A Justiça Global lançou, nesta segunda-feira, dia 25, um guia voltado a comunicadores e jornalistas que aborda algumas das principais violações de direitos humanos ocorridas durante o processo de preparação do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos 2016. A publicação “Violações de Direitos na Cidade Olímpica” tem o objetivo de ser uma ferramenta para jornalistas conhecerem o outro lado deste megaevento, que implicou no aprofundamento dos processos de segregação na cidade, de controle e privatização do espaço público e de extermínio da população negra e pobre.
O guia traz informações sobre 25 temas, que vão dos equipamentos esportivos, como o Maracanã, à letalidade da polícia, passando pelo processo de remoções de comunidades e a legislação de exceção criada para os Jogos, como a Lei Antiterrorismo. Ao final de cada texto, o jornalista encontra links para obter mais informações, assim como os contatos diretos das fontes que tratam de cada um dos temas, facilitando sua busca por discursos em contraponto aos oficiais do Estado, do COI e do COB.
Dividido em oito eixos, o guia aborda o conjunto de violações de direitos que compõem a face menos evidente dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Estas violações afetam o meio ambiente e os modos de vida tradicionais, como ocorre nas Baías da Guanabara e de Sepetiba, ou na construção do campo de golfe olímpico, em que milhares de quilômetros quadrados de mata nativa foram destruídos.
A publicação também relata as violações ligadas ao direito à moradia, ressaltando o impacto caudado pela maior política de remoções forçadas da história da cidade, com mais de 77 mil pessoas removidas. Aborda a reatualização de políticas segregatórias e racistas de controle urbano, com a repressão e expulsão de camelôs, o recolhimento compulsório de pessoas em situação de rua, o encarceramento em massa e o uso de efetivos das forças armadas em favelas e periferias.
No conjunto de violações perpetradas, nem mesmo os atletas, amantes e praticantes dos esportes foram poupados: complexos de treinamento, como o Parque Aquático Julio Dellamare, o Estádio de Atletismo Célio de Barros, ou o Estádio de Remo da Lagoa foram destruídos ou desativados.
Ao elencar algumas das principais arbitrariedades promovidas para a realização dos Jogos Olímpicos, o Guia “Violações de Direitos na Cidade Olímpica” busca ajudar na percepção de que, como toda história, a Olimpíada tem um outro lado.
“Comunicadores e jornalistas vindos de fora vão encontrar uma ampla estrutura de acesso às informações oficiais das Olimpíadas. Porém, para saber mais sobre as violações ligadas a esse megaevento, há pouca informação organizada e facilmente acessível. O Guia tenta ajudar a preencher parte dessa lacuna”, explica Mario Campagnani, jornalista da Justiça Global.
OLIMPÍADAS DA EXCLUSÃO
O lançamento do Guia “Violações de Direitos na Cidade Olímpica” aconteceu na Casa Pública, em Botafogo, com a presença de Altair Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo; Maria dos Camelôs, do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro e do Muca (Movimento Unido dos Camelôs); Gizele Martins, comunicadora comunitária e moradora do Conjunto de Favelas da Maré – que será invadida pelo Exército durante os Jogos; e Lena Azevedo, pesquisadora da Justiça Global e autora do livro “SHM 2016, Remoções no Rio de Janeiro Olímpico”.
Segundo Gizele Martins, comunicadora comunitária, a história na realização dos megaeventos esportivos no Rio é de exclusão e violência com as classes populares. Moradora da Maré, ela conta que em 2013 ocorreu a Chacina da Maré em uma ação do BOPE que resultou na morte de 13 pessoas. Já em 2014, durante a realização da Copa do Mundo FIFA, a Maré foi ocupada pelo exército. “Naquele momento os moradores ficaram sitiados, havia um soldado para cada 55 moradores. Esse é o tipo de política que o poder público leva para as comunidades em momentos de eventos. Por que não temos o direito de ter um médico para 55 moradores, me pergunto? Por que continuam nos oferecendo violência ao invés de direitos sociais, por exemplo”, afirma e completa:
Ato na Maré em Junho de 2013 (Crédito: Redes da Maré)
“Existe um batalhão na Maré e eu escuto os policiais treinando da minha casa. Escuto os tiros. Eles estão treinando para nos matar. A política do Estado continua matando e silenciando as classes populares, e os megaeventos esportivos serve como justificativa para matar!”.
O “Guia para jornalistas e comunicadores – Violações de direitos na Cidade Olímpica” está disponível em três línguas (português, inglês e espanhol), guia é uma ferramenta de acesso ao lado menos evidente dos Jogos Rio 2016.
Acesse o Guia nas versões:
Violações de direitos na Cidade Olímpica (versão português)
“Rights Violations in the Olympic City”
Mais informações no site da Justiça Global.
Publicado em Notícias | Última modificação em 28-07-2016 13:43:10