Como analisar e compreender os desertos alimentares sob a ótica do planejamento urbano? A partir dessa pergunta, Marina Sutile de Lima, pesquisadora do Núcleo Curitiba, desenvolveu a sua dissertação de mestrado intitulada “Desertos alimentares em Curitiba: espacialização do fenômeno na metrópole”.
A pesquisa visa compreender o conceito de deserto alimentar, as variáveis urbanas, econômicas e sociais que o conformam, de modo a transferi-lo e ajustá-lo à realidade brasileira. Dentre os objetivos específicos, busca-se a aplicação desse novo conceito, ainda pouco explorado no Brasil, e a verificação de sua capacidade explicativa para a realidade da metrópole de Curitiba, um contexto diferente daquele para o qual o conceito teve origem.
No trabalho, a pesquisadora desenvolve a identificação do uso de instrumentos e ferramentas do planejamento urbano em prol da mitigação dos desertos alimentares e melhoria do sistema alimentar das cidades, visando compreender como esses assuntos podem ser inseridos na pauta do planejamento urbano e da gestão urbana.
Defendida no âmbito doPrograma de Pós-Graduação em Planejamento Urbano da Universidade Federal do Paraná (PPU/UFPR), a dissertação foi orientada por Olga Lucia de Freitas-Firkowski, pesquisadora do Observatório das Metrópoles Núcleo Curitiba.
Confira a apresentação dos principais pontos do trabalho:
A que pergunta a sua pesquisa responde?
Como se dá a espacialização dos desertos alimentares na metrópole de Curitiba?
Por que isso é relevante?
Os desertos alimentares são a materialização física de parte de um problema maior, a crescente insegurança alimentar nas cidades. Cada vez mais as populações urbanas se deparam com complicações de saúde relacionadas à má alimentação, sem esquecer ainda da porção da população que vive em situação de vulnerabilidade e defronta a fome e a insegurança alimentar cotidianamente em seus diversos níveis. Nesse cenário, surgiu, no âmbito internacional, a discussão sobre os food deserts, ou desertos alimentares: regiões nas cidades onde o acesso físico e/ou econômico à alimentação saudável é desigual e reduzido, agravando a insegurança alimentar da população que vive nesses locais. Nesse contexto, esse trabalho se propõe a compreender o conceito de deserto alimentar, as variáveis urbanas, econômicas e sociais que o conformam, de modo a transferi-lo e ajustá-lo à realidade brasileira. O objetivo geral é analisar e compreender os desertos alimentares sob a ótica do planejamento urbano.
Qual o resumo da pesquisa?
A insegurança alimentar no Brasil tem sido um tema recorrente de discussão e pesquisa nas áreas de saúde pública e nutrição, envolvendo novos conceitos. Esse não é um tema novo para um país como o Brasil, que convive com o flagelo da fome continuamente, mas novas compreensões delimitam melhor o problema e possibilitam diferentes abordagens, tais como a do planejamento urbano – ao que se propõe a presente pesquisa. Dentre os novos conceitos está o de food deserts, ou desertos alimentares: áreas onde o acesso físico ou econômico à compra de alimentos saudáveis é desigual e reduzido, o que contribui para as disparidades na dieta e na saúde da população, relacionando-se diretamente com a insegurança alimentar nas cidades. As pesquisas já realizadas sobre o tema apontam a necessidade de adequação do conceito e das metodologias internacionais ao contexto brasileiro, bem como de mapeamentos e estudos locais mais aprofundados. Com base nessa problemática, construiu-se a questão principal da pesquisa: compreender como se dá a espacialização dos desertos alimentares na metrópole de Curitiba. Os resultados obtidos indicam que os desertos alimentares estão presentes em toda a metrópole, em áreas urbanas e rurais, pobres e ricas, com melhores e piores índices de qualidade urbana. Contudo, são nas áreas periféricas e periferizadas, de recente subcentralização, em que o fenômeno se apresenta em sua forma mais grave. Constatou-se que o processo de produção da cidade e do espaço urbano desempenha um papel relevante na conformação dos desertos alimentares.
Quais foram as conclusões?
Os desertos alimentares estão presentes em maior peso e em maior gravidade em áreas que estão sujeitas a processos intrínsecos à metropolização, tais como conurbação com a cidade polo, integração por motivos de trabalho e estudo gerando movimentos pendulares, periferização e subcentralização. O fato de Curitiba e outros municípios populosos e desenvolvidos encabeçarem a Taxa Municipal De Desertos Alimentares no recorte estudado contribui para a compreensão de que a existência dos desertos alimentares está associada a contextos urbanos minimamente dotados de infraestrutura, mas, paradoxalmente, que não proporcionam acesso econômico e físico ao alimento saudável. Ou seja, do ponto de vista do planejamento urbano, além de não existirem infraestruturas e equipamentos suficientes, os que existem não dão conta de atender com qualidade a população que reside em seu entorno.
Os desertos alimentares da metrópole de Curitiba são físicos, econômicos e sociais. Se manifestam em todo o território metropolitano, tanto em áreas centrais, de alto valor da terra e de maior renda, como em regiões periféricas, de população mais pobre, de menos infraestrutura e acesso à cidade. Ainda, as áreas que denotam maior gravidade são aquelas sujeitas à periferização e recente subcentralização, de forte integração com a metrópole e de alta densidade populacional. Devido a esses resultados, pode-se concluir também que o processo de produção da cidade e do espaço urbano desempenha um papel relevante na conformação dos desertos alimentares, pois se soma a uma série de precariedades que são características da realidade urbana e metropolitana do Brasil, com condições de segregação socioespacial, desigualdade, precarização e periferização.
Quem deveria conhecer seus resultados?
Como forma de contribuir mais para a mitigação dos desertos e tornar público o resultado obtido nesta pesquisa, espera-se divulgar os resultados obtidos para agentes tomadores de decisão no âmbito da segurança alimentar local e regional, tais como membros da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba, Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná, IPPUC e COMEC.
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