Entre a Metrópole e a Metropolis
Do mesmo modo que Erik Swyngedouw reflete sobre as relações entre o território urbano e o espaço da política (polis), o Observatório também vem realizando várias pesquisas relacionadas ao tema, especialmente os obstáculos que bloqueiam a constituição das metrópoles em escala gerada de política, base para a construção da governabilidade necessária ao enfretamento dos desafios societários concentrados nesses territórios. Sem esta política as metrópoles permanecerão apenas como arranjos funcionais às lógicas privatistas e fragmentadas dos vários mercados econômicos e políticos que se apropriam deste território como objeto de lucro e poder de dominação.
Em “A Cidade Pós-Política”, o professor da Universidade de Manchester, Erik Swyngedouw, questiona a atitude ‘radicalista cínica’ de decretar a morte da política e, consequentemente, da polis para dar lugar a uma governamentabilidade neoliberal que substitui o debate, o desacordo e o dissenso por uma série de tecnologias em uma gestão tecnocrática. O autor discute a condição despolitizada da cidade do capitalismo tardio, argumentando que a estrutura urbana tem sido profundamente e, talvez, fatalmente infestada por uma ordem que é completamente pós-política e pós-democrática.
O trabalho do professor Erik Swyngedouw é um dos destaques da oitava edição da revista eletrônica e-metropolis, publicação trimestral editada por alunos de pós-graduação de programas vinculadas ao INCT Observatório das Metrópoles. A revista e-metropolis tem como objetivo suscitar o debate e incentivar a divulgação de trabalhos, ensaios, resenhas, resultados parciais de pesquisas e propostas teórico-metodológicas relacionados à dinâmica da vida urbana contemporânea e áreas afins.
Na abertura do artigo “A Cidade Pós-Política”, Swyngedouw afirma: “A polis está morta”. Para o autor, enquanto a cidade está viva e próspera (pelo menos em alguns de seus espaços), a polis, entendida aqui no sentido grego idealizado como local para encontro político público e negociação democrática, espaço da (muitas vezes radical) dissidência e do desacordo, e lugar onde a subjetivação política se dá literalmente, parece moribunda.
Esta figura de uma cidade despolitizada (ou Pós-Política e Pós-Democrática) na ordem do capitalismo tardio será o leitmotiv do trabalho. A partir das discussões de Jacques Rancière, Slavoj Zizek, Chantal Mouffe, Mustafa Dikec, Alain Badiou e vários outros críticos do radicalismo cínico, radicalismo esse que tornou a teoria crítica e a prática política impotentes e inférteis em face dos gestos despolitizantes que se passam pela política urbana e pela política na ordem policial contemporânea neo-liberalizante do capitalismo tardio, Swyngedouw busca recentralizar a política nos debates contemporâneos do urbano.
O artigo é composto de quatro etapas. Na primeira parte, o autor trata da retirada da política do plano de imanência que define a própria possibilidade da polis e a concomitante
consolidação de uma configuração urbana pós-política, caracterizada pelo surgimento de uma governamentalidade neoliberal que substituiu o debate, desacordo e dissenso por uma série de tecnologias de governar que se fundem em torno de consenso, acordo e gestão tecnocrática.
A segunda parte disseca a condição despolitizada da cidade do capitalismo tardio, argumentando que a estrutura urbana tem sido profundamente e, talvez, fatalmente infestada por uma ordem que é completamente pós-política e pós-democrática. Na terceira parte, defende que a ordem da polícia urbana consensual pós-política gira decididamente em torno de abraçar um atitude populista, que anula a democracia e deve, necessariamente, conduzir a uma ultra política de repúdio violento e, finalmente, para o encerramento de todos os espaços reais de participação.
A última parte tenta resgatar a noção de política e da polis política dos escombros das obsessões contemporâneas por um governo consensual (participativo), pela gestão tecnocrática e política/policia urbana neo-liberal. Swyngedouw afirma que as incoerências do ordenamento urbano contemporâneo, o excesso e as lacunas que são deixados nos interstícios da ordem urbana pós-política permitem pensar, senão na ocupação e alargamento material, em espaços urbanos, genuinamente, políticos.
Acesse a edição nº 08 da revista e-metropolis aqui.