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No dia 18 de maio de 2022 (quarta-feira), às 16h, a Urban Studies Foundation (USF) promove o workshop internacional “Espaço urbano, formas cotidianas de cidadania, subjetividades. Histórias do Sul Global” (Urban Space, Everyday forms of citizenship, subjectivities. Stories from the Global South).

Com tradução simultânea (inglês-português), o evento abordará o papel das políticas urbanas e do Estado no direito à cidade, na produção do espaço urbano formal e informal, legal e ilegal. Luciana Andrade (PUC Minas), pesquisadora do Núcleo Belo Horizonte, é umas das convidadas do workshop, que terá também a participação de Tunde Decker (Osun State University), Rachel Almeida (PUC Minas) e Yadav Smita (Center for Policy Research).

Vamos passear por Belo Horizonte, no Brasil, por Delhi e Mumbai, na Índia, por Lagos na Nigéria? Vamos voltar aos anos 1930 e imaginar 2030? Vamos descolonizar nossa produção científica? Este é um convite para conhecermos a história de vida de Adunni, uma jovem mulher que viveu em Lagos entre as décadas de 1930 e 1960 e, ao mesmo tempo, as poesias de jovens mulheres brasileiras contemporâneas. Nesse entrecruzar de tempos e espaços, refletirmos sobre os processos transição para a vida adulta, considerando as condições estruturais como o papel do Estado, desigualdade de gênero e elitismo. Os conteúdos dessas poesias produzidas por jovens que moram nas periferias urbanas da região metropolitana de Belo Horizonte se interligam às experiências de cidadania limitada, à voz política restrita e às condições de vida inaceitáveis vivenciadas por famílias de baixa renda em Delhi e Mumbai. Os processos de gentrificação e as dificuldade imposta a uma maioria para o acesso à habitação no sul global atingem tanto essas famílias de baixa renda na Índia, quanto as de classe média em Belo Horizonte. E assim vamos juntos pensar no papel das políticas urbanas e do Estado no direito à cidade, na produção do espaço urbano formal e informal, legal e ilegal.

Inscreva-se em: https://forms.office.com/r/XnqEAVmgam

Apresentação 1 | Garota à margem: um relato fenomenológico da adolescência e início da vida adulta de Adunni em Lagos: 1930-1960 (Tunde Decker)

Este artigo conta uma das muitas histórias que permanecem em grande parte ignoradas, apesar da vasta literatura sobre a história colonial de Lagos. Embora a história social de Lagos tenha testemunhado um interesse crescente de historiadores e acadêmicos de outras disciplinas e tenha sido contada em relação a sexo, infância, bem-estar social, estado, gênero e elitismo, muitas das interpretações pessoais saudáveis da história da cidade estão escondidas nas narrativas convencionais. Este artigo dá conta de uma dessas histórias pessoais, usando a fenomenologia como método para contar a história de Adunni, uma menina cuja adolescência foi vivida em grande parte no final do período colonial e cujas experiências pessoais falam com as experiências de outras pessoas (embora poucas ainda estejam vivas); indivíduos cuja situação de arquivos vivos muitas vezes enriquecem as interrogações acadêmicas, mas são considerados como fontes da história e não como a própria história. Este artigo apresenta Adunni como um exemplo dessa história.

Apresentação 2 | Entre alienação e revolução: incursões em coletivos de saraus em espaços públicos metropolitanos (Rachel Almeida)

Seguindo os rastros dos saraus coletivos da região metropolitana de Belo Horizonte, este artigo tem como objetivo analisar o papel da dimensão da vida cotidiana, que segundo Lefebvre significa o movimento constante entre a tendência à repetição e a capacidade de transformação social, entre rotina e invenção. Esses coletivos são formados por jovens, em sua maioria moradores de áreas periféricas que se revelaram detentores de uma nova subjetividade capaz de explicar seu lugar no mundo e justificar sua existência a partir do orgulho de ser periférico, o que resulta em uma nova forma de ação política. O cotidiano vivido, percebido e concebido no contexto do lugar social e simbólico ocupado pelas periferias e seus atores sociais, tomados individual e coletivamente, vem sendo ressignificado diante de um conjunto de transformações sociais e, consequentemente, produz novas esferas públicas e novas formas de expressão das lutas emancipatórias. A etnografia realizada busca apreender o entrelaçamento entre poesia, performance e ocupação do espaço público. A crítica da vida cotidiana revela padrões de comportamento, estratégias de organização de grupos e subgrupos, redes de relacionamentos e redes de significados, bem como sistemas de trocas materiais e simbólicas. De fato, tais coletivos são expressões da resistência cotidiana, manifestada na poesia, nas expressões corporais, na forma como as atividades são organizadas e comunicadas. Ao mesmo tempo, nesses saraus, reflexões críticas e políticas são criadas coletivamente, fazendo emergir a capacidade criativa e libertadora.

Apresentação 3 | Gentrificação e cidadania na Índia (Yadav Smita)

O artigo proposto trata das formas cotidianas de cidadania vivenciadas por famílias de baixa renda em cidades do sul global da Índia. Aborda os diferentes tipos de documentação que os pobres urbanos precisam fornecer para mostrar sua relação com a cidade. Proponho focar em duas cidades indianas, a saber, Mumbai e Delhi, durante um período de dois anos (2017-2019). Essas cidades são identificadas pelo governo indiano como um mercado imobiliário altamente volátil, com fenômenos crescentes de gentrificação de favelas, desenvolvimento desigual em espaços urbanos, bem como um sistema de posse de terra e habitação mais complexo (Lees., et 2015; 2016). Estas são cidades demograficamente diferentes, cada uma apresentando seus próprios desafios únicos para a habitação inclusiva. A maioria dos pobres urbanos que migram para essas cidades continua mantendo vínculos com suas aldeias, onde já possuem documentos como título de eleitor, cartão de assistência social, cartão de emprego, certidões de nascimento, etc. Portanto, sem abrir mão de suas relações com sua aldeia, os migrantes que são os novos pobres urbanos não podem adquirir a experiência de cidadania plena, o que significa que eles têm uma experiência de cidadania limitada, uma voz política restrita para influenciar mudanças em um nível político e continuam a viver em condições inaceitáveis. O artigo afirma que muito pouco trabalho teórico foi feito sobre as noções de direito e acesso à cidade (Parnell 2012), bem como formas híbridas, móveis e pluralistas de cidadania.

Apresentação 4 | Políticas urbanas, mobilidade e gentrificação em dois bairros de Belo Horizonte (Luciana Andrade)

O artigo investiga as relações entre as políticas urbanas e a mobilidade residencial com os processos gentrificadores do espaço a partir do estudo de dois bairros de Belo Horizonte, Santa Tereza e Anchieta. Para tanto, utilizamos vários tipos de dados, tais como os da Pesquisa de Origem e Destino, que identificam a mobilidade residencial; os do Censo Demográfico sobre domicílios e moradores; os da Prefeitura sobre a produção imobiliária e as políticas públicas urbanas vigentes, bem como dados qualitativos, oriundos de entrevistas e observação nos bairros. Os resultados mostram como os processos são distintos: em Santa Tereza, as políticas urbanas implementadas como resposta à mobilização dos moradores têm conseguido barrar a gentrificação; no Anchieta, a maior liberalidade das políticas urbanas, que não suscitou nos moradores reações organizadas, tem permitido uma renovação em algumas partes do bairro, que identificamos como gentrificação por nova construção.