Impactos do turismo global na Costa dos Coqueiros/Bahia
Quais os impactos que o turismo dos megaresorts têm gerado na Costa dos Coqueiros, no litoral norte da Bahia? Foi a partir desta questão que Adonias Rios de Moura Teixeira analisou a relação entre trabalho e turismo no município de Mata de São João, especificamente o universo do entorno dos megaresorts Costa do Sauípe, Iberostar e Grand Palladium. A conclusão da pesquisa é que na consolidação do chamado turismo de massa houve, além da geração de oportunidades de trabalho e qualificação às comunidades originais da Costa dos Coqueiros, impactos mais negativos como o crescimento demográfico mal planejado, a favelização, a violência e o aumento do consumo de drogas.
A dissertação “Ô de Casa! Ô de fora! – Trabalho local e turismo global na Costa dos Coqueiros” foi defendida por Adonias Rios de Moura Teixeira no Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania, da Universidade Católica do Salvador. Orientada pela professora Inaiá Moreira de Carvalho, o trabalho é mais um resultado da Rede Nacional de Pesquisa INCT Observatório das Metrópoles.
Segundo Adonias Teixeira, o estudo se propõe a discutir os impactos socioeconômicos do turismo tomando como ponto de partida a implantação de três megaresorts na Costa dos Coqueiros, região localizada no litoral norte da Bahia, onde existiram comunidades tradicionais, há algum tempo, formadas basicamente por pescadores artesanais e pequenos agricultores, que vivenciaram grandes transformações a partir da brusca entrada da atividade turística em seu espaço. Desse modo, a análise visa compreender o impacto do turismo global, “de massa”, e a sua forma de apropriação dos territórios. “O turismo pode ser considerado uma atividade associada ao fenômeno da globalização, seja enquanto mercado, atendendo a demandas diversas, cada vez mais segmentadas e interconectadas mundialmente, seja enquanto política, buscando o estímulo ao desenvolvimento local a partir da convergência dessas demandas, seja enquanto fenômeno cultural, fazendo parte em caráter intrínseco da própria jornada histórica do homem pelo conhecimento em si, do outro e do seu habitat”, explica o pesquisador.
Adonias Teixeira explica que o recorte do trabalho foi no início delineado em dois grandes grupos: os que formavam as comunidades tradicionais da Costa dos Coqueiros e os que chegaram junto com a chamada “linha verde”, com os loteamentos e com os hotéis. “No entanto, a realidade que se descortinou no fazer deste estudo não poderia ter sido mais diversificada, o que certamente era o lógico, sabendo-se que a pesada ‘indústria do turismo’ começou a se alicerçar na região pesquisada desde meados da década de 90, tendo tido como início simbólico a construção do Complexo de Costa do Sauípe em 1996. Como resultado, entre a data de início da construção desse que foi o primeiro grande resort turístico implantado no Litoral Norte da Bahia – tendo sido projetado para ser o maior da América Latina – e o período de realização da pesquisa estão quase dezesseis anos marcados por profundas transformações no modo de vida das pessoas e no território de forma geral”, afirma.
Por esse motivo, se escolheu concentrar esforços no citado resort Costa do Sauípe e nos empreendimentos Iberostar e Grand Palladium, pois cada um deles foi construído em um período diferente dentro da linha de tempo estabelecida para efeito da pesquisa, o que significa que por meio da análise particular dos seus processos de implantação, pôde-se observar claramente as diferenças no que diz respeito aos impactos econômicos e socioambientais, além do próprio discurso político vigente em cada momento.
Com efeito, o Costa do Sauípe, como primeiro a existir para além de Praia do Forte e o maior de todos ainda hoje, foi o que mais problemas infligiu às comunidades de impacto direto e também o que mais sofreu as consequências de ser erguido em uma região ainda pouco desenvolvida, com uma população sem qualificação e possuidora de baixíssimo nível educacional. Destaque-se que nesse momento ainda não se popularizara o discurso da sustentabilidade, apesar de contraditoriamente, o empreendimento ter sido responsável pela demanda de criação do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Costa dos Coqueiros (PDSCC), primeiro da região.
A implantação do Iberostar, inaugurado já em 2006, é também caracterizada por graves conflitos socioambientais, porém, de forma diferente do ocorrido na fase de entrada do Costa do Sauípe, encontrou comunidades muito mais organizadas e instrumentalizadas do ponto de vista político e já munidas do discurso sustentável. Ressalte-se que o empreendimento em questão sofreu nesse período com a descontinuidade e a incoerência da gestão pública.
Finalizando a tríade, o Grand Palladium, como empreendimento mais recente, inaugurado em 2010, foi construído já em um momento no qual os pilares do desenvolvimento sustentável, que são a preservação do meio ambiente, a participação política e o desenvolvimento econômico, estão amplamente presentes, ao menos em teoria, tanto nas propostas empresariais quanto nas plataformas eleitorais. De qualquer forma, sua implantação tem sido bem menos traumática que a de seus predecessores e nela se constatou esforços, sobretudo a partir da criação do Instituto Imbassaí, hoje principal interlocutor entre as demandas comunitárias e os empresários, de um real envolvimento da população local no ciclo do turismo.
“Foram dezesseis anos de grandes mudanças, dentre as quais se podem destacar as provocadas pela convergência, sobretudo nas fases de implantação dos resorts citados, de grandes fluxos populacionais para a área em questão, movidos pelas oportunidades de trabalho e pelas promessas de geração de renda que acompanham o “mito” do turismo não apenas no Brasil e na Costa dos Coqueiros, mas em todo mundo”, argumenta Adonias.
Entrevistas
A pesquisa de campo, ao todo, chegou a 48 entrevistados entre: moradores antigos, em geral aposentados pelo fundo rural, em atividades tradicionais como as já elencadas anteriormente ou trabalhando com pequenos negócios impulsionados pelos efeitos indiretos do turismo; pessoas vindas há muitos anos de outros lugares e que acabaram por se misturarem aos nascidos nas comunidades da Costa dos Coqueiros; jovens oriundos das comunidades de impacto direto e focados no trabalho dentro dos hotéis, ou em cooperativas de mototáxi; trabalhadores do setor hoteleiro e do setor de alimentos e bebidas, chegados há menos tempo de outras comunidades, e mesmo de outras regiões, atraídos pelas oportunidades de emprego e de geração de renda; líderes comunitários engajados na defesa de seus povoados e do meio ambiente; gestores de Recursos Humanos dos resorts pesquisados; estudiosos do tema e da região; técnicos das Secretarias de Turismo; gestores de programas de desenvolvimento sustentado com ações no local; representantes de Organizações não Governamentais; políticos locais; professores; artistas e ex-empregados dos empreendimentos onde o presente trabalho se concentrou.
“A partir desses depoimentos, pôde-se construir uma imagem mais completa, e sem qualquer dúvida muito mais complexa, de como se dão as relações entre a economia do turismo e o desenvolvimento local, sobretudo no interesse em responder à pergunta chave deste trabalho: Afinal, até que ponto os impactos do turismo têm sido positivos para as pessoas que moram na Costa dos Coqueiros?”, questiona Adonias.
Resultados
A partir da pesquisa de campo, se aferiu impactos mais positivos, como a criação de infraestrutura básica, a geração de empregos, de oportunidades de trabalho e as possibilidades de qualificação oferecidas às comunidades originais da Costa dos Coqueiros para ocupações operacionais do trade turístico. Por outro lado, a entrada do turismo economicista, trouxe também impactos mais negativos, como o crescimento demográfico mal planejado, a favelização, a violência, as drogas, a precarização do trabalho e os problemas ambientais.
“Como resultado principal se destaca uma imagem mais positiva do turismo por parte da maioria dos entrevistados, porém com ressalvas quanto à necessidade de serem corrigidos muitos problemas. Tudo isso aponta para uma dinâmica ainda confusa com relação aos papéis do governo e das empresas na resolução destas questões e uma inconsistência do discurso sustentável com a prática estabelecida, mas, também aponta que a atividade turística pode ser, desde que bem planejada enquanto política e fiscalizada, um grande vetor de desenvolvimento local”.
Acesse o trabalho completo “Ô de Casa! Ô de fora! – Trabalho local e turismo global na Costa dos Coqueiros”, de Adonias Rios de Moura Teixeira, aqui.
Última modificação em 21-11-2012 19:35:07