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O Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB divulga a publicação do nº 44 da Revista de Ciências Sociais Política & Trabalho, que traz como destaque o “Dossiê Racismo, sociedade, cultura e política: diálogos Brasil – Portugal”, além de artigos, entrevistas, resenhas e tradução.

A Revista de Ciências Sociais Política & Trabalho é a publicação oficial do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB. Em circulação há mais de 30 anos, reflete o compromisso do PPGS-UFPB na disseminação de um debate acadêmico atualizado e de alta qualidade na área das ciências sociais. Nas suas primeiras edições, a Revista enfatizou os temas do trabalho e da política, ampliando seu escopo para a diversidade temática nas áreas da Sociologia, Política, Antropologia e Humanidades.

A Revista de Ciências Sociais – Política & Trabalho se destina a pesquisadores, estudantes e público interessado nas áreas de Sociologia, Política, Antropologia e Humanidades.


A seguir o editorial da edição nº 34, assinado pelos editores Giovanni Boaes e Flávia Ferreira Pires.

Acesse o conteúdo completo da Revista de Ciências Sociais, nº 34.

EDITORIAL

O Brasil vive momentos de grande apreensão política e social. A fusão do Ministério da Ciência e Tecnologia com o Ministério das Comunicações e os cortes orçamentários da pauta da educação afligem a Universidade de maneira particular. O avanço das políticas sociais e a mobilidade alcançada por grupos minoritários estão em suspenso. A PEC 241 ameaça os ganhos sociais dos últimos 15 anos, estes que foram fundamentais para a diminuição da pobreza e da desigualdade social, ao mesmo tempo em que a Universidade viu-se mais democrática, franqueando o acesso ao ensino universitário a uma primeira geração de brasileiros e brasileiras cujas famílias até então não tinham tido.

Os negros, em particular, conseguiram romper dificuldades seculares. Tendo em vista esse momento histórico, faz-se importante debater o racismo, tema do dossiê que integra esse novo número da Revista Política & Trabalho, que temos a satisfação de anunciar. O dossiê temático Racismo, sociedade, cultura e política: diálogos Brasil-Portugal, organizado por Cristina Matos, Universidade federal da Paraíba (UFPB\Brasil) e Marta Araújo, do Centro de Estudos Sociais (CES\Portugal), vem contribuir para esse debate, que ultrapassa as fronteiras da nação. De inspiração pós-colonialista, a questão Brasil- Colônia/Portugal-Metrópole transparece revisitada na medida em que o tráfico de escravos e a escravidão marcaram nossos territórios e modos de existir, tanto aqui quanto além-mar.

Além dos artigos do dossiê, contamos ainda com sete artigos de uma larga diversidade de filiações institucionais, temáticas e abordagens, além de duas resenhas e uma tradução.

O artigo Crise de identidade e disrupção moral: a experiência dos trabalhadores portuários avulsos de Santos no processo de modernização portuária” de Rosana Machin (USP), Márcia Thereza Couto (USP) e Eunice Nakamura (Unifesp), explora a experiência e os sentidos atribuídos pelos trabalhadores ao novo modelo de gestão portuária implementado, cujo fim era aumentar a competitividade, enfatizando eficácia e eficiência. As autoras apontam como o processo de modernização abala uma cultura de trabalho ancorada num sistema ocasional, coletivo, de ritmo irregular, essencialmente masculino e com controle do processo de trabalho particular.

Em “Da razão contraditória ao ideal ascético: o ‘trajeto antropológico’ nas Políticas Culturais”, Eduardo Portanova Barros (Unisinos) e Francisco Coelho Cuogo (Unisinos) procuram identificar as características de um ideal ascético na prática institucional das Políticas Culturais, dialogando com Maffesoli e Nietzsche.

Em “Educação, saúde e trabalho: o Programa Primeira Infância Melhor – PIM em São Lourenço do Sul/RS”, Jordana Wruck Timm (PUC-RS), Denise Castro Padilha (UFRGS) e Milena Cristina Aragão (Faculdade Estácio), revisam elementos importantes do Programa Primeira Infância Melhor, atentando para o seu impacto no que toca à educação, à saúde e ao trabalho das famílias cujas crianças são beneficiadas (zero a três anos).

Em um ensaio teórico, intitulado “Etnografia, etnologia & teoria antropológica”, Alicia Ferreira Gonçalves (UFPB) afirma que o fazer etnográfico está informado por um marco teórico-conceitual que gira em torno de três conceitos: função, estrutura e cultura, implicando, desse modo, em três concepções distintas do exercício etnográfico a partir das perspectivas de Bronislaw Malinovsky, Claude Lévi- Strauss e Clifford Geertz. O texto traz questões contemporâneas relativas ao exercício etnográfico no século XXI, marcado pelos conflitos étnicos e religiosos em países do Norte e Sul.

“‘Leviandades’ eleitorais: a abertura das cortinas para um espetáculo misógino”, de Elizabeth Christina de Andrade Lima (UFCG) e Rafael Maracajá Antonino (UFCG), problematiza a utilização do termo “leviana”, amplamente utilizado por ocasião dos debates entre os candidatos à presidência da República, ocorridos no período que antecedeu as eleições de 2014, e apresenta os discursos de misoginia dirigidos à Presidenta Dilma no ciberespaço, interpelando as relações de gênero e as redes sociais.

O artigo “O colapso das políticas de emprego no Brasil: causas e perspectivas”, de Marcelo Alvares de Sousa (MDS), debate o colapso das políticas de emprego no país através da análise da execução físico-financeira das principais políticas ativas e passivas desenvolvidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, no âmbito do Programa de Seguro Desemprego, com base nos Relatórios de Gestão do Fundo de Amparo ao Trabalhador (2004-2013).

“Um circuito chamado desejo: notas sobre os pontos de pegação em João Pessoa”, de Thiago de Lima Oliveira (UFPB),tem por base uma pesquisa etnográfica em um circuito de trocas eróticas, afetivas e sexuais chamado de pegação. Ele afirma que o espaço e os marcadores sociais da diferença estão imbricados, produzindo relações e significações mútuas a partir de economias eróticas que valorizam e (re) produzem expectativas sobre gênero, raça, classe e gerações.

Esse número da revista sinaliza, mais uma vez, nosso compromisso com as ciências sociais como área de pesquisa e diálogos, e com os rumos políticos e sociais do nosso país.

Boa leitura!

Giovanni Boaes e Flávia Ferreira Pires

Editores

 

Última modificação em 13-02-2017 18:11:32