que estão sobre uma pressão enorme e que não tem acesso aos serviços que desejam ter. Muitas das pessoas que estão nessas situações mudam para a cidade e, então, começamos a ver os indígenas urbanos, os quilombolas, onde se percebe a existência de um racismo que está associado a um processo que traz a perda da identidade”, analisou.
O coordenador do Núcleo Belém ainda fez uma observação sobre as populações mais atingidas pela pandemia. “Parece haver um nexo causal com áreas mais sujeitas a alagamentos ou onde a infraestrutura é mais precária, mas, principalmente, dificuldades antigas são perpetuadas, de acesso à renda, a sobrevivência dessas populações, como biscateiros e prestadores de serviços que, na pandemia, foram duramente impactadas com a perda de renda. Essas populações de favelas estão sujeitas tanto a essa perda de renda, quanto a problemas como falta de acesso a equipamentos de saúde, dificuldade de acesso ao auxílio emergencial do governo, falta de acesso à Internet. O bloqueio de todas essas possibilidades de renda e de comunicação apareceu muito fortemente nos relatos, além da interrupção das suas fontes de sobrevivência”, expôs Juliano Ximenes ao final da apresentação.
Confira o registro: