Combate à dengue Crédito: Agência Brasília
Este artigo da Revista Cadernos Metrópole nº 36 investiga se a segmentação dos grupos sociais no tecido urbano, com acesso diferenciado aos recursos e serviços da cidade, pode influenciar na distribuição espacial e temporal dos casos de dengue. O local de estudo é o município de Campinas, no estado de São Paulo, no qual foram analisados os casos de dengue notificados durante os meses de janeiro a dezembro do ano de 2014. Para tanto, foram aplicadas ferramentas de geoprocessamento e análise espacial. As conclusões indicaram que a desigualdade social pode estar condicionando a distribuição dos casos de dengue em conjunto com outros fatores que contribuíram à deflagração da maior epidemia registrada na história de Campinas até então.
O artigo “Desigualdade social intraurbana: implicações sobre a epidemia de dengue em Campinas, SP, em 2014”, de autoria de Igor Cavallini Johansen, Roberto Luiz do Carmo e Luciana Correia Alves, é um dos destaques do dossiê “A Saúde na Cidade”, presente na edição nº 36 da Revista Cadernos Metrópole.
Abstract
This paper investigates whether the segmentation of social groups in the urban fabric, with differential access to the city’s resources and services, can influence the spatial and temporal distribution of dengue cases. The study’s site is the city of Campinas, state of São Paulo, in which we analyzed the dengue cases reported from January to December 2014. For this purpose, geoprocessing and spatial analysis tools were applied. The findings indicated that social inequality could be conditioning the distribution of dengue cases in conjunction with other factors that contributed to the occurrence of the largest epidemic recorded in Campinas so far.
INTRODUÇÃO
A dengue representa um grande problema de saúde pública em regiões tropicais e subtropicais do planeta. Trata-se de uma doença viral transmitida por mosquitos que apresentou um aumento de 30 vezes em sua incidência global nos últimos 50 anos. A Organização Mundial de Saúde estima que ocorram entre 50 e 100 milhões de infecções a cada ano e que quase metade da população mundial reside em países onde a dengue é endêmica (OMS, 2012).
Os mosquitos vetores dessa doença, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, são altamente adaptados às dinâmicas sociais e ao ambiente das cidades, o que faz da dengue uma enfermidade típica de áreas urbanas com características específicas. O desenvolvimento do mosquito necessita de espaços com água parada e limpa, apesar de também já terem sido encontrados ovos do vetor em água suja, o que demonstra sua grande capacidade adaptativa a condições adversas (Tauil, 2002; Andrade, 2009).
O padrão de urbanização brasileiro e latino-americano baseia-se na distribuição desigual do acesso aos recursos e serviços urbanos entre os grupos sociais que ocupam os diferentes espaços intraurbanos. Cita-se, a título de ilustração, o abastecimento irregular de água, assim como a coleta de lixo que, quando existe, é quase sempre acompanhada pela destinação inadequada – como lixões a céu aberto em vez de aterros sanitários. Em geral os grupos populacionais com acesso restrito à infraestrutura urbana são aqueles em piores condições socioeconômicas e residentes em áreas de ocupação, espaços produzidos por um processo de urbanização acelerado, incompleto e desigual (Costa e Monte-Mor, 2002; Marica- to, 2003; Bueno, 2008; Rolnik, 2009).
Essas condições ambientais urbanas favoráveis ao vetor da dengue são também potencializadas pela gestão inadequada dos ambientes domésticos por parte da própria população, que não atribui a atenção necessária à água acumulada em vasos de plantas, baldes e calhas. Conjuntamente, (des)organização urbana e comportamento humano são fatores-chave para compreender a manutenção e expansão do vetor da dengue nas cidades da América Latina como um todo e no Brasil em particular (Satterthwait, 1993; Castro, 2012; OMS, 2012).
Vários pesquisadores analisaram as epidemias de dengue no Brasil. Barreto et al. (2011) indicaram que as taxas de incidência e o número de municípios com alta densidade de mosquitos aumentaram dramaticamente no País durante os últimos 30 anos. Isso ocorre porque o número de municípios com elevada densidade de Aedes aegypti – que é o principal transmissor da doença nas Américas (Barreto e Teixeira, 2008) – tem aumentado constantemente entre 1985 e 2010.
Campinas é o maior município em volume populacional e espaço geográfico da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Conta com mais de 1,1 milhão de habitantes (IBGE, 2014) e área de 795 km2 (IBGE, 2015). Está localizado a 95 km da capital do Estado, a cidade de São Paulo. No ano de 2014, foram notificados mais de 42 mil casos autóctones de dengue em Campinas, maior registro de casos da doença na história do município até então e também maior número de notificações ante outros municípios brasileiros naquele ano.
A proposta deste trabalho é investigar se a segmentação dos grupos sociais no tecido urbano, com acesso diferenciado aos recursos e serviços da cidade, pode influenciar na distribuição espacial e temporal dos casos de dengue. O local de estudo é o município de Campinas, no estado de São Paulo, no qual foram analisados os casos de dengue notificados durante os meses de janeiro a dezembro do ano de 2014.
Acesse o artigo completo na Revista Cadernos Metrópole nº 36.
Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 15-06-2016 19:47:30