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O Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) publicou em seu site (http://reforma-urbana.tumblr.com/) entrevista com Beto Aguiar, da coordenação do Movimento Nacional de Luta Pela Moradia (MNLM), sobre os desafios que o movimento da reforma urbana vai enfrentar em 2015 com a nomeação de Gilberto Kassab para o Ministério das Cidades.

O INCT Observatório das Metrópoles divulga a entrevista com o propósito de apoiar o FNRU em defesa de um projeto de cidade mais democrática e pela Reforma Urbana. E acredita que a nomeação de Kassab favorece muito mais os setores conservadores do mercado, interessados no processo de mercantilização das cidades.

 

ENTREVISTA Beto Aguiar | Fórum Nacional de Reforma Urbana

FNRU: Durante o ano passado os movimentos sociais lutaram muito para apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, mas desde então, ela escolheu vários ministros da direita para cargos importantes, incluindo Gilberto Kassab, o novo Ministro das Cidades, escolha esta que fora feita ignorando completamente as indicações do FNRU. Qual é a opinião do Movimento Nacional de Luta para Moradia sobre este conjuntura?

Beto Aguiar: Quero enfatizar que nós, do movimento, ainda estamos em processo de formação de uma opinião coletiva. Por enquanto, emitirei apenas a minha opinião.

As mazelas que Dilma herdou dela mesma, tendo como resposta o aprofundamento da velha lógica de ter maioria no Congresso Nacional a qualquer custo, com um agravante amplia sua base de sustentação mais à direita, de forma pactuada com alianças para ter governabilidade. Já vimos este filme.

Esta política tem expressão em apresentar como ministro da economia Joaquim Levy. Eu tenho brincado que este Levy, que não é Fidelis, representa o sistema Bancário/Financeiro. O Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Nelson Barbosa, afirma a todos os ventos, querer mais mercado no financiamento em longo prazo e menos recursos públicos. Diz com todas as letras, que haverá sim, limites para o crescimento. Por último, para fechar o pacote da estrutura econômica, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central do Brasil, que tem em seu currículo histórico o alto posto de um dos dirigentes do FMI. Ou seja, estamos à mercê do mercado para definir o quanto, com quem e sob qual política cresceremos. Eu não vejo como sinalizadora o lado dos trabalhadores e trabalhadoras.

Na expressão da luta pela reforma agrária, de aprofundamento de políticas para agricultura, apresenta-se como Ministra da pasta da Agricultura a dirigente máxima da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil. A posse foi recheada de vaias, expressões de conflitos, inclusive já sendo apresentada a primeira contradição do governo, existe latifúndio? Patrus Ananias x Kátia Abreu.

Este jogo de xadrez burro, de escolhas erradas, montado para defender um projeto vencedor nas ruas e nas urnas sem o consentimento e o diálogo com os atores estratégicos deste programa vencedor. Inclusive nos traindo, posto que a indicação de Kassab para o Ministério das Cidades foi traição ao nosso projeto de cidade. Não vejo argumento consistente para tal indicação, aí ficamos com a opinião de que este governo tem medo da oposição? Que ilusão achar que a Direita não agiu, não age e não continuará agindo nos porões para derrubar avanços sociais, políticos?

Agora, meu maior incômodo, foi a presença do Movimento Popular Urbano na posse de Kassab. Companheiros, camaradas, sem uma vaia, nem um ato de repúdio e nenhum gesto demonstrando desconforto, um grito, uma palavra de ordem, nada, isto para mim foi o mais triste. Refletimos novamente para a sociedade, que somos amigos do governo, inclusive com Kassab. Devemos romper esta linha chapa branca, inclusive para disputar um projeto de cidade.  Posse de ministro como esta é momento de felicitações de início de trabalho? Ele vai trabalhar contra a gente ou não vai? Claro que vamos enfrentá-lo juntamente com a sua turma no debate e nos espaços que construímos legitimamente. Agora, que felicitações o MNLM pode dar a Kassab? Que cordialidade de fotos sendo espraiadas como positivo. Faz-me lembrar da foto tirada na Conferência das Cidades por alguns de nós com Gilberto Carvalho, após ter apanhado em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo.

Este é o momento de reafirmar nossa indignação com um longo período de desrespeito à nossa pauta mais estratégica e afirmar que exigimos outro tratamento e não de aperto de mão e congratulações. Fiquei imaginando se Aécio Neves tivesse sido eleito Presidente da República e Kassab fosse convidado para ser Ministro das Cidades, qual seria nosso comportamento.

FNRU: Nesta atual conjuntura, qual será a estratégia de ação traçada pelo MNLM, para o ano de 2015?

Beto Aguiar:Temos priorizado a partir de 1988, com a Constituição Brasileira, a disputa da participação popular na construção das políticas públicas e sociais. A conjuntura atual nos coloca a disputar o projeto maior, que é a Reforma Urbana. Ela somente avançará com muita  mobilização de massa.

 

Acesse a página do Fórum Nacional de Reforma Urbana e a página no Facebook Direito à Cidade.

 

Última modificação em 26-01-2015