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Neste artigo da Revista Cadernos Metrópole nº 30, Luís Carvalho e Jorge Gonçalves colocam em xeque a capacidade dos planos urbanos em enfrentar as mudanças civilizacionais da contemporaneidade. Para verificar essa (in)capacidade procedeu-se à confrontação entre um conjunto de planos para Lisboa e várias histórias de futuro construídas para essa cidade depois da transição. O que se vê é que os planos dificilmente contemplam cenários mais alargados e especulativos tornando-se desadequado e estruturalmente incapaz para pensar o futuro.

O artigo “Tensões e contradições na construção de futuros urbanos sustentáveis: o caso de Lisboa“, de Luís Carvalho e Jorge Gonçalves, é um dos destaques do Dossiê: “Mobilidade urbana nas metrópoles brasileiras”, da Revista Cadernos Metrópole nº 30.

Abstract

This article deals with the (in) ability of the plan to face the changes of a western civilization wrapped in a transition in which an urban revolution emerges. To verify this (in) ability, a set of plans for Lisbon was compared to several future stories built to that city after the transition, in 2030. It was found that, concerning a city of Lisbon after the urban revolution, the positivistic plan – incorporating neither uncertainty nor risk – hardly encompasses broader and speculative scenarios, becoming inadequate and structurally unable to think about the future. The proximity and convergence between future studies and urban studies emerge as a central priority for the city.

Introdução

Antecipar o futuro, nomeadamente o futuro da cidade, tem sido um propósito persistente desde os primórdios da civilização urbana do Ocidente, que recua às sociedades do médio Oriente, as denominadas civilizações hidráulicas (Soja, 2000), que se constituíram em torno dos rios Tigre e Eufrates, há mais de 5.000 anos (Childe, 1930). Desde a segunda metade do século XIX, quando o urbanismo se constituiu corpo disciplinar e científico autônomo (Choay, 2000), o plano assume-se como o meio preferencial para conjugar a visão, a vontade e a previsão e que, enquanto instrumento de representação e manipulação do futuro (Hopkins e Zapata, 2007) converte em expressão territorial a norma e/ou a vontade.

Todavia, suscita-se a dúvida sobre a capacidade do plano em encarar as profundas mudanças civilizacionais da contemporaneidade. Procura-se, recorrendo ao caso da cidade de Lisboa, contribuir para a resolução de uma latente inquietação sobre a (in)capacidade do plano enquanto instrumento de reconhecimento do futuro e em vislumbrar o caráter da cidade desse futuro.

As histórias de futuro: o contexto e o processo

O contexto, a transição civilizacional e a revolução urbana. No Ocidente, no ocidente europeu, assiste-se a uma profunda mudança civilizacional, marcada pelo fim de uma era de quinhentos anos de mundialização desse Ocidente.1 A essa mudança se propõe o termo de transição civilizacional, considerando-se que o fim da era do Ocidente não determina o fim da sua civilização, mas sim a emergência de uma outra civilização. O início do século XXI, veio assim a comprovar o que Spengler (1923), entre outros, já tinham insinuado, no início do século XX, acerca do declínio do Ocidente. Insinuação confirmada pelos anúncios da “decadência da vida cultural no ocidente” de Barzun (2003), do “colapso do ocidente” de Diamond (2005) ou a referência sobre a “era do desmoronamento final” de Hobsbawm(1995). É, contudo, impossível avançar com um termo que identifique essa outra civilização uma vez que a transição é caracterizada pela incerteza e volatilidade, toldando o discernimento sobre o que aí vem.

Em termos urbanísticos, essa transição se revela na emergência de uma revolução urbana na cidade euro-ocidental. Ascher (1995) identifica essa revolução com a Cidade Reflexiva, que configura um novo urbanismo da terceira modernidade, e que consubstancia a 3ª Revolução Urbana (a primeira desde a Revolução Industrial). Por seu lado, Mongin (1995) identifica o tempo da transição como o momento do Triunfo Urbano, marcada pelo advento da cidade da 3ª era, a cidade da incerteza. Já Soja (2000) considera que esse tempo da transição é marcado pela 4ª Revolução Urbana, e pelo advento da post-metrópolis: a maior alteração no caráter das cidades dos últimos 3.000 anos, desde a consolidação das cidades das civilizações hidráulicas do crescente fértil.

Para ler o artigo completo “Tensões e contradições na construção de futuros urbanos sustentáveis: o caso de Lisboa”, acesse a edição nº 30 da Revista Cadernos Metrópole.