Uma polarização social, silenciosa e subterrânea, se ratifica com o resultado que sai das urnas na última eleição presidencial. Os professores Luiz Cesar Ribeiro e Nelson Rojas discutem a geografia social da distribuição dos votos pelas zonas eleitorais das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e apresentam o movimento de eleitores observado no conjunto do País: polarização que se traduz na distribuição das preferências hierarquicamente dispostas ao longo da estrutura social e pelo espaço.
Geografia das Eleições: polarizações inquietantes.
Nelson Rojas
Professor-Adjunto UFRRJ
Pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles – CNPQ/FAPERJ.
Nelson Rojas
Professor-Adjunto UFRRJ
Pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles – CNPQ/FAPERJ.
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Professor Titular do IPPUR/UFRJ
INCT Observatório das Metrópoles – CNPQ/FAPERJ
Professor Titular do IPPUR/UFRJ
INCT Observatório das Metrópoles – CNPQ/FAPERJ
Divulgado amplamente nos meios impressos, os mapas da distribuição de votos pelas zonas eleitorais das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo ( http://www.estadao.com.br/especiais/) traz duas novidade que, de uma forma ou de outra, sintetizam o movimento de eleitores observado no conjunto do País: por um lado, os mapas de votos de 2010 repetem sem grandes variações o mapa eleitoral de 2006 – no confronto final entre PSDB e PT. Por outro, enquanto nos dois pleitos os tucanos foram majoritários nas áreas abastadas das duas cidades, as candidaturas petistas – Lula e Dilma – se saíram vencedoras nas periferias.
Uma polarização social, silenciosa e subterrânea, se ratifica com o resultado que sai das urnas em duas eleições presidências subseqüentes – 2006 e 2010. Polarização que se traduz na distribuição das preferências hierarquicamente dispostas ao longo da estrutura social e pelo espaço. Ora, na última pesquisa Datafolha, enquanto entre os eleitores que declaravam renda familiar abaixo de dois salários mínimos, Dilma e Serra, apareciam respectivamente com 56% e 35% das intenções de voto, esses percentuais se invertiam quase de forma espelhar entre os eleitores situados na última faixa de renda – nesse caso, Serra despontava com 59% de intenções de voto, contra 29% aciganados à candidatura Dilma Roussef. Nas eleições, nos bairros mais elitizados cariocas, como Leblon/Gávea, Serra obteve 70% dos votos válidos, situação invertida a favor de Dilma (68%) em Santa Cruz. Em São Paulo a polarização eleitoral foi ainda mais espetacular: nos Jardim Paulista Serra concentrou 82% dos votos válidos, enquanto que em Parelheiros Dilma obteve a marca de 75% dos votos.
Os interessados em melhor compreender a geografia social da distribuição dos votos nas duas cidades e perceber a polarização da estrutura social no espaço, poderiam consultar os mapas dos votos de 2010 disponibilizados no site mencionado utilizando a representação da divisão social representada nos dois mapas mostrados a seguir.
A análise dos mapas evidencia com clareza a correspondência entre a geografia social dos votos válidos e o que os institutos de opinião antecipavam sobre a forte correlação entre a dualidade da estrutura social e a polarização eleitoral.
Será que a geografia social da votação expressa no plano eleitoral o histórico conflito distributivo da sociedade brasileira?
Em imagem sugestiva, em mesa de debate sobre a conjuntura nas antevésperas do pleito, André Singer assim chamou a atenção para a nova polarização: “hoje em qualquer restaurante, os que comem votam em Serra, os que servem votam em Dilma”. Fato incômodo para a oposição, já que os que servem, representam na amostra do Datafolha, 48% dos eleitores do País, que aderem à candidatura do PT por fatores conjugados: aumento do salário mínimo, diminuição do custo da cesta básica e políticas de transferência direta de renda.
Se a clivagem entre pobres e ricos até o momento não se viu politizada no plano do discurso como expressão do conflito distributivo brasileiro, das eleições de 2006 e de 2010 emergem sementes inquietantes, passíveis de se verem empresariadas em pleitos subseqüentes, explicitando a polarização que escamoteiam este conflito: a mobilização oportunista de atores religiosos e de valores conservadores, o retrocesso em nosso estado laico, o arbitramento de macro-temas do país a partir do embate de seitas. Ora, a polarização, expressa nos mapas das duas maiores cidades e do país, sugerem à oposição e ao governo uma dupla sinalização para bases sociais que um dia detiveram: no primeiro caso, a sinalização de compromisso inquestionável com a democracia social, no segundo caso, a adesão incondicional aos valores republicanos.
Última atualização em Qui, 04 de Novembro de 2010 13:42