Inovação tecnológica para Habitação de Interesse Social
É possível imaginar um projeto de habitação popular numa favela? E se essas edificações fossem sustentáveis e utilizassem componentes pré-fabricados de modo a reduzir o tempo de construção e evitar desperdícios, revertendo assim a lógica atual dos aglomerados informais caracterizados por casas em áreas de risco e de baixa qualidade. Essa é a proposta do projeto “MORAR-TS: Desenvolvimento de tecnologias sociais para construção de HIS”, que o Observatório das Metrópoles desenvolve com o objetivo de que a moradia cumpra sua função social, atendendo as demandas dos moradores e requalificando o espaço onde foi implantada. Com recursos da FINEP, o trabalho resultou em tipologias para a produção de políticas de habitação.
Coordenado pelos professores Adauto Lúcio Cardoso e Luciana Corrêa do Lago (IPPUR/UFRJ), o projeto “MORAR-TS: Desenvolvimento de tecnologias sociais para construção de habitação de interesse social” do Observatório das Metrópoles teve início com a análise de um conjunto de tipos arquitetônicos HIS com o propósito de estabelecer um contraponto aos projetos adotados no Programa Minha Casa Minha Vida, além de apresentar aos diversos agentes que atuam no projeto e construção das HIS uma metodologia e onze tipos de edificações – uma alternativa ao modo tradicional de conceituar, projetar e construir as HIS.
Tecnologia Social e a experiência da Rocinha
A pesquisa conta com a coordenação técnica do arquiteto Luiz Carlos de Menezes Toledo, que trouxe a sua experiência durante a elaboração do Plano Diretor Sócio Espacial da Rocinha (2005-2007) para a formulação da metodologia baseada na Tecnologia Social (TS) e o aproveitamento das HIS como instrumento de reorganização espacial nos assentamentos informais.
“Durante a elaboração do Plano Diretor foram quebrados diversos paradigmas, mostrando, por exemplo, que a elaboração de um trabalho dessa natureza, não só pode ser feito em um escritório na própria favela, como essa é, na verdade, a melhor alternativa para incentivar e facilitar o acompanhamento do processo de planejamento pelos moradores”, explica Luiz Carlos Toledo.
A participação da população no projeto e na construção das unidades habitacionais, bem como a transferência da tecnologia utilizada na construção das HIS à população local também foram preocupações da equipe que elaborou o Plano Diretor, discutindo com os moradores a adequação dos programas e as características construtivas das HIS.
“A proposta de construir edificações sustentáveis sobre pilotis, com unidades habitacionais de um a três quartos, tetos verdes, captação da energia solar e das águas pluviais para reuso, acabou por não ser aprovada, mas deu origem a várias alternativas projetuais aprofundadas nesta pesquisa, não só no que se refere à oferta de unidades habitacionais diversificadas (de SQ à S4Q) e à sustentabilidade, mas também, em relação aos processos construtivos baseados na utilização de componentes industrializados e pré-fabricados, de modo a reduzir o tempo de construção, evitar os desperdícios de esforços e materiais e garantir maior controle da qualidade das construções”, explica Toledo e completa:
“Com base nessa experiência, a metodologia construída para a pesquisa do Observatório das Metrópoles também se espelhou em dois processos de produção atuais, cujos princípios se aproximam daqueles que julgamos ser os mais adequados para que as HIS cumpram sua função social, buscando a satisfação das demandas dos moradores e a requalificação do espaço onde forem implantadas, através de uma nova maneira de projetar e construir”.
Um papel ampliado para as HIS
A pesquisa tem como premissa a hipótese de que as HIS podem ter um papel relevante na organização espacial de aglomerações que surgiram, cresceram e se consolidaram sem qualquer tipo de planejamento e a revelia dos parâmetros fixados pelas legislações urbanísticas, como as favelas, os loteamentos irregulares e, até mesmo, áreas formais em processo de degradação.
Desse modo, pretende-se que o estudo de HIS atenda às necessidades da população mais pobre e contribua para a requalificação do espaço urbano, criando novos espaços públicos, combatendo a ocupação excessiva do solo, melhorando as condições de salubridade e mobilidade. “No Rio de Janeiro, além de fundamental, o estudo é oportuno neste momento em que os governos Federal, Estadual e Municipal se unem para enfrentar a questão da favelização, com um conjunto de ações e programas, dentre os quais destacamos o PAC das Favelas e o MORAR CARIOCA, sucessor do programa Favela Bairro e que têm como objetivo promover a urbanização de todas as favelas da cidade até 2020”, argumenta Luiz Carlos Toledo.
Tipologias para HIS
O projeto “MORAR-TS: Desenvolvimento de tecnologias sociais para construção de HIS” pretende estabelecer um contraponto em relação ao Programa Minha Casa Minha Vida, principalmente nos casos em que o programa seja direcionado aos agrupamentos informais preexistentes, caracterizados por altas taxas de ocupação do solo, precárias condições de mobilidade, verticalização das edificações, unidades habitacionais em áreas de risco, habitações de baixa qualidade funcional e construtiva e falta de infraestrutura.
Apesar desse recorte, os tipos não foram projetados para ter sua implantação restrita às favelas ou a outros agrupamentos preexistentes, e sim como uma alternativa aos projetos de HIS contemplados pelo Programa Minha Casa Minha Vida, podendo ser implantados em qualquer parte da cidade.
Nesse contexto, o conjunto dos estudos preliminares dos 11 tipos de HIS desenvolvidos pela equipe objetiva a criação de:
• HIS com programas variáveis contemplando apartamentos de um a quatro quartos;
• HIS evolutivas permitindo rearranjos dos layouts e a expansão controlada das unidades habitacionais;
• Edificações com uso misto (habitacional + comércio e serviço); Circulações verticais e horizontais de uso público;
• Espaços públicos e semi-públicos nos pavimentos em pilotis das HIS (galerias cobertas, áreas de comércio e lazer).
A seguir a descrição de alguns desses tipos:
– Tipos que contribuam para melhorar as condições de mobilidade e acessibilidade e criem novos espaços de uso público: Nas favelas com maior densidade de ocupação e onde o processo de verticalização já foi iniciado, dois grandes problemas geralmente estão presentes: as condições precárias de mobilidade / acessibilidade e a inexistência de espaços públicos.
– Tipos de HIS evolutivas que permitam o aumento da área da unidade residencial segundo diretrizes projetuais e tecnológicas pré-definidas.
– Tipos de HIS variando entre 22m² (estúdio) e 85m² (S4Q) de área que permitam ao morador escolher a planta que mais lhe agrade, tendo apenas como elementos fixos as circulações e os shafts. Esse tipos também oferecem a possibilidade do próprio morador concluir sua habitação.
– Tipos verticalizados: Edificações verticalizadas, desde que compatíveis com o contexto urbano dos locais onde serão implantadas, podem ser utilizadas para o combate da excessiva ocupação do solo. Durante a pesquisa estudamos tipos verticalizados, com acessos feitos por pavimentos intermediários, quando as condições topográficas permitiram, ou com elevadores e escadas compartilhadas com a população em geral.
Última modificação em 19-12-2012 22:49:20