Um conjunto de dezenas de organizações aprovou, no dia 23 de janeiro de 2016, uma carta de compromissos dos movimentos sociais, no encerramento do Fórum Social Temático Porto Alegre. A Carta do Fórum Social Temático 2016 aponta que o atual momento político e econômico no mundo exige unidade e disposição de luta para evitar retrocessos civilizatórios. Para os movimentos signatários da carta, o capitalismo encontra-se em uma de suas piores crises e as medidas que vêm patrocinando para superar o cenário pode agravar ainda mais o quadro de desigualdade no mundo, ampliando também a supressão de direitos. Segundo estimativa da Oxfam, no ritmo atual, o 1% mais rico do mundo possuírá, até o final de 2016, mais capital que 99% da população do planeta.
A quarta revolução industrial
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, de Davos, segundo a qual a quarta revolução industrial, baseada na evolução tecnológica da internet, eliminará cerca de 5 milhões de empregos no mundo.
Essa “quarta revolução industrial” foi o tema central da edição deste ano do Fórum de Davos. Além da perda de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos em todo o mundo, essa nova revolução industrial deverá provocar “grandes perturbações não só no modelo dos negócios, mas também no mercado de trabalho nos próximos cinco anos”, indica um estudo do Fórum Econômico Mundial.
Ainda segundo esse estudo, depois da primeira revolução (com o aparecimento da máquina a vapor), da segunda (eletricidade, cadeia de montagem) e da terceira (eletrônica e robótica), teremos agora a quarta revolução industrial que combinará numerosos fatores como a internet dos objetos ou a “big data” para transformar a economia.
Citando o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, Guiomar Vidor concordou que, no plano nacional, a presidenta Dilma Rousseff precisa ajudar sindicatos e movimentos sociais a defender o governo das tentativas de golpe. Por outro lado, advertiu que as organizações populares não podem vacilar na luta contra o golpe e em defesa da democracia. O dirigente da CTB defendeu a realização de uma jornada continental, em Uruguaiana, no final de maio, em defesa da democracia, da paz e da integração latino-americana.
Desmilitarização das PMs
Camila Lemos, da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), defendeu uma maior articulação em nível latino-americano da luta contra a mercantilização do ensino. Além disso, destacou a importância da luta pela desmilitarização das polícias militares no Brasil. “Historicamente, a juventude brasileira vem sendo agredida e morta pela PM”, disse Camila, lembrando que isso segue acontecendo no cotidiano do país, sem que os policiais envolvidos nos casos de agressão e morte sejam punidos. A dirigente da UBES também incluiu a defesa do mandato da presidenta Dilma entre as prioridades para 2016. “Defender isso não significa defender o PT, mas sim a democracia brasileira”, sustentou.
Boaventura de Sousa Santos também elogiou o saldo final do Fórum em Porto Alegre. Para ele, os participantes do encontro saem de Porto Alegre com mais força e mais conscientes dos perigos e das dificuldades, dos obstáculos e dos inimigos contra os quais é preciso lutar. O sociólogo português chamou a atenção para o fato de que, em 2001, o Fórum Social Mundial promoveu lutas ofensivas como um contraponto ao Fórum de Davos. Agora, em 2016, defendeu, essas lutas têm um caráter defensivo. Os movimentos populares chegaram ao poder, assinalou, e concluíram que “tinham um amigo no governo e descansaram”. “É preciso defender, mas a melhor maneira de defender é atacar”, afirmou, defendendo a retomada das mobilizações e das articulações sociais para enfrentar a ofensiva conservadora em curso em várias regiões do mundo.
A volta do espírito de Porto Alegre
Mauri Cruz, da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong) e integrante do Comitê de Apoio Local do Fórum Social Temático Porto Alegre, considerou o encontro um sucesso. “Ouvimos várias pessoas falar que o espírito de Porto Alegre voltou, ou seja, a ideia de um fórum militante com posição política sobre os temas e claramente anti-capitalista, e não aquele fórum mais com uma cara de evento”. Para ele, esse sucesso é resultado de uma metodologia que começou a ser construída em 2010, com os fóruns temáticos, não entrando em conflito com o Fórum Social Mundial, mas procurando mostrar que era preciso retomar a metodologia e o espírito de Porto Alegre, com a participação horizontal da sociedade e dos novos atores, como a juventude negra, as mulheres e os indígenas, juntamente com os movimentos sociais mais tradicionais.
“Tivemos mais de 5.100 inscritos que pagaram para participar do encontro. A nossa avaliação é que mais de 10 mil pessoas participaram das atividades do Fórum ao longo desta semana. Nos dias 21 e 22, os dois mais quentes da programação, tivemos todos os espaços lotados. Além disso, pela primeira vez, em quinze anos do Fórum Social Mundial, conseguimos realizar uma mesa com todos os movimentos de mulheres discutindo juntos. Pela primeira vez também, temos uma reunião dos membros históricos do Conselho Internacional do Fórum com os novos atores deste conselho para discutir o processo do FSM. Nós recuperamos o espírito de Porto Alegre e também recuperamos a esperança de consolidar o Fórum como um contraponto ao sistema neoliberal que está aí”, concluiu Mauri Cruz.
***Com informações do site Sul21
Última modificação em 27-01-2016 19:46:52