Quais mudanças ocorreram no corpo das metrópoles brasileiras na primeira década do século XXI? O INCT Observatório das Metrópoles lança mais um livro a fim de contribuir com a interpretação sobre o momento histórico que passa o Brasil. O e-book “Estrutura social das metrópoles brasileiras: análise da 1ª década do século XXI” é uma coletânea que busca compreender os impactos dos processos econômicos e sociais nos grandes centros urbanos do nosso país a partir da investigação sobre a estrutura social e sua relação com desemprego, desigualdades de renda, dinâmica populacional e migrações, entre outros fatores.
Organizado por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, Marcelo Gomes Ribeiro e Lygia Gonçalves Costa, o e-book “Estrutura social das metrópoles brasileiras: análise da 1ª década do século XXI” (Editora Letra Capital) procura refletir sobre as mudanças na estrutura social dos grandes centros urbanos brasileiros e sua relação com outras dimensões sócio-demográficas. Para tanto parte-se de uma compreensão comum de estrutura social, utilizada por todos os autores deste livro, que possibilita, além de unidade analítica, realizar análises comparativas entre diferentes regiões metropolitanas do país. Segundo Marcelo Gomes Ribeiro, essa compreensão comum de estrutura social permite compreender os impactos dos processos econômicos e sociais nas diversas regiões metropolitanas brasileiras e, ao mesmo tempo, captar as especificidades de cada uma delas, na medida em que são mais visíveis algumas mudanças de umas metrópoles em comparação com outras.
Os capítulos do livro foram organizados em duas partes. No capítulo 1, Luiz César de Queiroz Ribeiro, Marcelo Gomes Ribeiro e Lygia Costa apresentam os pressupostos teóricos para elaboração da estratificação sócio-ocupacional considerada proxy da estrutura social. Além disso, apresentam os procedimentos metodológicos para elaboração da referida estratificação aplicada aos dados da PNAD. No capítulo 2, os mesmos autores discutem as mudanças econômicas ocorridas na sociedade brasileira na primeira década do século XXI, em especial nas suas regiões metropolitanas, com foco nas análises do mercado de trabalho e, a partir disso, discutem as mudanças de composição da estrutura social do conjunto das regiões metropolitanas. No capítulo 3, Marcelo Gomes Ribeiro realiza análise evolutiva das desigualdades de renda para o conjunto das regiões metropolitanas, relacionando com a estrutura social das metrópoles. No capítulo 4, Marcelo Gomes Ribeiro e André Ricardo Salata procuram analisar os determinantes do desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras, inclusive testando o efeito territorial metropolitano pela relação núcleo e periferia.
No capítulo 5, Érica Tavares da Silva realiza análise sobre a dinâmica populacional das regiões metropolitanas, compreendendo tanto os aspectos referentes à demografia quanto aqueles relativos aos diversos fluxos de mobilidade. Por fim, a primeira parte é encerrada com o capítulo 6, de André Ricardo Salata, em que o autor procura discutir a violência cometida por policiais em moradores de favela e em moradores de não-favela, em que o autor procura evidenciar o efeito território para as regiões metropolitanas ao considerar também a dimensão núcleo e periferia.
Na segunda parte, são apresentadas as análises sobre cada uma das regiões metropolitanas que fazem parte da Rede Observatório das Metrópoles. Nas regiões metropolitanas onde há dados com representatividade nesse nível geográfico as análises são feitas ou para o conjunto da região metropolitana ou para comparação entre núcleo e periferia metropolitana. Nas regiões metropolitanas em que não há dados disponíveis nesse nível geográfico, as análises são feitas apenas para o núcleo metropolitano, quando há correspondência entre núcleo metropolitano e capital da unidade da federação.
No capítulo 7, Inaiá Maria Moreira de Carvalho realiza análise das mudanças no mercado de trabalho e na estrutura social de Salvador, comparando com as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Curitiba. Conclui que o mercado de trabalho de Salvador apesar de apresentar uma conformação mais favorável em relação à sua trajetória histórica, observada desde os anos 1990, não foi suficiente para recuperar as perdas ocorridas no passado. Mostra também que a composição da estrutura social da região metropolitana de Salvador, se caracteriza por possuir contingente maior de pessoas nas categorias mais precárias ao se comparar as metrópoles do Sul e Sudeste.
No capítulo 8, Jan Bitoun, Lívia Miranda e Maria Rejane Souza de Britto Lyra analisam o mercado de trabalho e a estrutura social da região metropolitana de Recife, a partir de sua inserção regional. Os autores observam que, apesar de as condições ocupacionais terem ficado mais favoráveis ao longo da década, não foram suficientes para alterar a estrutura social da região metropolitana. Consideram que por decorrência dos investimentos autônomos futuros, o mercado de trabalho continuará acelerado no Estado de Pernambuco, o que contribuirá ainda mais para melhoria das condições sociais de sua população.
No capítulo 9, os autores Luís Abel da Silva Filho e Maria do Livramento Miranda Clementino realizam análise sobre o mercado de trabalho e a estrutura social de Natal. Os autores procuram evidenciar a concentração de atividades produtivas na capital do Rio Grande do Norte com forte seletividade e, a partir disso, fazem consideração sobre sua estrutura social. Os autores concluem que os principais achados denunciam relativa melhora no que concerne às taxas de ocupação da força de trabalho, mas também maiores taxas de empregos informais nos anos comparados. Adicionalmente, observam maiores taxas de desemprego para mulheres, não brancos e maior vulnerabilidade social para a força de trabalho jovem e idosa, com maior incidência na informalidade.
No capítulo 10, André Mourthé de Oliveira apresenta análise para o mercado de trabalho da região metropolitana de Belo Horizonte, considerando a formação histórica desse espaço geográfico, o que lhe conferiu característica de metrópole industrial. Além disso, busca analisar a relação do mercado de trabalho e da estrutura social da região metropolitana de Belo Horizonte. Conclui que os últimos anos da primeira década do século XXI observou-se melhoria nas condições sociais do mercado de trabalho de Belo Horizonte, considerando que elas foram decorrentes das mudanças sociais ocorridas nacionalmente.
No capítulo 11, os autores André Ricardo Salata, Marcelo Gomes Ribeiro e Lygia Gonçalves Costa realizam análise sobre o mercado de trabalho e a estrutura social da região metropolitana do Rio de Janeiro. Nessa análise buscou também evidenciar mudanças nas desigualdades de renda da referida estrutura social. Além das melhorias no mercado de trabalho confirmadas pela análise de outras regiões metropolitanas, destaca-se no texto desses autores a redução das desigualdades de renda entre as categorias sócio-ocupacionais, na medida em que aquelas que ocupam posição mais elevada na estrutura social tiveram, em média, menor remuneração que às categorias da base da estrutura social.
No capítulo 12, os autores Lucia Maria M. Bógus, Suzana Pasternak e Rafael Serrão discutem o mercado de trabalho e a estrutura social da região metropolitana de São Paulo. Em todo o texto os autores procuram analisar tanto a evolução do mercado de trabalho quanto a evolução da estrutura social da região metropolitana de São Paulo em comparação, por um lado, com o Estado de São Paulo e, por outro lado, com o município de São Paulo, a partir de dados sócio-demográficos, tais como sexo, idade, cor ou raça, escolaridade e renda.
No capítulo 13, Paulo Roberto Delgado e Marley V. Deschamps analisam a estrutura social da região metropolitana de Curitiba. Os autores tiveram como objetivo sistematizar um conjunto de informações demográficas e ocupacionais, referentes ao período 2001/2008, de modo a formular algumas hipóteses sobre possíveis alterações na estrutura social e na distribuição espacial na RMC na referida década.
No capítulo 14, Tanya M. de Barcellos e Rosetta Mammarella discutem as mudanças ocorridas no mercado de trabalho e na estrutura social da região metropolitana de Porto Alegre em comparação com o Estado do Rio Grande do Sul e com o município de Porto Alegre (núcleo da região metropolitana). As autoras observam que quanto mais urbanizado é o recorte territorial maior é o peso das categorias médias e superiores da estrutura social. Por outro lado, a participação dos trabalhadores do secundário só cresceu no Estado do Rio Grande do Sul, não sendo observado esse comportamento nem na região metropolitana tampouco no núcleo metropolitano.
No capítulo 15, Rita Petra Kallabis discute as mudanças no mercado de trabalho e na estrutura social de Goiânia em contraposição ao Estado de Goiás. Também, neste caso, foi constatado pela autora que houve melhoria nas condições sociais quando avaliadas por sua estrutura social, apesar de essas melhorias serem insuficientes para reverter o quadro de desigualdades existentes em Goiás e em Goiânia.
No capítulo 16, Rômulo José da Costa Ribeiro e Juliana Machado Coelho realizam análise do mercado de trabalho e da estrutura social de Brasília, destacando as peculiaridades dessa cidade-estado em relação às outras cidades do país. As melhorias observadas no mercado de trabalho e na estrutura social são contrastadas com outros tipos de desigualdades ainda existente na capital do país, como as desigualdades de sexo e cor ou raça.
A elaboração desse livro só foi possível por decorrência de pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles, desde 2009, financiada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), do CNPq, e que contou também com recursos da FAPERJ, além de bolsas de pesquisa oferecida pela CAPES. Por este motivo, o instituto agradece a essas instituições de fomento pelo apoio institucional oferecido. E também ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pela realização de pesquisas domiciliares amostrais em âmbito nacional, como é o caso da PNAD, o que permitiu a realização das análises que estão disponíveis nesse livro.
Segundo Marcelo Ribeiro, espera-se que as análises feitas nos capítulos dessa coletânea possam contribuir com o debate em curso na sociedade brasileira sobre as mudanças nas suas condições sociais, sobretudo, relativas às mudanças na estrutura social. “Essa é, a nosso ver, uma oportunidade de refletir sobre as mudanças mais gerais ocorridas no país, em especial em suas regiões metropolitanas, ao mesmo tempo considerar as especificidades de cada uma delas”, afirma.
Faça o download do e-book “Estrutura social das metrópoles brasileiras: análise da 1ª década do século XXI”.