Como pensar, a partir da obra do Georg Simmel, as novas formas de subjetivação na cidade contemporânea, ou seja, refletir sobre o indivíduo e sua individualidade numa urbe cada vez mais esvaziada de sua dimensão pública? Esse é o objetivo do e-book “A pretexto de Simmel: cultura e subjetividade na metrópole contemporânea“, novo lançamento do Observatório das Metrópoles.
O e-book, organizado pelo professor Robert Moses Pechman, é resultado do Seminário Internacional “Simmel e a vida mental nas metrópoles contemporâneas”, realizado pelo INCT Observatório das Metrópoles.
Segundo Pechman, a partir do evento ficou patente para seus organizadores a importância de atualizar não só as reflexões de Georg Simmel que tanto se debruçou sobre a vida subjetiva nas metrópoles que se urbanizavam em inícios do século XX, quanto o desafio de pensar, a partir dele, as novas formas de subjetivação na cidade contemporânea. “À luz das reflexões simmelianas sobre o indíviduo e sua individualidade frente ao ‘chamado da cidade’, numa urbe cada vez mais esvaziada de sua dimensão pública, pareceu-nos fundamental revisitar esse autor, que tanto sinalizou para a importância do Ser e de ser na cidade”, explica o organizador.
A seguir trecho da apresentação do e-book escrita por Robert M. Pechman.
Por que Simmel?
Georg Simmel está entre os primeiros sociólogos que refletiram sobre os efeitos da vida metropolitana nas formas de subjetividade, onde se destaca quase que solitariamente. Prova disso é a importância que sua obra adquiriu junto àqueles que procuraram compreender as interações que tinham como palco as metrópoles. Entre estes estavam os primeiros estudiosos da vida urbana, como os pesquisadores da Escola de Chicago. Mesmo atualmente sua obra é conhecida e estudada em vários países, dentro e fora das universidades.
Apesar da atualidade de muitas de suas questões, não se pode desconsiderar o século que separa, por exemplo, a publicação de “A metrópole e a vida mental”, e a realidade das metrópoles contemporâneas. Afinal existem hoje no mundo muito mais metrópoles do que quando Simmel escreveu a sua obra. A Berlim do século XIX e início do Século XX era uma grande cidade, com uma vida social e cultural intensas, mas muito diferente das metrópoles atuais.
Não se pode desconsiderar a multiplicação das metrópoles; seus processos de concentração e, mais recentemente, de dispersão; a presença massiva das tecnologias mediando as interações, tornando ainda mais próximos os distantes; as mudanças nos espaços públicos, a substituição das ruas pelas galerias e depois pelos shopping centers, mas ao mesmo tempo a permanência, ainda que muito transformada, de uma vida pública nas áreas centrais; e, ainda, a própria vida metropolitana nas periferias distantes ou nas favelas centrais. Enfim, processos múltiplos de sociabilidades no interior de uma mesma metrópole.
Refletir sobre os significados desses processos na vida do homem urbano contemporâneo, por vias que captem suas diversas manifestações, foi o objetivo central do seminário “Simmel e a vida mental nas metrópoles contemporâneas”.
Uma vez que a metrópole na sua complexidade cultural, social e política demanda diferentes abordagens, vindas de distintos campos do conhecimento, o seminário, centrado na dimensão metropolitana da vida contemporânea, contou com pesquisadores de diferentes campos do conhecimento que tiveram como desafio pensar as metrópoles contemporâneas em diálogo com a obra de Simmel.
Importa aqui, então, compreender no mundo contemporâneo, como a sociedade é possível e como as pessoas se suportam na cidade, segundo já se perguntava Simmel na virada do século XIX para o século XX.
Não se trata, portando, nessa obra, de ressuscitar nem de tirar o filósofo/sociólogo de seu mundo histórico e de sua querida Berlim. Muito menos, porém, se trata de uma simples reverência à Simmel. Essa obra é bem mais uma provocação a partir de Simmel.
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