Na última quinta-feira, 09, o Observatório das Metrópoles, através do seu canal no Youtube, apresentou a live “Gestão metropolitana: pandemia de COVID-19 e 10 anos de produção de conhecimento do Núcleo Vitória”. A transmissão contou com a participação do coordenador do Núcleo Vitória e diretor presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, e da pesquisadora do Núcleo Vitória e diretora de Estudos e Pesquisas do Instituto Jones dos Santos Neves, Latussa Laranja. O objetivo do debate foi apresentar a produção do Núcleo Vitória e o apoio à gestão metropolitana da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), além de apresentar as tomadas de decisão do Governo do Estado do Espírito Santo, em um recorte metropolitano, por meio de estudos e pesquisas.
A pesquisadora Latussa Laranja abriu a conversa contextualizando a promoção de conhecimento qualificado sobre as questões metropolitanas exercida pelo Observatório. Segundo ela, toda a desigualdade urbana é incorporada como um foco de atenção. “Acredito que nós tenhamos insumos e condições de trabalhar frente a uma nova escala, acompanhando a questão da informalidade, por exemplo. Por volta de 25% da população do estado do Espírito Santo são pessoas que estão mais propícias a sofrerem os efeitos duradouros da pandemia, tanto a diminuição da atividade econômica, mas também exacerbando as questões de direito à cidade e de direito à moradia de uma maneira que fica muito evidente”, pontua. Para ela, a pandemia não inaugura a desigualdade na sociedade brasileira, nos territórios e na forma como são ocupados e o que tem de mais importante no momento é ouvir sobre a produção do futuro.
“Estamos atentos para este quadro de desigualdade como sempre estivemos e prontos para tentar ajudar na construção desse conhecimento de uma forma a tentar entender o fenômeno Brasil”, indicou a pesquisadora. Segundo o coordenador do Núcleo Vitória, Pablo Lira, o núcleo vem sendo bastante demandado na produção de informação, de dados, conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias que possibilitem monitorar a pandemia. “A partir de um diagnóstico conseguimos estabelecer uma análise da etiologia da pandemia, o estudo das causas, para subsidiar elementos para elaborar ações e desenvolvimento de medidas de mitigação e controle da pandemia”, explica.
De acordo com dados mais recentes apresentados no painel da COVID-19 no estado do Espírito Santo, na data de apresentação da live (09 de julho) foram indicados mais de 60 casos confirmados de COVID-19 no estado, com 1.912 óbitos e um percentual de letalidade a 3,25%. O total de curados gira em torno de mais de 38 mil pessoas – 66% dos confirmados se caracterizam como curados. “Estes indivíduos acabam atuando na população como bloqueadores da transmissão do vírus, impactando na disseminação do vírus”, pontua Lira.
Conforme a pesquisa, o número de testes realizados foram mais 129 mil. “Isso significa que o padrão de testagem é superior à taxa de testagem do Brasil, ou seja, o estado de Espírito Santo realiza mais de 32 mil testes para cada um milhão de habitantes. A taxa no Brasil está em 20 mil testes para cada milhão de habitantes. O estado tem menor subnotificação por conta desse padrão de testagem alto, superior à média nacional”, revela o coordenador, sugerindo, ainda, que todas as informações disponibilizadas também podem ser encontradas em uma base cartográfica, chegando no nível de bairros. “Tudo o que estamos produzindo, tirando o sigilo do dado, como informações pessoais, é disponibilizado para facilitar o acesso à informação para outras instituições de pesquisa, ensino superior ou organizações”, completa Pablo Lira.
Confira o registro:
Já na última terça-feira, 14, o Núcleo Paraíba do Observatório das Metrópoles promoveu uma live com o objetivo de abordar as ações que bloqueiam o enfrentamento à pandemia de COVID-19 em Campina Grande, debatendo quais os desafios e as prioridades. Participaram do debate a pesquisadora do Núcleo Paraíba, Kainara dos Anjos; assessora técnica do Centrac e secretária executiva da Plataforma Mercosul Social e Solidário, Patrícia Sampaio; assistente social vinculada aos movimentos sociais de defesa dos direitos humanos, Jô Oliveira e a presidente do DCE da UFCG, militante do Levante Popular da Juventude e pesquisadora do Núcleo Paraíba, Daiane Lopes.
De acordo com a pesquisadora Kainara dos Anjos, o Núcleo Paraíba, além de apoiar ações humanitárias, vem tentando contribuir com ações de incidência política a partir de contatos com ministério público e defensorias. “Buscamos a mobilização de ações da sociedade civil para apoio humanitário, principalmente com a distribuição de cestas de alimentos e kits de higiene, além de ações de incidência política para a denúncia de violações de direitos e exigências destes”, avaliou Kainara. Para a assessora técnica do Centrac, Patrícia Sampaio, há uma ausência de medidas efetivas na gestão da crise. “São ações paliativas, faltam políticas efetivas, faltam diagnósticos, não sabemos o tamanho da pandemia em Campina Grande, nem o nível de contágio. Não há controle da propagação em si, a gestão municipal não oferece ações concretas para que o vírus não se propague”, ressaltou.
Segundo a assessora, a população de rua no município está crescente e, neste momento de pandemia, cresceu ainda mais. “Muitas lojas fechadas estão servindo de abrigo para esta população de rua. Testar somente não vai resolver o problema”, pontua. Sobre a insegurança alimentar, a assessora pondera que o principal é assistir à população mais vulnerável com alimentação, que é um direito básico, porém, “a administração municipal não está voltada para isso e a justiça teve que ser acionada para obrigar a prefeitura a cumprir esta obrigação”. Além disso, conforme Patrícia, crianças e adolescentes dependem dessa alimentação, que não chegou com qualidade para as famílias, pois não havia frutas nem verduras, por exemplo. “É um obstáculo que precisa ser superado”, afirma.
Conforme a assistente social Jô Oliveira, o alinhamento político e ideológico da gestão do município de Campina Grande com o governo Bolsonaro afeta a vida das pessoas. “A falta de planejamento das ações municipais, problemas como falta de equipamentos para profissionais da saúde que estão na linha de frente, sobrecarga da rede municipal de atendimento, o afrouxamento das medidas sanitárias, pois não tivemos nem mais higienização das ruas, mesmo com a abertura do comércio. Mas aqui faço uma ressalva, será que esse comércio fechou em algum momento? Porque o centro não parou de ter gente, as pessoas não pararam de comprar, não havia fiscalização, não sabemos como os lojistas têm feito este controle de higienização constante”, denunciou.
Para a assistente social, também há a insuficiência de testagens, onde muitas pessoas não conseguem ter acesso aos testes. “No entanto, a prefeitura os disponibiliza para times de futebol profissionais da cidade. É importante pensar que estes times podem recorrer aos seus patrocinadores, sem que tire isso das pessoas que estão no dia a dia precisando trabalhar e testar. À medida que a pandemia se espalha, se coloca nas áreas de maior vulnerabilidade social. Precisamos registrar também que são as pessoas pretas, em especial os homens pretos que têm sido vítimas fatais do coronavírus, em especial na região nordeste, onde aproximadamente 82% das pessoas que morrem por COVID-19 são homens e são negros. Precisamos fazer esse debate sobre o que significa isso para a população negra e, também, atentar para as pessoas que estão suscetíveis a isso. Tem uma série de coisas que precisam ser repensadas. Estamos nos defendendo contra esta política da morte”, conclui a assistente social.
Já a presidente do DCE da UFCG, Daiane Lopes, afirma que a pandemia, além de colocar questões sociais em evidência – como as contradições de raça, de gênero, de classe – ainda expõe a deficiência das políticas públicas que existem em Campina Grande. “O desafio da pandemia é este, se vamos apostar na economia, se vamos apostar em salvar a vida do povo, da classe operária que está nas fábricas num período em que o isolamento social é a nossa única certeza de minimizar a contaminação da doença. A nossa prioridade neste momento é, acima de tudo, salvar a vida da população e só vamos conseguir se nos livrarmos deste projeto neofascista que está sendo construído, implantado no nosso dia a dia e avançando. Estamos em 2020, a janela histórica está aberta. Cabe a gente se agarrar à nossa utopia e construir a história que nós queremos”, finaliza a militante.
Confira o registro: